segunda-feira, 27 de julho de 2015

ESTUDANDO O CRISTIANISMO 15

17  A INFÂNCIA DE JESUS EM NAZARÉ

Antes de entrarmos no assunto, propriamente dito, falemos um pouco da cidade de Nazaré. Rodrigo Cavalcante, em artigo na edição 183, de dezembro de 2002, da revista Super Interessante, descreve Nazaré, segundo os arqueólogos, como um vilarejo de trabalhadores rurais, situada em uma encosta de serra, contando, na época de Jesus, com 400 habitantes, aproximadamente. Por ser tão pequena, esta vila quase não é citada nos documentos da época. O historiador John Dominic Crossan diz que As escavações arqueológicas na cidade não encontraram nenhuma sinagoga, fortificação, basílica, banho público, ruas pavimentadas, enfim, nenhuma construção importante que datasse do tempo de Jesus. Embora Lucas, no capítulo 4, versículo 14, do seu Evangelho descreve Jesus em uma sinagoga em Nazaré (ver item 4.2.1).

Continuando, o historiador relata que em compensação foram encontradas pequenas prensas de azeitonas para a fabricação de azeite, cisternas de água, porões para armazenar grãos e outros indícios de uma vida agrária de subsistência.

A casa em que Jesus cresceu, segundo as informações, devia ser como a de todo camponês pobre da época: chão de terra batida, teto de estrados de madeiras cobertos com palhas e muros de pedras empilhadas com barro, lama ou até uma mistura de esterco e palha para fazer o isolamento.

Os produtos da alimentação básica dos moradores de Nazaré, na época de Jesus, eram: pão, azeitona, azeite e vinho e um pouco de lentilhas refogadas com alguns outros vegetais sazonais, servido no pão (pão árabe) e às vezes nozes, frutas, queijos e iogurte, além de peixe salgado. Segundo os arqueólogos, a carne era rara, reservada apenas para celebrações especiais. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas e sinais de artrite grave. A mortalidade infantil era alta e a expectativa de vida girava em torno de 30 anos. Só raros privilegiados alcançavam 50 ou 60 anos de idade. Diz Crossan.

Depois dessa Nazaré histórica, falemos da Nazaré que acolheu nosso Senhor e Mestre desde sua infância até os 30 anos.

A nossa certeza de que Jesus tenha vivido o período compreendido pelo retorno do Egito até o início de sua grande missão, 30 anos, junto de sua família, em Nazaré, aprendendo com o Pai, José, o ofício de carpinteiro , se consolida em de duas fontes que para nós, espíritas, é inquestionável: a primeira vem da página recebida pelas mãos abençoadas do médium Francisco Cândido Xavier, ditada pelo Espírito Irmão X, livro Boa Nova, quando Maria em suas lembranças revê as cenas do nosso Mestre Jesus em sua infância: Que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Freqüentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho. Ou (...)A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações e a segunda vem do Evangelho de Lucas 4: 16 Foi a Nazaré, onde tinha crescido. Mc 6: 3 Saindo dali, Jesus foi para sua terra. Seus discípulos o acompanhavam. .Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não vivem entre nós?

Continuemos com as páginas de Boa Nova, de Irmão X.

Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do Templo de Jerusalém, Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.

Depois das saudações habituais, do desdobramento dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias. Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais ternas confidências maternas.

- O que me espanta  dizia Isabel com carinhoso sorriso  é o temperamento de João, dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o inutilmente em casa, para encontrá-lo quase sempre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse dominada por graves pensamentos.

- Essas crianças, a meu ver  respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos -, trazem para a humanidade a luz de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores... Fala de sua comunhão com Deus com uma eloqüência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.

- Apesar de todos os valores da crença  murmurou Isabel, convicta -, nós, as mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.

Como se se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:

- Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.

Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa:

- Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... Entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou: - Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhando a minha comunhão com o Pai que está no Céu?! Altamente surpreendida com a sua pequena pergunta, respondi-lhe, hesitante: - Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, ponderou ele: - Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa, e eu, escolherei, desse modo, a escola melhor. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar, e a do esforço próprio  concluiu a palavra materna com singeleza -, ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com sua doce alegria.

(...) Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez o mais formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem interesses; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilatação infinita.

Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. Ante seus olhos surgiram as montanhas de Samaria, o cume de Megedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfigiuração, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Safed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.

Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travava entre ambos? Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para conquista do mundo. Sabemos, porém, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse: - Não queres vir conosco?  ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade: - João partirá primeiro.

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