quinta-feira, 16 de julho de 2015

Estudos sobre Mediunidade 16

CAPÍTULO 14

PERIGOS E INCONVENIENTES,

PERDA E SUSPENSÃO DA FACULDADE MEDIÚNICA

PERIGOS E INCONVENIENTES DA FACULDADE MEDIÚNICA

Após uma centena de anos recebendo os mais variados ataques, que iam da fraude às manifestações demoníacas, surgem novos opositores que não discutem quanto à existência do fenômeno mediúnico espírita, somente acham que a prática da mediunidade é suscetível de levar para caminhos perigosos quem a ela se dedicar. Não se pode negar que o Espiritismo, na sua parte prática, realmente oferece perigos aos imprudentes que, sem estudo e preparo, sem método adequado e sem proteção eficaz, se lançam a aventuras experimentais por passatempo ou frívola diversão, atraindo, para si, elementos inferiores do mundo invisível cuja influência maléfica fatalmente sofrerão.

Estes perigos, no entanto, são por demais exagerados pelos detratores da Doutrina Espírita, a fim de desestimular a aproximação do homem da fonte capaz de matar-lhe a sede de conhecimento acerca de seu destino futuro, terreno este, que foi monopolizado pelas religiões tradicionalistas, as quais não suportam o mais leve exame da lógica e da razão.

Há necessidade de precaução em toda prática ou experimentação que se faça. Ninguém, por exemplo, sem ter conhecimento, pelo menos rudimentar, sobre Química, entraria em um laboratório e se poria a manipular substâncias desconhecidas, a não ser que quisesse colocar em risco sua segurança e a sua saúde. Qualquer coisa poderá ser boa ou má, conforme o uso que se lhe der. É injusto, porém, ressaltar os possíveis perigos da mediunidade sem assinalar os extraordinários benefícios que propicia, dentre os quais, a comprovação da imortalidade da alma, ponto que sozinho é suficiente para anular a angústia natural do homem, transmitindo-lhe a certeza da continuidade da vida após a sepultura.

Nenhum progresso, nenhum avanço, nenhuma descoberta se alcança sem esforço, sem sacrifícios e sem certos riscos. Se os grandes navega¬dores não tivessem tentado suas viagens através dos oceanos, enfrentando o desconhecido e as forças naturais, até hoje, permaneceríamos vivendo em núcleos isolados ainda de forma primitiva, porque a falta de entrosamento e de troca de experiência nos manteria nos limites tradicionalistas, herdados de nossos antepassados. No oceano do mundo invisível palpitam outros seres, outras sociedades, outros mundos que estão à nossa espera, e dos quais nos chegam os informes, pelo correio da mediunidade, para que deles usufruamos a experiência vivida.

Deus nos colocou em um verdadeiro oceano de vida, que é um reservatório inesgotável de energias e, dando-nos a inteligência, a consciência e a razão, quis Ele que conhecêssemos essas forças e aprendêssemos a manipulá-las, convenientemente, para nosso benefício espiritual. Este exercício constante permite que nós mesmo nos desenvolvamos até alcançar o império sobre a Natureza, o domínio do Espírito sobre a matéria.

"Essa conquista é o mais elevado objetivo a que possamos consagrar a nossa vida. Em vez de afastar dele o homem, ensinemos-lhe a caminhar ao seu encontro, sem hesitação. Estudemos, escrutemos o Universo em todos os seus aspectos, sob todas as formas."

As dificuldades da experimentação mediúnica estão em proporção com o desconhecimento das leis psíquicas que regem os fenômenos, desconhecimento este que mergulha o homem em um lago de ignorância ou no estímulo para a criação de crendices e absurdos nas quais procura se agarrar.

"Em tais condições, pode acontecer que a experimentação espírita reserve numerosas ciladas, muito mais, entretanto, aos médiuns que aos observadores. O médium é um ser nervoso, sensível, impressionável; e envolto numa atmosfera de calma, de paz e benevolência, que só a presença dos Espíritos adiantados pode criar. A prolongada ação fluídica dos Espíritos inferiores lhe pode ser funesta, arruinar-lhe a saúde, provocando os fenômenos de ob¬sessão e possessão..." (No Invisível, Cap. XXII)

Todo cuidado que tomarmos, incentivando-nos ao conhecimento pelo estudo e ao aperfeiçoamento moral pela prática das virtudes cristãs, será o cumprimento tão somente dos nossos deveres perante a mediunidade.

"É necessário adotar precauções na prática da mediunidade. As vias de comunicação que o Espiritismo facilita entre o nosso mundo e o mundo oculto, podem servir de veículos de invasão às almas perversas que flutuam em nossa atmosfera, se lhes não soubermos opor resistência vigilante e firme. Muitas almas sensíveis e delicadas, encarnadas na Terra, têm sofrido em conseqüência de seu comércio com esses Espíritos maléficos, cujos desejos, apetites e remorsos os atraem constantemente para perto de nós."(idem)

Pela lei de afinidade vibratória que condiciona o enlace psíquico entre a criaturas, criando a simpatia e a antipatia, constantemente estamos rodeados de entidades atraídas a nós pelo nosso "hálito mental", que, se mau, atrairá os maus, se bom, atrairá os bons.

"As almas elevadas sabem mediante seus conselhos, preservar-nos dos abusos, dos perigos, e nos guiar pelo caminho da sabedoria; mas sua proteção será ineficaz, se por nossa parte não fizermos esforços para nos melhorarmos. É destino do homem desenvolver suas forças, edificar ele próprio sua inteligência e sua consciência. É preciso que saibamos atingir um estado moral que nos ponha ao abrigo de toda agressão das individualidades inferiores. Sem isso, a presença de nossos guias será impotente para nos salvaguardar."(Idem)

Assim, pois, não basta apenas que os mentores nos queiram defender; antes de mais nada, é preciso que saibamos nos conservarmos em permanente elevação de propósitos, de pensamentos, de idéias e de ações. Caso contrário, estaremos sujeitos à obsessão, que é a ação persistente de um mau Espírito determinando uma influência perniciosa sobre o estado de equilíbrio psíquico da criatura e até sobre sua saúde física. É a moral descuidada e menosprezada gerando estados lastimáveis de Espírito e de corpos também.

Mediunidade e Estados Patológicos

No início do Movimento Espírita, observações superficiais, constatando o grande número de pessoas desequilibradas, levantaram a hipó¬tese de que a mediunidade seria um estado patológico, ou seja, doença da mente do médium. Perguntados sobre a questão, eis como os Espíritos responderam:
a faculdade mediúnica é um estado "anômalo, às vezes, porém, não patológico; há médium de saúde robusta; os doentes os são por outras causas." [LM-cap XVIII]

Acreditava-se também que o exercício prolongado da faculdade mediúnica produzia alguma fadiga sobre o médium e que isto podia ser motivo de contra-indicar o seu uso. Note-se, porém, que o uso de qualquer faculdade por tempo prolongado causa o cansaço e a fadiga, porém, estes serão do corpo, do organismo do intermediário e nunca do Espírito, que até se fortalecerá de acordo com a natureza do trabalho que efetue.

Atualmente, as pesquisas no campo da Parapsicologia já evidenciaram o fato aceito e preconizado pelo Espiritismo há mais de cem anos: "Os fenômenos paranormais não são patológicos" [Robert Amadou - Parapsicologia, VI parte, Cap. IV, nº 5]; "Até hoje nada indicou qual¬quer elo especial entre funções psicopatológicas e parapsicológicas" [J.B. Rhine, Fenômenos e Psiquiatria, pg 40].

"Poderia a mediunidade produzir a loucura?

R. Não mais do que qualquer outra coisa, desde que não haja predisposição para isso, em virtude de fraqueza cerebral. A mediunidade não produzirá a loucura, quando esta já não exista em gérmen; porém, existindo este, o bom-senso está a dizer que se deve usar de cautelas, sob todos os pontos de vista, porquanto qualquer abalo pode ser prejudicial."[LM-capXVIII]

O que se observa na prática é a existência de inúmeros casos, que são rotulados como doença mental segundo os cânones científicos, eu que nada mais é que simples perturbação espiritual, que tratada convenientemente, cede por completo.

Há casos em que a mediunidade não encarada como merecedora de cuidados especiais, gera obsessões de curto, médio e longo cursos, que somente um tratamento adequado e paciencioso poderá resolver. Assim, nem todos os que apresentam sintomas de desequilíbrio psíquico devem ser encarados como médiuns em potencial, e até, pelo contrário, não se deve estimular o exercício mediúnico nas pessoas de caracteres impressionáveis e fracos, a fim de evitar consequências desagradáveis.

"Do seu exercício cumpre afastar, por todos os meios possíveis, as que apresentem sintomas, ainda que mínimos, de excentricidade nas idéias, ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porquanto, nessas pessoas, há predisposição evidente para a loucura, que se pode manifestar por efeito de qualquer sobreexcitação."(Idem)

Mediunidade na Infância

Outro perigo e inconveniente da mediunidade é estimulá-la nas crianças. Embora boa parte do material que serviu para fundamentar a Doutrina Espírita tenha vindo através da mediunidade de inocentes jovens, despreparadas intelectualmente para desempenharem papel ativo nas comunicações, devemos levar em conta que o fato se dava à revelia das próprias médiuns, pois os fenômenos tinham caráter eminentemente espontâneo. Aquelas crianças que manifestarem espontaneamente a faculdade, devem ser cercada de cuidados especiais, procurando, por to¬dos os meios, evitar seu incentivo, buscando instruí-las e formar sua personalidade. Somente depois que elas venham a amadurecer orgânica e psicologicamente é que se deve orientar o seu desenvolvimento mediúnico propriamente dito.

"Haverá inconveniente em desenvolver-se a mediunidade nas crianças?

R. Certamente e sustento mesmo que é muito perigoso, pois que esses organismos débeis e delicados sofreriam por essa forma grandes abalos, e as respectivas imaginações excessiva sobre-excitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas idéias, ou, quando nada, não lhes falar do assunto, senão do ponto de vista das conseqüências morais."(Idem)

PERDA E SUSPENSÃO DA FACULDADE MEDIÚNICA

As características de quem abusa do exercício mediúnico são:

- acreditar-se privilegiado por possuir a faculdade;

- não atender às solicitações de estudo da Doutrina;

- achar que o guia espiritual ensina tudo;

- não ter horário para trabalhar mediunicamente, entregando-se à prática a qualquer hora, ocasião e local;

- fazer trabalhos mediúnicos habitualmente em casa domiciliar;

- cobrar monetária ou moralmente pelos bens que eventualmente possa obter pela faculdade mediúnica.

O médium que emprega mal a sua faculdade está se candidatando:

- a ser veículo de comunicações falsas;

- a ser vítima dos maus Espíritos;

- à obsessão;

- a se constituir em veículo de idéias fantasiosas nascidas de seu próprio Espírito orgulhoso e pretensioso;

- à perda ou suspensão da faculdade mediúnica.

A faculdade mediúnica pode ser retirada em determinadas circunstâncias da vida?

Eis a resposta de Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier:

"Os atributos medianímicos são como os talentos do Evangelho. Se o patrimônio divino é desviado de seus fins, o mau servo torna-se indigno da confiança do Senhor da seara da verdade e do amor. Multiplicados no bem, os talentos mediúnicos crescerão para Jesus, sob as bênçãos divinas; todavia se sofrem o insulto do egoísmo, do orgulho, da vaidade, da exploração inferior, podem deixar o intermediário do invisível entre as sombras pesadas do estacionamento, nas mais dolorosas perspectivas de expiação, em vista do acréscimo de seus débitos irrefletidos." [O Consolador-qst389]

Existem casos em que a interrupção demonstra uma prova de benevolência do Espírito protetor para com o médium, segundo nos esclarece Allan Kardec [LM-it 220]. Nesta situa¬ção, há três aspectos a considerar:

1º - Quando o Espírito amigo e protetor quer provar que a comunicação mediúnica não depende dele, médium, e que assim, este não se deve vangloriar ou envaidecer;

2º - Quando o médium está debilitado fisicamente e precisa de repouso;

3º - Quando se fizer necessário por à prova a paciência e a perseverança do médium ou lhe dar tempo para meditar nas instruções recebidas dos Espíritos.

Como vemos, a mediunidade pode ser considerada como verdadeiro instrumento de redenção da criatura humana, que, ao usá-la com dignidade e coração, tem oportunidade de exercitar as virtudes cristãs como a humildade, o perdão, o amor e a caridade.

Sendo uma faculdade como as outras que possuímos, pode de uma hora para outra sofrer interrupções. Isto acontece porque a produção mediúnica ocorre através do concurso dos Espíritos, sem eles nada pode o médium; a faculdade continua a existir em essência mas os Espíritos não podem ou não querem se utilizar daquele instrumento mediúnico.

Os bons Espíritos se afastam dos médiuns por vários motivos.

Analisemos alguns:

a) Advertência: quando o médium se serve da faculdade mediúnica para atender a coisas frívolas ou com propósitos ambiciosos e desvirtuados.

Como coisas frívolas, citamos a prática dos "ledores da sorte". Infelizmente, este desvirtuamento da verdadeira prática mediúnica existe em larga escala, e, mais cedo ou mais tarde, tais médiuns terão que prestar contas ao Senhor da aplicação feita dos talentos recebidos.

Os chamados "profissionais da mediunidade" não se agastam em receber pagamentos, quer sob a forma de dinheiro, presentes, favores, privilégios ou até mesmo dependência afetiva ou emocional.

Recordemos as palavras do Espírito Manoel Philomeno de Miranda:

"(...) o médium, habituando-se aos negócios e interesses de baixo teor vibratório, embrutece-se, desarmoniza-se (...). A mediunidade com Jesus, liberta, edifica e promove moralmente o homem, enquanto que, com o mundo, aturde, escraviza e obsidia a criatura." [Seara do Bem, Profissionais da Mediunidade]
Quando os Espíritos que sempre se comunicam por um determinado médium deixam de o fazer, o fazem para provar ao médium e a todos que eles são indispensáveis, e que, sem o seu concurso simpático, nada se obterá. Muitas vezes, tal atitude se prende à forma pela qual o mé¬dium vem se conduzindo, deixando a desejar sob o ponto de vista moral e doutrinário.

Geralmente, este tipo de suspensão é por algum tempo e a faculdade volta a funcionar, cessada a causa que motivou a suspensão.

b) Benevolência: quando as forças do médium estão esgotadas e seu poder de defesa fica reduzido, para que não caia como presa fácil nas mãos de obsessores, sua faculdade é suspensa, temporariamente, até que volte aos seu estado normal e possa exercitar com eficiência. Assim,

"A interrupção da faculdade nem sempre é uma punição, demonstra às vezes a solicitude do Espírito para com o médium, a quem consagra afeição, tendo por objetivo proporcionar-lhe um repouso material de que o julgou necessitado, e neste caso não permite que outros Espíritos o substituam." [LM-it 220]

Léon Denis [No Invisível IV] afirma que:

"A intensidade das manifestações está na razão direta do estado físico e mental do médium. A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua faculdade. Conhecemos um grande número de médiuns que gozam perfeita saúde; temos notado mesmo que, quando a saúde se lhes altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam de se produzir."

Por que sinal se pode reconhecer a censura na interrupção da mediunidade?

"Que interrogue o médium a sua consciência e pergunte a si mesmo que uso tem feito da sua faculdade, que benefícios têm resultado para os outros, que proveito tem tirado dos conselhos que lhe deram, e terá a resposta." [LM-it 220]

Vianna de Carvalho nos diz que

"O mau uso da faculdade mediúnica pode entorpecê-la e até mesmo fazê-la desaparecer, tornando-se para o seu portador, um verdadeiro prejuízo, uma rude provação. Algumas vezes como advertência, interrompe-se-lhe o fluxo medianímico e os Espíritos superiores, por afeição ao médium, permitem que ele perceba, a fim de mais adestrar-se, buscando descobrir a falha que propiciou a suspensão, restaurando o equilíbrio; outras vezes, é-lhe concedida com o objetivo de facultar-lhe algum repouso e refazimento.

c) Provação: quando o médium, apesar de se conduzir com acerto, ter o merecimento por boa conduta moral e não necessitar de descanso, tem suas possibilidades mediúnicas diminuídas ou interrom-pidas, Allan Kardec nos diz que:

"Servem para lhes por a paciência à prova e para lhes experimentar a perseverança. Por isso é que os Espíritos nenhum termo, em geral, assinam, à suspensão da faculdade mediúnica; é para verem se o médium desanima. Muitas vezes, serve também para lhes dar tempo de meditar as instruções recebidas.

Outra causa é quando o médium não aproveita as instruções nem os conselhos que os protetores espirituais propiciam. O Espírito protetor aconselha sempre para o bem, sugerindo bons pensamentos ou amparando nas aflições o seu tutelado mas, em situação alguma, desres¬peita o livre-arbítrio de quem quer que seja.

(...) Afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o homem que tapa os ouvidos. O pro-tetor volta desde que este o chame." [Le-qst 495]

No caso de não mais funcionar a faculdade mediúnica, isto jamais se deve ao fato de o médium ter encerrado a sua missão, como se costuma dizer, porque toda missão encerrada com sucesso é prenúncio de nova tarefa que logo se lhe segue, e assim, sucessivamente. O que ocorre nestes caso é a perda por abuso da mediunidade ou por doença grave.

Bibliografia

1) Livro dos Médiuns - Allan Kardec

2) Livro dos Espíritos - Allan Kardec

3) No Invisível - Léon Denis

4) Médiuns e Mediunidades - Vianna de Carvalho/Chico Xavier

5) O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier

IDE-JF/CVDEE
IDE-JF Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora-MG

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