quinta-feira, 31 de julho de 2014

3 – Mundo Espiritual

Módulo IX
Há muitas moradas na Casa do Pai


3 – Mundo Espiritual

Dentre as muitas revelações trazidas pelo Espiritismo, a existência de um mundo dos Espíritos, merece de nossa parte um maior destaque.

O mundo das inteligências incorpóreas, apesar de interpenetrar-se com o nosso (físico), é um mundo à parte. É vida em outra dimensão, caracterizada por organização e constituição diferente de tudo o que conhecemos por aqui.

Constitui-se na morada ou pousada dos Espíritos, formando colônias ou comunidades de transição, onde se reúnem de forma homogênea baseados em laços de afinidade.

Afinidade caracterizada pela elevação moral dos elementos ali vinculados.

Através das informações obtidas via mediúnica, notamos a existência de várias esferas de vida no Mundo Maior, cada uma com sua vibração característica, formando assim mundos diferenciados em muitas faixas de elevação.

Alguns autores classificam várias delas denominando-as como:

Abismo: Região de grandes sofrimentos, devido à recalcitrância no violar as Leis Divinas.

No livro “Memórias de um Suicida”, recebido mediunicamente por Ivone do Amaral Pereira, o Espírito comunicante dá uma idéia do que seja esta região, e dos padecimentos pelos quais passou, devido à escolha que fez, usando o livre-arbítrio no sentido do suicídio.

Trevas: Esta é uma região do plano espiritual que, como o próprio nome diz, é desprovida de qualquer luminosidade.

Os Espíritos vinculados a ela acham-se envolvidos por vibrações malignas, e normalmente fazem o mal por prazer. O ponto que o diferencia do abismo, muitas vezes não percebemos, mas como acreditamos que o grau de culpa está diretamente ligado ao grau de conhecimento e de insistência no erro, acreditamos que no abismo encontram-se Espíritos mais capazes, e por isso mais culpados.

Como citação bibliográfica, o livro “Libertação”, de André Luiz, mostra vários lances desta esfera.

Crosta Terrestre: A Terra é um mundo ainda inferior habitado por Espíritos inferiores.

Muitos desses Espíritos, quando desencarnados, ficam ligados ao planeta em busca da satisfação de seus vícios e apetites mais grosseiros, formando assim em volta do nosso orbe uma esfera espiritual caracterizada por vibrações altamente deletérias.
O livro “Nas fronteiras da Loucura”, ditado pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, narra episódios passados durante o período de carnaval, nos dando uma clara idéia dos acontecimentos espirituais que envolvem nossa Terra, nesta ocasião.

Umbral: “É uma região espiritual que começa na crosta terrestre, na qual se concentra tudo o que não tenha finalidade para a vida superior. É região de esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.” 69

69 “O Reformador”, Agosto de 1996, artigo de Gil Restani de Andrade.

No livro “Nosso Lar”, ditado mediunicamente por André Luiz, Lísias faz a seguinte afirmativa sobre o umbral:

Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação.70

É, portanto, uma região semi-trevosa habitada por Espíritos revoltados de toda espécie e envoltos por tendências e desejos inferiores.

Zonas de Transição: São colônias Espirituais muitas vezes situadas no próprio Umbral. Funcionam como verdadeiros oásis nos desertos. Espíritos ainda vinculados a problemas conscienciais, mas já dignos de merecimentos são atendidos nestas colônias buscando refazimento com vistas ao reajuste que se faz necessário.

Nosso Lar, é uma destas colônias, e é muito bem descrita na obra de André Luiz, não só no livro de mesmo título, mas em toda série que o segue.

Devido à importância desta colônia para o melhor entendimento do que seja a vida no plano espiritual, citaremos parte do estudo feito pelos Espíritos André Luiz e Lúcius, no livro “Cidade no Além”.

A cidade espiritual Nosso Lar, segundo informação de André Luiz, foi fundada por portugueses desencarnados no Brasil, no século XVI. Está localizada sobre o estado do Rio de Janeiro, entre as cidades do Rio de Janeiro, Campos e Itaperuna.

Na época em que nosso Amigo Espiritual nos brindou com esta magnífica obra, a cidade contava com cerca de um milhão de habitantes.

Sua administração é feita pela Governadoria, órgão central, e está assessorada por seis ministérios, a saber: Ministério da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina, que atuam nas áreas definidas pelo próprio nome, sendo cada Ministério dirigido por doze ministros.

Os trabalhadores de Nosso Lar moram sempre perto de seu trabalho, de tal forma que quando um trabalhador é transferido de ministério, é também transferido de residência.

Como se trata de uma colônia espiritual, a justiça se manifesta em maior intensidade.

Veja a questão da moeda. O bônus-hora é como se fosse a moeda de Nosso Lar.

Para cada hora trabalhada, o trabalhador recebe um bônus, e é com o acúmulo de bônus que os bens são adquiridos.

Poderíamos aqui enumerar muitas outras características desta colônia, mas o mais importante é sabermos que, do outro lado da vida, não existe a ociosidade para aqueles que querem evoluir, que há uma hierarquia espiritual que pela afinidade somos atraídos, e que, acima de tudo, a vida continua.

Esferas Superiores: São regiões espirituais caracterizadas pela felicidade e pelo trabalho em favor do próximo. Como conseqüência, estas regiões são habitadas por Espíritos de grande elevação moral, ou seja, os bons Espíritos e os Espíritos Superiores.

70 “Nosso Lar”, cap. 12.

André Luiz em suas obras, muitas vezes fala de Espíritos destas regiões, que foram visitar Nosso Lar, mas para que tal fato ocorresse, tiveram que adensar o perispírito.

Esferas Resplandecentes: Regiões espirituais onde imperam a bondade, a confiança e a felicidade verdadeira. No livro “Renúncia”, ditado pelo Espírito Emmanuel ao médium Francisco Cândido Xavier (FEB), assim é descrita a paragem espiritual a que estava vinculado o Espírito Alcione:

Pouco depois, ei-la que aporta em portentosa esfera, inconfundível em magnificência e grandeza. O espetáculo maravilhoso de suas perspectivas excedia a tudo que pudesse caracterizar a beleza, no sentido humano. A sagrada visão do conjunto permanecia muito além da famosa cidade dos santos, idealizada pelos pensadores do Cristianismo. Três Sóis rutilantes despejavam no solo arminhoso oceanos de luz mirífica, em cambiâncias inéditas, como lampadários celestes acesos para edênico festim de gênios imortais. Primorosas construções, engalanadas de flores indescritíveis, tomavam a forma de castelos talhados em filigrana dourada, com irradiações de efeitos policromos. Seres alados iam e vinham, obedecendo a objetivos santificados, num trabalho de natureza superior, inacessível à compreensão dos terrícolas.71

71 “Renúncia”, págs. 25 e 26.

Conclusão

O ensino dos Espíritos sobre a vida de além-túmulo faz-nos saber que no espaço não há lugar algum destinado à contemplação estéril, à beatitude ociosa.

Todas as regiões do espaço estão povoadas por Espíritos laboriosos. Por toda parte, bandos, enxames de almas sobem, descem, agitam-se no meio da luz ou na região das trevas.

Em certos pontos, vê-se grande número de ouvintes recebendo instruções de Espíritos adiantados; em outros, formam-se grupos para festejarem os recém-vindos. Aqui Espíritos combinam os fluidos, infundem-lhes mil formas, mil coloridos maravilhosos, preparam-nos para os delicados fins a que foram destinados pelos Espíritos superiores; ali ajuntamentos sombrios, perturbados, reúnem-se ao redor dos globos e os acompanham em suas revoluções, influindo, assim, inconscientemente, sobre os elementos atmosféricos.

Espíritos luminosos mais velozes que o relâmpago, rompem essas massas para levarem socorro e consolação aos desgraçados que os imploram. Cada um tem o seu papel e concorre para a grande obra, na medida de seu mérito e de seu adiantamento. O Universo inteiro evolui. Como os mundos, os Espíritos prosseguem seu curso eterno, arrastados para um estado superior, entregues a ocupações diversas. Progressos a realizar, ciência a adquirir, dor a sufocar, remorsos a aclamar, amor, expiação, devotamento, sacrifício, todas essas coisas os estimulam, os aguilhoam, os precipitam na obra; e, nessa imensidade sem limites, reinam incessantemente o movimento e a vida. A imobilidade e a inação é o retrocesso. É a morte. Sob o impulso da Grande Lei, seres e mundos, almas e sóis, tudo gravita e move-se na órbita gigantesca traçada pela vontade divina.72

72 “Depois da Morte”, Léon Denis, cap. XXXIV.

Apostila do Curso de Espiritismo e Evangelho
Centro Espírita Amor e Caridade
Goiânia – GO


Trabalho realizado em 1997 pelo Grupo de Estudos desta Casa Espírita com a coordenação de Cláudio Fajardo

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Há muitas moradas na Casa do Pai

Módulo IX

1 – Introdução

A Doutrina Espírita dá condição de ampliar em muito o entendimento do ensinamento de Jesus, quando nos disse: Há muitas moradas na casa do Pai.

É que, de acordo com a diversidade dos estados evolutivos da alma, esta encontra morada física ou espiritual apropriada às sua condições. Portanto, as moradas da casa do Pai, são os diferentes estados em que se encontra o Espírito após o desenlace.

E como a Codificação também informa ser a nossa evolução feita em vários mundos, e que o Universo é a reunião destes infinitos mundos, essas moradas podem ser entendidas também como cada planeta que forma este Universo, que é a casa do Pai.

É por este prisma que procuramos estudar este tema, mostrando a lógica do pensamento kardequiano.

2 – Diferentes estados do Espírito após o Desencarne

Se podemos dizer que há uma preocupação constante em todas as criaturas, esta preocupação é com o futuro da alma após a morte física.

Em todos os tempos, desde que foi desenvolvido no homem a faculdade do raciocínio, esta inquietação quanto ao seu vir a ser, é motivo de muitas dissensões. Segundo algumas religiões, há um lugar para aqueles que fizeram o bem, e outro para os que não o fizeram. Sendo que são eternos estes ambientes, e localizam-se na parte superior e inferior da Terra. Outros de nossos irmãos, entendem que após a morte, a alma fica aguardando o dia do juízo, em que será decidido o seu futuro de acordo com a forma como viveu.

A Doutrina Espírita ensina que no instante do desencarne, a alma volta ao plano espiritual, conservando sua individualidade, e que normalmente não reencarna logo depois de haver se separado do corpo. Esse estado do Espírito é chamado de erraticidade, isto é, estado do Espírito sem corpo físico enquanto aguarda a próxima encarnação.

O ensino dos Espíritos têm mostrado ainda que há no Universo inumeráveis mundos de constituição material ou menos material, e que de acordo com a condição em que se encontra o Espírito, este é recebido.

As alegrias e as percepções do Espírito não procedem do meio que ele ocupa, mas de suas disposições pessoais e dos progressos realizados (…) 67

67 “Depois da Morte”, Léon Denis, cap. XXXIII.

Isto significa que o “céu” ou o “inferno” acham-se dentro daquele que o possui. É que esses Espíritos envolvidos pelo seu próprio magnetismo, criam para si um corpo fluídico que irá captar a essência de seu vivenciar psíquico.

Por isso Jesus afirmou: Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu (…) (Mateus, 18: 18)

Isso irá fazer com que as almas se agrupem de acordo com o grau de maior ou menor pureza que tenha atingido seu corpo espiritual, porque a situação do Espírito em seu mundo, está diretamente ligada à sua constituição fluídica.

Assim sendo, não é um tribunal que a julga, mas ela mesma determina, de acordo com a sua situação, a recompensa que irá receber quando do seu desencarne. Isto é que faz com que no plano espiritual criem-se verdadeiras sociedades, com funcionamento baseado na condição dos que as formem.

Contrariamente ao que conhecíamos até então, a Codificação Espírita traz que a vida do Espírito evoluído não é ociosa, mas extremamente ativa. O seu transporte é feito à velocidade do pensamento. Seu corpo é de tal forma rarefeito, que se torna invisível aos Espíritos inferiores. Seus sentidos não são dados por órgãos materiais, mas por todo o seu Ser, sendo suas percepções mais precisas e reais que as nossas.

Não têm necessidades alimentares ou de repouso, isto porque a matéria não os influencia.

Os Espíritos mais atrasados, ao contrário, levam consigo suas necessidades, seus vícios e suas preocupações. Não podendo abandonar seus problemas devido à sua materialidade, participam da vida do homem comum intrometendo em seus afazeres, e participando de seus prazeres. Suas paixões, determinando seus desejos, são alimentadas pelo contato com os valores transitórios, e devido à sua incapacidade de gerenciar tais sentimentos, sofrem pesadas torturas que os atrasam ainda mais.

Concluindo, temos então:

A situação do Espírito após o desencarne é definida por ele próprio quando encarnado.

Sua vivência, de acordo com os princípios evangélicos, o liberta.

A valorização das coisas materiais acima de suas necessidades o escraviza.

As coisas se dão desta forma, porque a alma enquanto encarnada, condiciona-se a fatores orgânicos que, por sua vez, estão sob o império de leis biológicas específicas. Fora do corpo, outras são as leis e, por conseguinte, outros elementos de equilíbrio e funcionamento.

Daí as naturais dificuldades com que, em novo mundo vibratório, bem diverso do nosso, aqui no plano físico, lutamos todos nós ao trocarmos a densidade da matéria (envoltório físico) pela fluidicidade dos planos espirituais.68

68 “O Pensamento de Emmanuel”, cap. 5.

Apostila do Curso de Espiritismo e Evangelho
Centro Espírita Amor e Caridade
Goiânia - GO

Trabalho realizado em 1997 pelo Grupo de Estudos desta Casa Espírita com a coordenação de Cláudio Fajardo

terça-feira, 29 de julho de 2014

SUICÍDIO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA O PROBLEMA SOB A ÓTICA ESPÍRITA

Clara Lila Gonzales de Araújo

“(...) para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.” (O suicídio e a loucura”. In: O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Crianças e adolescentes, em número expressivo, buscam no suicídio a fuga que lhes parece mais viável aos dissabores e dificuldades que surgem de suas experiências na matéria.
O assunto, de importância vital para análise e reflexão de todos os espíritas, é destacado no temário das Campanhas VIVER EM FAMÍLIA e EM DEFESA DA VIDA, reativadas pelo Conselho Federativo Nacional, órgão da Federação Espírita Brasileira, em 21 de novembro de 2004, tendo como uma de suas ações, em nível nacional, estimular o aprofundamento de temas dessa natureza, concluindo quão importante tornar-se o conviver em família, onde sob todos os aspectos, a vida deve ser preservada e cuidar.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2000), no mundo inteiro, o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 19 anos e em vários países ele fica como primeira ou segunda causa de morte entre meninos e meninas nessa mesma faixa etária. Verificamos que, estaticamente, o Brasil se coloca como um dos países que possui um índice relativamente significativo neste tipo de morte entre os jovens: nos anos de 1991 a 2000, os suicídios, nessa faixa etária, tiveram crescimento de 28,5% e os dados, atualmente, apresentam, segundo a magnitude da população jovem brasileira, uma taxa de 4,0 suicídios por 100 mil habitantes.
É possível, também, observar que a incidência dos óbitos por suicídio apresenta, a partir dos 10 anos, uma forte tendência ascendente para chegar à sua máxima expressão aos 21 anos de idade.
É entristecedor ver esses Espíritos envolvidos em tantas frustrações, decorrentes de conflitos íntimos e de uma educação mal administrada, por parte dos pais, ou por serem, alguns portadores de desequilíbrios emocionais que não foram atendidos adequadamente na infância, levando-os a uma atitude tão drástica.
O espírito Manoel Philomeno de Miranda (1991) aponta para os graves agentes psicológicos que levam ao suicídio, como a angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos psicossociais e econômicos, as enfermidades crucificadoras, o sentimento de desamparo e de perda, todos com sede na alma imatura e ingrata, fraca de recursos morais para sobrepô-los às contingências transitórias desses propelentes ao ato extremo. E, este trágico ato assume gravidade e constrangimento maiores, quando crianças, que ainda não dispõem do discernimento, optam pela aberrante decisão.
Como avaliar o tresloucado gesto de seres tão jovens, sob a visão espírita?
Que causas estimulam esses Espíritos, ainda imaturos, a buscarem, no gesto derradeiro, a superação dos problemas que os alucinam?
Mesmo considerando o grande número de suicidas que renascem com as impressões da ação cometidas em vidas passadas, é necessária uma análise mais acurada sobre as razões que os impelem a cometer novas transgressões às leis de Deus, agravando ainda mais sua situação espiritual.
Analisaremos, inicialmente, os suicídios que têm por causa a obsessão.
Elucida-nos o venerável Espírito Bezerra de Menezes que Espíritos perversos influenciam os encarnados, sugestionando-os a cometerem o ato terrível, através do sono de cada noite, por uma pressão obsessora do seu desafeto espiritual, (...). Outros existem que não querem absolutamente morrer, não desejam o suicídio (...) Apesar disso, sucumbem, (...) uma vez que, deseducados da luz das verdades eternas, desconhecedores do verdadeiro móvel da vida humana, como da natureza espiritual do homem, não lograram forças nem elementos com que se libertassem do julgo mental (...) cujo acesso permitiram. Esses suicídios, levados a efeito por influências obsessivas, apresentam certa parcela de atenuantes para as vítimas e graves responsabilidades para os que os motivaram, respondendo, esses algozes, perante a Justiça Divina, pela crueldade cometida contra os seus adversários.
Intriga-nos, sem dúvida, que esta situação possa ocorrer com crianças e jovens.
A análise feita por Allan Kardec à resposta dada pelos Espíritos Superiores, à questão 199a, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, esclarece-nos sobre o problema. Diz o Codificador: Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência.
Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até o pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão?
Conclui Kardec, na mesma nota, que esses Espíritos se revelam viciosos por não possuírem progresso, sofrendo, então, por efeito de sua inferioridade.
Essas crianças, geralmente, manifestam comportamentos desequilibrados, como resultante da rebeldia, da insatisfação, do nervosismo, da dificuldade intelectual que apresentam, agravando-se, cada vez mais, a sua existência, caso não recebam os cuidados urgentes dos pais, em forma de afeto, compreensão e providências terapêuticas adequadas, para que consigam superar reminiscências tão dolorosas.
Suely Caldas Schubert (1981), ao referir-se ao problema da obsessão na infância, traz de sua experiência interessantes depoimentos sobre crianças que tentaram o suicídio. Um desses casos foi destacado como gravíssimo.
Conta-nos a autora que certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-se na piscina; em outro atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa; depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-la dia e noite. Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca imaginaram ser do seu conhecimento.
Os pais da referida criança buscaram ajuda no Espiritismo e, a partir das reuniões de desobsessão, realizadas em seu benefício, foi possível diagnosticar, espiritualmente, as causas do seu estado atual. A oração, o passe e a água fluidificada, usados na terapêutica espiritual, melhoraram sensivelmente o problema obsessivo e outras crianças, que apresentavam sintomas semelhantes, foram amparadas, igualmente. Schubert chama atenção para a importância das aulas de Evangelização Espírita, quando os pequeninos seres são extremamente ajudados pelos ensinamentos ministrados, oferecidos por meio das luzes do esclarecimento espírita-cristão de que tanto carecem.
Além das orientações que recebemos da profilaxia espírita é imprescindível procurarmos o auxílio de psicólogos, médicos, educadores e outros, que orientem na utilização de mecanismos preventivos, para o reajustamento dessas crianças.
É importante ressaltar, todavia, que ao tratarmos de suicídio, não podemos apenas nos referir às obsessões, que influenciam grandemente essas almas torturadas, mas devemos levar em conta o rol de dificuldades que esses Espíritos trazem consigo, impulsionando os a cometer desatinos de toda sorte, em prejuízo próprio, não lhes permitindo viver de forma mais tranqüila e segura.
Aos pais cabe a tarefa maior de ampará-los, dispensando-lhes muito amor, a fim de que se sintam amados e possam superar esses estados de sofrimento, choques e dores que necessitam ser atenuados por meio da educação, na prática de exercícios moralizadores, até que consigam transformar suas disposições mentais, na busca do rumo feliz que tanto anelam.
Ao conhecermos os fatores causais dos sofrimentos que nos atingem, passamos a aceitar com resignação e responsabilidade as provas indispensáveis para evoluirmos. Por isso, aceitar filhos difíceis é reagir de forma positiva, envolvendo-os em vibrações de ternura, anulando-lhes as impressões negativas, dialogando constantemente com eles, no uso da palavra envolta em emoção afetuosa e franca, e transmitindo-lhes a confiança de que haverão de se livrar dos problemas íntimos que os oprimem, confiando em Jesus e nos benfeitores espirituais. A criança, se evangelizada desde cedo, tem noção exata do que significa o amparo desses Amigos do além-túmulo.
O problema do suicídio assume dimensões maiores na adolescência, quando, quase sempre, não se recebeu ajuda na fase infantil.
O Espírito Joanna de Ângelis (1998) afirma que a desinformação a respeito da imortalidade do Ser e da reencarnação responde pela correria alucinada na busca do suicídio(...) E essa falta de esclarecimento é maior no período infanto-juvenil,(...) facultando a fuga hedionda da existência carnal (...)
Há que se considerar, também, o suicídio indireto, quando o adolescente, vivendo em clima de lutas acerbas e não tendo recebido uma base familiar de orientação segura, desgasta suas forças morais e emocionais, enredando-se no jogo das paixões, principalmente no sexo em uso excessivo, na ingestão de bebidas alcoólicas, do fumo nocivo e das drogas, resultando nas relações comportamentais rebeldes e agressivas, que causarão sobrecargas destrutivas no conjunto do Ser, desequilibrando suas condições física e mental.
O panorama traçado até aqui mostra que o suicídio de crianças e jovens é constantemente desafiado pelas circunstâncias, muitas vezes imprevisíveis, que surgem dentro do próprio lar.
O lar deve ser escola de real educação, sem o caráter autoritário e impositivo, que torne as relações entre pais e filhos obsessivas e desgastantes, mas com a preocupação sincera de estabelecer-se entre eles uma amizade verdadeira, que lhes permita encontrar a resistência espiritual de que precisam, para enfrentar as vicissitudes e os desafios decorrentes de frustrações e de conflitos íntimos, surgidos, especialmente dos relacionamentos inter-pessoais, nem sempre vividos favoravelmente A educação que se funda no processo de despertar os poderes latentes do Espírito é a única que realmente resolve o problema do ser.
Educação que deve preparar o indivíduo para a vida como realmente ela é, destacando, sempre, a bênção da reencarnação, que permite lutar pelas mais nobres aspirações e reconhecendo, com gratidão, os destinos altaneiros que Deus concebeu e tracejou para o Espírito.
Importa, pois, primeiramente, que a criança e o adolescente tenham uma visão correta sobre a realidade e o futuro do Ser, traçando para si valores éticos e cristãos que constituem a verdadeira vida e que os fará esperar pela concretização de realizações que os estimulem ao progresso.
A missão do Espiritismo é educar para salvar. Tenhamos nós, espíritas, a certeza desta revelação, pois enquanto esse fato não penetrar em nossas mentes e corações não saberemos acolher, com compreensão, essas almas infelizes e enfermas, necessitadas de infinito amor. Quanto a isso, reflitamos sobre a sábia lição de Jesus: Ninguém acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao contrário, sobre o candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que estão na casa. (Mateus, 5:15)

Fonte: REFORMADOR, nº 2117

“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº 352
Fevereiro 2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:

Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


sábado, 26 de julho de 2014

2 – Justiça da Reencarnação

Módulo VIII
Reencarnação


Em que se fundamenta?

Segundo os Espíritos codificadores, na resposta da questão 171 de “O Livro dos Espíritos”, a doutrina reencarnacionista se fundamenta na própria Justiça Divina.

Na análise do conteúdo desta resposta, verificamos que se não fosse a oportunidade reencarnatória, Deus estaria privado de um de seus atributos: a justiça, e conseqüentemente já não seria Deus.

Para facilitar o nosso raciocínio, citamos a seguir um texto em que Kardec disserta sobre a lógica da pluralidade das existências:

Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento, e se o estado em que se achava não constituía uma existência sob forma qualquer. Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha ou não consciência de si mesma? Se não o tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade, era progressiva ou estacionária?
Num e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que antes de encarnar, só dispõe de faculdades negativas perguntamos:

1º) Porque mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das ideias que a educação lhe fez adquirir?

2º) Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?

3º) Donde, em uns, as idéias inatas ou intuitivas, que noutros não existem?

4º) Donde em certas crianças, o instinto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?

5º) Por que abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?
6º) Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton? (…) 48

Através deste raciocínio kardequiano, vimos acima de tudo que a reencarnação é fundamentada na justiça divina, e que assenta na mais perfeita lógica e no maior bom senso.

48 “O Livro dos Espíritos”, questão 222.

Provas da Reencarnação

Mas que provas podemos ter da reencarnação, além destas explícitas neste raciocínio?

Podemos dividir estas provas em duas categorias: provas filosóficas e provas experimentais.

a) Filosóficas

Como entender a justiça divina, sem aceitar o princípio reencarnatório? Por que nascem uns pobres e outros ricos? Uns desfrutam da maior saúde, outros lutam a vida toda com várias doenças. Há os que vivem muitos anos, e os que vivem poucos meses ou dias. E como a justiça divina irá julgar estes que não tiveram tempo para serem nem bons nem maus. Irão para o céu ou para o suplício eterno?

Há também a questão do progresso. Por que a humanidade de hoje é mais adiantada intelectual e cientificamente do que a passada? Poderão dizer que a sociedade é que faz o homem assim. Mas como explicar a diferença brutal que existia entre a capacidade de um homem primitivo e a do homem atual, se ambos fossem criados no instante do nascimento, e suas conquistas para nada servissem?

Nos dêem explicações melhores para estes e outros questionamentos e abandonaremos nossas certezas reencarnatórias.

b) Experimentais

Entre as provas experimentais, podemos citar a fenomenologia mediúnica com todas as suas nuanças. A comunicação dos Espíritos por si só prova a imortalidade da alma e, conseqüentemente, a possibilidade reencarnatória, mas é o conteúdo destas comunicações que nos dizem da certeza desta doutrina.

Temos ainda o aspecto relacionado com a regressão da memória, hoje bastante difundido nos meios cientificistas e não espíritas. A partir desta possibilidade vemos a incursão do ser em muitos momentos de suas existências pregressas.

E para finalizar as questões das provas, podemos ainda falar das lembranças de outras vidas, faculdade bastante rara, mas que já aconteceu com muitas pessoas.

Sobre este assunto indicamos a leitura do livro A Reencarnação de Gabriel Delanne, do qual tiramos, para ilustração, a narrativa abaixo, dentre tantas outras existentes nesta obra:

Há cinqüenta anos, duas crianças nasceram em uma aldeia chamada Okshitgon, um rapaz e uma menina. Vieram ao mundo no mesmo dia, em casas vizinhas, cresceram juntos, brincaram juntos, amaram-se.

Casaram-se e fizeram uma família (…)

A morte os levou no mesmo dia; enterraram-nos fora da aldeia, depois os esqueceram (…)

Nesse ano, após a tomada de Mandalay, a Birmânia inteira sublevou-se (…) Tristes tempos para os homens pacíficos, e muitos, fugindo de suas habitações, refugiavam-se nos lugares mais habitados (…)

Okshitgon estava nos centros de um dos distritos mais castigados; grande números de seus habitantes fugiram, e entre eles um homem chamado Maung Kan e sua jovem mulher. Eles se estabeleceram em Kabyn. Tiveram dois filhos gêmeos, nascidos em Okshitgon, pouco antes de abandonarem o lar. O mais velho chamava-se Maung-Gyi, isto é, Rapaz Grande. As crianças cresceram em Kabu e começaram logo a falar. Seus pais notaram com espanto que, durante os brinquedos, chamavam-se, não Maung-Gyi e Maung-Ngé, mas Maung San Nyein e Ma-Gyroin; este último é nome de mulher; Maung Kan e a esposa lembraram que assim se chamavam os cônjuges falecidos em Okshitgon, na época em que as crianças nasceram.

Eles pensavam, pois, que as almas daqueles defuntos haviam entrado no corpo dos filhos, e os levaram a Oksitgon, para os experimentar. As crianças conheceram toda Okshitgon, estradas, e casas e pessoas; chegaram a reconhecer as roupas que vestiam na vida anterior.

Não havia dúvidas. Um deles, o mais moço, lembrou-se de ter tomado emprestado duas rupias a um certo Ma-Thet, sem que seu marido o soubesse, quando era Ma-Gyroin, e essa dívida não fora saldada. Ma-Thet vivia ainda.

Interrogaram-no e ele se lembrava, com efeito, de haver emprestado esse dinheiro. (…)

(…) O menino mais velho (…) é um bom burguês, gordo rechonchudo, mas o gêmeo cadete é menos forte e tem uma curiosa expressão sonhadora.

Contaram-me muitas coisas da vida passada. Disseram que, depois da morte, viveram, algum tempo, sem corpo nenhum, errando no espaço, ocultando-se nas árvores, e isso por causa dos pecados; e, alguns meses depois, nasceram gêmeos (…) 49

49 “A Reencarnação”, cap. XI.

Objetivo da Reencarnação

Já sabemos que o Espírito reencarna, e que a reencarnação se fundamenta na Justiça Divina. Mas por que o Espírito reencarna? Com que fim?

Allan Kardec também perguntou isto aos Espíritos. Porém, pela sua capacidade didática, fez duas perguntas:

132 – Qual o objetivo da encarnação?

Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição.

Para uns é expiação; para outros missão.” 50

50 “O Livro dos Espíritos”, questão 132.

167 – Qual o fim objetivado com a reencarnação?

Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde a justiça?” 51

51 “O Livro dos Espíritos”, questão 167.

Analisando o conteúdo destas duas respostas temos: o objetivo principal da encarnação dos Espíritos, ou da reencarnação, é a evolução: Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Acontece que em uma vida só não dá para cumprir tal objetivo. O que representa sessenta ou oitenta anos para uma pessoa, em relação ao aprendizado de todas as coisas para que ela chegue à perfeição?

Assim sendo, reencarnando inúmeras vezes, quantas forem necessárias, o Espírito atinge o objetivo primordial de sua existência.

Desta forma, entendemos que expiar não é o objetivo da reencarnação, mas pode vir a ser se o Espírito não quiser evoluir pelo caminho natural do bem.

Trocando em miúdos: o Espírito só passa pela expiação quando quer, ou seja, quando não quer seguir as Leis Divinas.

Como já vimos anteriormente, a evolução também é uma Lei de Deus; portanto o Espírito tem de evoluir, consciente ou inconscientemente. Quando ele entende isso e busca esta evolução por conta própria, ele a faz sem dor. A expiação só entra na história, quando a rebeldia fala mais alto, quando ele, sabendo qual caminho a seguir, escolhe outro.

Assim, provocando sofrimento em seus semelhantes, o ser estaciona. Como ele tem de evoluir, passa pelo sofrimento como que para despertar a centelha divina que existe dentro de si, que o induz ao aperfeiçoamento.

É aí que entendemos a misericórdia que é a oportunidade reencarnatória; não é à toa que Emmanuel nos afirma:

Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por esse motivo, o ser humano deve amar a sua existência de lutas e amarguras temporárias, porquanto ela significa uma bênção divina, quase um perdão de Deus.52

52 “Emmanuel”, cap. 5.


Apostila do Curso de Espiritismo e Evangelho
Centro Espírita Amor e Caridade
Goiânia – GO

Trabalho realizado em 1997 pelo Grupo de Estudos desta Casa Espírita com a coordenação de Cláudio Fajardo