ESTUDANDO O CRISTIANISMO 9A
9 0 PRECURSOR
9.3 O NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA E O CÂNTICO DE ZACARIAS
Outro aspecto que gostaríamos de salientar é o que se relaciona ao nascimento de João Batista. Como já dito anteriormente, por ocasião da concepção do Precursor, Zacarias ficara mudo. Todos os ligados àquele casal, com certeza tomaram conhecimento do fato, estranhando o acontecido. Sucedeu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. Isabel, respondendo, disse que o nome do menino seria João. Todos admiraram e questionaram o porquê dá-lo o nome de João, se não havia ninguém da família com este nome. Resolveram, então, perguntar, por acenos, a Zacarias, que, escrevendo em uma tabuinha confirmou o nome de João, cumprindo à profecia do Anjo. Após este acontecimento, a boca de Zacarias se abriu e ele, cheio do Espírito Santo, profetizou:
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo; e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometera, desde antigüidade, por boca dos seus santos e profetas, para nos libertar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança, e do juramento que fez ao nosso pai Abraão, de conceder-nos que, livres da mão de inimigos, o adorássemos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias. Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados; graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
Aqui, faremos, novamente, uma breve pausa para alguns apontamentos. Zacarias não era profeta, embora tivesse conhecimento das profecias, portanto não podia ter tanta certeza de que aquele menino seria o Precursor, mesmo porque, se assim o fizesse, poderia colocar a perder a credibilidade a qual João deveria estar investido para a sua pregação e se percebermos a profundidade da fala de Zacarias, o alcance que elas deveriam atingir e a autoridade com elas foram proferidas, denotam, claramente, que elas não podiam ter saída da boca de um homem simples, embora sacerdote, mas que meses antes havia ficado em dúvida com o aviso do Anjo. Por isso, o Evangelista chama-nos a atenção ao dizer que Zacarias estava cheio do Espírito Santo, ou seja, possuído pelo Espírito Santo, quando fez a profecia que acabamos de ler. Este fato só ratifica o entendimento que temos sobre o Espírito Santo, que para nós, espírita, nada mais é do que a faculdade denominada de Mediunidade L.E. faculdade mediúnica, que a todos é dada, por ocasião do nosso nascimento. Temos o canal de ligação entre os dois planos da vida, o Espiritual e o material, ou seja, a faculdade que possibilita o intercâmbio entre o encarnado e o desencarnado. O fato de Zacarias estar cheio do Espírito Santo, acreditamos que ele entrou em sintonia com os espíritos superiores, que normalmente estavam no local, por ocasião do advento, e foi por isso que Zacarias teve sua boca aberta e fez soar por ela informações a que ele não tinha conhecimento. Portanto, certamente Zacarias foi intuído pelos Espíritos Superiores, ali presentes, com a finalidade de informar que naquele momento várias profecias estariam sendo cumpridas, como a de Malaquias, registradas em Ml 3.1: Vou mandar o meu Mensageiro para preparar o meu caminho. E, imediatamente, virá ao seu templo o Senhor o que vós buscais, o anjo da aliança que desejais. E que todos deveriam ver em João aquele que viria abrir as veredas para a chegada do Messias, tão esperado pelos Judeus.
9.4 JOÃO BATISTA E ELIAS
Outro ponto que merece as nossas considerações é os relatados em II Reis 3 1 a 15:
Quando estava o Senhor para tomar Elias ao céu por um redemoinho, Elias partiu de Gilgal em companhia de Eliseu. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel. Respondeu Eliseu: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim desceram a Betel. Então os discípulos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor, elevando-o por sobre a tua cabeça? Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Jericó. Porém ele disse: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim foram a Jericó. Então os discípulos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe disseram: sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor elevando-o por sobre tua cabeça? Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse-lhe, pois, Elias: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou ao Jordão. Mas ele disse: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim, ambos foram juntos. Foram cinqüenta homens dos discípulos dos profetas, e pararam a certa distância deles; eles ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou o seu manto, enrolou-o, e feriu as águas, as quais se dividiram para as duas bandas: e passaram ambos a seco. Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: pede-me o queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse Eliseu: peço-te que me toque por herança porção dobrada do te espírito. Tornou-lhe Elias: dura coisa pediste. Todavia se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém se não me vires, não se fará. Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e tomando as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Então levantou o manto que Elias lhe deixara cair e, voltando-se, pôs-se à borda do Jordão. Tomou o manto que Elias lhe deixara cair, feriu as águas, e disse: onde está o Senhor Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram para uma e outra banda, e Eliseu passou.Vendo-o, pois, os discípulos dos profetas que estavam, defronte, em Jericó, disseram: o espírito de Elias repousa sobre Eliseu. Vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra.
Os críticos contumazes do Espiritismo vêem nessa passagem uma poderosa aliada para descaracterizar o processo reencarnacionista, pois, a partir dela, e através de recursos falaciosos, tentam colocar em dúvida a reencarnação um dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita alegando que para que haja reencarnação, antes, porém, faz-se necessário que haja o desencarne. Como justificar, então, o fato de que João seria a reencarnação de Elias, já que Elias não desencarnou e sim foi arrebatado vivo ao céu, em uma carruagem de fogo?
Com relação ao maravilhoso registrado nessas passagens do Antigo Testamento, nos dando conta de que Elias subiu vivo ao céu, a razão concita-nos ao raciocínio e a ciência chama-nos à razão, para a impossibilidade de um corpo humano elevar-se às alturas, sem que para isso seja alçado por algum instrumento. Isto tudo obriga-nos a deitar nossos olhos sobre estes versículos, procurando extrair, sem paixões, as informações que subjazem a essas letras mortas, revelando os tesouros que há muito tempo ficaram escondidos nas entrelinhas dessas escrituras sagradas, comprovando que não há milagres, segundo as leis divinas e naturais, e que a Doutrina Espírita, ha seu tempo, veio desvendar para todos aqueles que debruçam seus olhares, sem preconceitos, sobre os seus livros confortadores e esclarecedores de nossas almas sedentas de amor e compreensão.
Se detivermos em algumas informações contidas no diálogo de Elizeu e Elias, depararemos com informações esclarecedoras para nós, que acreditamos na imortalidade da alma e nos dons mediúnicos.
Observando os relatos registrados em II Reis 2: 1 a 15, podemos detectar pontos importantes a serem analisados: como introdução à análise, busquemos o narrador dos fatos. Sabemos que o narrador da passagem não foi Eliseu, porque informações nos dão conta de que os livros de Reis, - antes era apenas um livro, quando escrito em hebraico, dividido em dois quando passou para versão grega, teria sido escrito por um profeta da época de Jeremias e outras, ainda, que foi o próprio profeta Jeremias quem o escreveu.
Esta constatação leva-nos a um distanciamento necessário para uma análise mais detida dessas informações. Inicialmente, acreditamos que algumas perguntas se fazem necessárias. Como o narrador nos dá tantos detalhes de conversas tão particulares? As informações contidas na narrativa são oriundas de conhecimentos compartilhados e passadas de pessoas para pessoas, através da oralidade ou são oriundas de entidades do plano espiritual, transmitidas pelo contato mediúnico, já que o autor do relato era um profeta?
Julgamos ser a segunda opção a mais adequada, por acreditarmos na imortalidade da alma e no contato do mundo físico e mundo espiritual, através da mediunidade.
Vejamos alguns pontos.
A narrativa fala da jornada efetuada por Elias e Elizeu, partindo de Gilgal até o Jordão. Vejamos alguns pontos dessa narrativa. Estando em Gilgal, Elias diz a Elizeu Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Betel. Ao pedido Elizeu responde: Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei. Já em Betel, sem nenhum outro fato narrado do trajeto, os profetas abordam Elizeu perguntando Não sabes que Senhor arrebatará hoje o teu mestre, por sobre tua cabeça? Respondeu Elizeu, Sim, eu sei, calai-vos! Novamente, Elias pede a Elizeu: Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Jericó. Ao que novamente Elizeu responde: Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei. Novamente em Jericó, o fato se sucede. Os filhos dos profetas que estavam em Jericó aproximaram-se de Elizeu e perguntaram: não sabes que o Senhor arrebatará hoje o teu mestre por sobre tua cabeça? Eliseu responde a mesma coisa: Sim, eu sei, calai-vos! Elias, pela terceira vez. suplica a Elizeu: Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia ao Jordãol. Ao pedido Elizeu responde: Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.
Os dois se foram. Chegando ao Jordão, escoltados a distância por cinqüenta filhos dos profetas, Elias, enrolando seu manto, bateu-o nas águas que se abriram e os dois passaram a pé enxuto.
O que podemos deduzir, tendo a Doutrina Espírita como base, é a de que a presença de Elias era em espírito, como aconteceu com Jesus no caminho de Emaús, conforme narrativa de Marcos E depois, manifestou-se noutra forma a dois deles, que iam de caminho para o campo. Por isso a advertência de Elizeu aos filhos dos profetas, quando indagado se ele sabia que Elias seria arrebatado sobre sua cabeça: Sim, eu sei, calai-vos! Dessa possibilidade de leitura compreendemos quando Elias afirma a Elizeu que lhe pede seja-me concedida uma porção dobrada de teu espírito. E Elias responde: Pedes uma coisa difícil, replicou Elias. Entretanto, se me vires quando eu for arrebatado de ti, isto te será dado. Porque, em primeiro lugar, virtude não se transfere, por isso, em seguida, Elias acena para a possibilidade da faculdade da vidência, afirmando que se ele conseguisse enxergar a elevação do seu espírito ao céu, poderia certamente entrar em contato sempre com o mundo espiritual, de onde são emanados todas as informações necessárias e ele estaria apto a transmiti-la aos seus discípulos que o seguiria como um sucessor de Elias. E foi exatamente isso que aconteceu quando, após a elevação de Elias, Elizeu de posse de sua capa bateu-a sobre as águas do Jordão para que elas se abrissem, o que não aconteceu, mas quando elevou seu pensamento a Deus e repetiu o gesto as águas se abriram e os filhos dos profetas exclamaram que o espírito de Elias estava sobre Elizeu. Para ilustrar nossa dedução recorramos, novamente, a Marcos quando Jesus, já ressuscitado, disse aos seus apóstolos: ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demônios: falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi levado ao céu, e assentou-se à direita de Deus. Aqui também não foram transferidas as virtudes de Jesus para os seus apóstolos, mas a eles foram dadas condições para fazer todas aquelas coisas e muitas mais, mas tudo em nome de Jesus, que é o Senhor e Mestre. Também aqui temos o arrebatamento de Jesus aos céus e com certeza todos os apóstolos e discípulos viram, pois estavam cheios do Espírito Santo, mas nos evangelhos não constam que outras pessoas viram o arrebatamento de Jesus e nem o arrebatamento de Elias, o que corrobora com nossa visão de que Elias estava em espírito, pois, se assim não fora, como explicar o porquê que os filhos dos profetas não tenham visto este acontecimento tão esperado e tão magnificamente espantoso, estando ali, tão próximo, na outra margem do Jordão, bastando apenas levantar os olhos para o Céu.
Sigmar Gama
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