09 esboço de o livro dos médiuns
SEGUNDA PARTE MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS (2)
TIPOS DE MÉDIUNS
Médiuns
159 Toda pessoa que sente num grau qualquer a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente às pessoas e consequentemente não constitui privilégio exclusivo de ninguém; por isso mesmo, poucas são as pessoas que não possuem algum rudimento dela. Podemos dizer, portanto, que todas as pessoas são, mais ou menos, médiuns. Entretanto, geralmente, essa qualificação aplica-se apenas àqueles cujo dom mediúnico está claramente caracterizado por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que depende, então, de uma organização mais ou menos sensitiva. É preciso, além disso, notar que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira; os médiuns possuem geralmente uma aptidão especial para certos gêneros de fenômenos, o que faz haver tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos; médiuns sensitivos ou impressionáveis; auditivos; falantes; videntes; sonambúlicos; curadores; pneumatógrafos; escreventes ou psicógrafos.
Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 14 - Médiuns
MÉDIUNS DE EFEITOS FÍSICOS
Médiuns de Efeitos Físicos
160 Os médiuns de efeitos físicos são especialmente aptos a produzir fenômenos materiais, tais como os movimentos de corpos inertes, barulhos etc. Podemos dividi-los em médiuns facultativos e médiuns involuntários (Veja neste livro, Parte Segunda, capítulos 2 e 4, Manifestações físicas e Teoria das manifestações físicas, respectivamente).
Os médiuns facultativos são os que têm a consciência da sua mediunidade e produzem fenômenos espíritas por sua vontade. Essa faculdade, ainda que inerente à espécie humana, como já dissemos, está longe de existir em todos no mesmo grau; mas, se há poucas pessoas nas quais ela seja absolutamente nula, as que são aptas para produzir grandes efeitos, tais como a suspensão de corpos pesados no espaço, a translação aérea e, especificamente, as aparições, são ainda mais raras. Os efeitos mais simples são: rotação de um objeto, pancadas por efeito do levantamento desse objeto ou nele mesmo. Sem dar uma destacada importância a esses fenômenos, recomendamos não negligenciá-los; deles podem se originar observações interessantes e podem servir para consolidar a convicção. Porém, é preciso observar que a faculdade de produzir efeitos físicos raramente existe nos que possuem meios mais perfeitos de comunicação, como a escrita ou a palavra. Geralmente, a faculdade diminui num sentido à medida que se desenvolve em outro.
161 Os médiuns involuntários ou naturais são aqueles em que a mediunidade se exerce sem que eles saibam.
Não têm nenhuma consciência dela e, muitas vezes, o que se passa de anormal em torno deles não lhes parece extraordinário; isso faz parte deles, exatamente como as pessoas dotadas da segunda vista que não suspeitam disso. Esses indivíduos são bastante dignos de observação, e não devemos nos descuidar de recolher e estudar os fatos desse gênero que venham ao nosso conhecimento; eles se manifestam em todas as idades; muitas vezes, em crianças ainda muito novas (Veja o capítulo 5, Manifestações físicas espontâneas).
Essa faculdade não é, por si só, indício de um estado patológico, porque o médium normalmente tem uma saúde perfeita. Se está sofrendo, é porque isso está ligado a uma causa estranha, e assim os meios terapêuticos são impotentes para fazê-la cessar. Ela pode, em certos casos, ser consequência de uma certa fraqueza orgânica, porém nunca é causa eficiente1. Não é, portanto, razoável fazer dessa mediunidade um motivo de inquietação, sob o ponto de vista da saúde orgânica; ela só poderia ser inconveniente se o médium fizesse dela uso abusivo, porque, então, se verificaria nele uma emissão muito grande de fluido vital e, consequentemente, um enfraquecimento dos órgãos.
162 A razão se revolta com a ideia das torturas morais e corporais a que a ciência tem, algumas vezes, submetido os médiuns, pessoas fracas e delicadas, para se certificar de que não há fraude por parte delas. Essas experimentações, quase sempre feitas com maldade, são sempre prejudiciais aos organismos sensitivos, podendo resultar disso sérias desordens ao conjunto da saúde. Fazer essas experiências é brincar com a vida. O observador de boa-fé não precisa empregar esses meios, pois, estando familiarizado com os fenômenos, sabe que eles pertencem mais à ordem moral do que à física e que é inútil procurar-lhes solução nas nossas ciências exatas. Depois, pelo fato de esses fenômenos estarem mais ligados à ordem moral, deve-se evitar com extremo cuidado tudo o que possa sobreexcitar a imaginação. Sabe-se dos traumas que o medo pode ocasionar e com muito mais prudência nos guiaríamos se atentássemos para todos os casos de loucura e epilepsia originados dos contos de lobisomens e bichos-papões. Imagine o que acontece quando se generaliza tudo isso como obra do diabo? Aqueles que alimentam ou propagam essas ideias não sabem a responsabilidade que assumem: podem matar. Acontece ainda que o perigo não fica restrito apenas ao sujeito que se vê de braços com o fenômeno, mas também aos que o cercam e que podem ficar traumatizados com a ideia de que sua casa se tornou um antro de demônios. Foi essa crença funesta que causou tantas atrocidades nos tempos da ignorância. Contudo, com um pouco mais de discernimento, teriam deduzido que, ao queimar o corpo supostamente possuído pelo diabo, não queimavam o diabo. Já que queriam se desfazer dele, era ele que era preciso matar. A Doutrina Espírita, ao nos esclarecer sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, matou o diabo, deu-lhe o golpe de misericórdia. Longe, portanto, de fazer surgir ou de alimentar essa ideia, deve-se, como dever de moralidade e de humanidade, combatê-la onde quer que surja.
O que se deve fazer quando uma faculdade semelhante se desenvolve espontaneamente num indivíduo é deixar o fenômeno seguir seu curso natural: a natureza é mais prudente do que os homens; a Providência, aliás, possui suas razões, e a menor criatura pode ser o instrumento dos maiores desígnios. Porém, é preciso convir que esse fenômeno adquire, algumas vezes, proporções fatigantes e inoportunas para todas as pessoas; portanto, eis o que em todos os casos é preciso fazer. No capítulo 5, Manifestações físicas espontâneas, já demos alguns conselhos a esse respeito, quando dissemos que é preciso entrar em comunicação com o Espírito para saber dele o que ele quer. O método a seguir está igualmente fundado na observação.
Os seres invisíveis que revelam sua presença por efeitos sensíveis são, geralmente, Espíritos de uma ordem inferior, que podem ser dominados pela superioridade moral; é esse ascendente que é preciso procurar adquirir (Veja as questões nos 251, 254 e 279).
Para lidar com eles, é preciso fazer o médium passar do estado de médium natural para o de médium facultativo. É produzido, então, um efeito semelhante ao que acontece no sonambulismo. Sabe-se que o sonambulismo natural cessa geralmente quando é substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade emancipadora da alma; é dada a ela uma outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de entravar o fenômeno, coisa que raramente se consegue e que nem sempre deixa de ser perigosa, exercita-se o médium para produzi-los de acordo com sua vontade, impondo-se ao Espírito; por esse meio, ele consegue subjugá-lo, dominá-lo, e do dominador, às vezes tirânico, faz-se um ser subordinado e, muitas vezes, dócil. Um fato digno de ser notado e justificado pela experiência é que, nesse caso, uma criança tem tanta ou mais autoridade do que um adulto: prova que vem apoiar esse ponto capital da Doutrina de que o Espírito é criança apenas no corpo e que tem por si mesmo um desenvolvimento necessário anterior à sua encarnação atual, desenvolvimento este que pode lhe dar ascendência sobre Espíritos que lhe são inferiores.
A moralização do Espírito por conselhos de uma terceira pessoa influente e experimentada, se o médium não estiver no estado de fazer isso, é muitas vezes um meio bastante eficaz; falaremos disso mais tarde.
163 É a essa categoria de médiuns que deveriam pertencer, à primeira vista, as pessoas dotadas de uma certa dose de eletricidade natural, verdadeiros torpedinídeos2 humanos, que produzem ao simples contato todos os efeitos de atração e de repulsão. Foi errado, entretanto, considerá-las médiuns, porque a verdadeira mediunidade supõe a intervenção direta de um Espírito; acontece que, no caso de que falamos, experiências concludentes provaram que a eletricidade é o único agente desses fenômenos. Essa faculdade estranha, a qual poderíamos quase chamar de enfermidade, pode algumas vezes aliar-se à mediunidade, como podemos ver na história do Espírito batedor de Bergzabern; porém, muitas vezes independe da mediunidade. Conforme já dissemos, a única prova de intervenção dos Espíritos é o caráter inteligente das manifestações; se esse caráter não existir, temos que atribuí-las a uma causa puramente física. A questão é saber se as pessoas elétricas teriam uma aptidão maior para se tornarem médiuns de efeito físico; pensamos que sim, porém só a experiência poderá demonstrá-lo.
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