Aylton Paiva
“Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?
Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e
divulgar, porque será faltar com a caridade.
Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal
estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência
para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade.” (Questão 903 de O Livro dos Espíritos.)
“Ninguém sendo perfeito, seguir-se-à que ninguém tem o direito
de repreender o seu próximo?
Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto cada
um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja
tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis fazê-lo com moderação, para
um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último
caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja
cumprido com todo o cuidado possível.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap.X - Bem-aventurados os que são misericordiosos, item
19.)
Em nossa vida social, que envolve os ambientes familiar
e profissional, grupo religioso, momentos de lazer, temos que conviver necessariamente
com o próximo.
Jesus nos mandou amar o próximo como a nós mesmos, porém
como amaremos o próximo quando ele fala ou tem comportamento que achamos não
estar correto, quando analisados pelo princípio do direito e dever a que todos
estamos submetidos? Simplesmente silenciar, omitir-se, ainda que as suas
palavras ou conduta possam prejudicar o outro?
Observamos, então, que amar o próximo estabelece ações
concretas para que possamos ajudá-lo tanto quanto a nós mesmos.
É necessário saber analisar e exercitar a crítica, e não
a maledicência, para amorosamente falar com a pessoa, de forma construtiva.
Nesses momentos em que devemos exercitar a crítica, a
Doutrina Espírita e a Psicologia trazem-nos orientações oportunas a fim de que
a nossa ação verdadeiramente construa algo de bom e útil para o outro e também
para nós.
Com base em onze itens extraídos de um estudo de Psicologia
sobre habilidades sociais cristãs (referência ao final), podemos associar princípios
espíritas a todas as situações em que a crítica for pertinente ou necessária.
Então, tendo em vista o conhecimento do Espiritismo e o
conhecimento da Psicologia com relação à crítica, deve-se ao
FAZER:
1. Dirigir-se
diretamente à pessoa.
A análise e as observações que precisamos fazer a
respeito de alguém devem ser feitas diretamente a ela, pelo respeito e
consideração para com essa pessoa.
Fazer comentários sobre uma pessoa com outra é, na
maioria das vezes, dar ensejo à maledicência e cair na famosa “fofoca”, ou
seja, comentário que não deseja oferecer algo positivo ao outro, mas
denegrí-lo, rebaixá-lo numa tentativa de, falsamente, elevar a própria
personalidade.
2. Referir-se
ao comportamento e não à pessoa.
Quando se analisa e se faz uma crítica sobre o erro de
uma pessoa, deveremos apontar o erro no seu comportamento e não fazer um
julgamento negativo sobre ela.
3. Escolher
a ocasião adequada.
Para que uma crítica seja bem recebida é necessário que
a pessoa a quem iremos fazê-la seja respeitada.
Precisamos analisar se a ocasião é a melhor. Se não há
alguém por perto, a quem não interessa o que vamos dizer. Se a pessoa já não
está com o estado emocional alterado por outros problemas ou questões íntimas.
4. Controlar
a emoção. Crítica não é desabafo.
Por mais que a conduta da pessoa ou o erro que ela
cometeu tenha produzido em nós algo de ruim, desde a irritação até a raiva, ao
nos dirigirmos a ela precisamos ter sob controle as nossas emoções, porque
ninguém constrói nada de produtivo agredindo, ao utilizar-se da crítica.
5. Evitar produzir desconforto excessivo no interlocutor.
Se efetivamente queremos usar a crítica como forma
positiva de ajudar, melhorar, aperfeiçoar o outro, deveremos não só ter o
controle das emoções, como, também, usar as palavras de forma adequada para
esclarecer e orientar.
6. Ao fazer a crítica, apresentar um aspecto
positivo e, em seguida, falar do comportamento inadequado. Ao final, referir-se
a outro comportamento adequado da pessoa.
É muito difícil receber uma crítica com tranqüilidade,
por isso, comecemos apresentando à pessoa algo que ela tenha de bom, falando de
forma autêntica e verdadeira; em seguida apresentemos a crítica. Quando
necessário, para amenizar o impacto emocional produzido, comentemos algo
positivo que a pessoa também tem.
Ela se tornará mais receptiva à análise feita.
7. Ao falar, ser claro e sucinto.
Quando fizermos a crítica, deveremos falar com clareza,
com tranqüilidade e prender-nos estritamente ao que necessariamente tenha que
ser dito naquele instante.
Ficar com circunlóquios e repetições desnecessárias
acaba por irritar o interlocutor,
bloqueando a sua possível receptividade.
8. Evitar estilo professoral e moralista.
Ao fazer uma crítica nunca deveremos posicionar-nos como
se falássemos de cátedra ou com pretensa superioridade moral ou espiritual.
Considerando-se o erro como elemento inerente às nossas
experiências de aprendizagem, ao fazer a crítica não deveremos assumir uma
postura de quem não erra nunca e já se sente como um Ser perfeito.
Esse comportamento gera uma postura por parte da outra
pessoa de defensibilidade e de bloqueio; ainda que a crítica seja procedente ela,
mentalmente, já terá assumido um estado mental e emocional de impermeabilidade.
9. Dar
oportunidade ao outro para se justificar.
O grande avanço nas normas do Direito que regem a
elaboração das leis, principalmente na área da punibilidade, foi o
estabelecimento do princípio do contraditório.
Ninguém pode ser condenado se não tiver o direito de
defesa.
Da mesma forma, no relacionamento comum, quando surge um
fato em que alguém é criticado, ele tem o direito de se justificar e deve
ser-lhe dada a oportunidade para tal. Se a sua argumentação justifica ou não a
ocorrência, dependerá de nova análise, podendo
ser acolhida ou não.
10. Não
permitir atitudes subservientes.
Como há aquelas pessoas que ao serem criticadas, no
sentido de apontar-lhes erros, se irritam ou se enraivecem partindo para o ataque
a fim de se defender, outras assumem um comportamento de subserviência, ou seja,
de se rebaixar, desconsiderando-se.
Adotam uma postura de “coitadinho inferior”.
É preciso mostrar à pessoa o erro cometido e que se
deseja apenas a sua reparação, sem que isso fira a sua dignidade e a sua
auto-estima.
Às vezes esse comportamento revela uma compreensão
autêntica da sua falha, mas exagerado quanto à autocrítica, outras vezes, porém,
pode manifestar uma manobra para escusar-se de encarar os próprios erros.
11. Manter contato visual sem ser intimidatório.
Ao dialogarmos com a pessoa a qual fizemos a crítica,
mantenhamos contato visual com ela, sem que ele seja intimidatório ou que a
nossa postura revele uma
pretensa superioridade.
Que esse contato visual expresse compreensão, clareza e firmeza
respeitosa para com a pessoa a quem estamos expressando a nossa crítica.
Finalmente, ao adotarmos o comportamento de fazer a
crítica de maneira construtiva e educativa, estaremos atendendo à orientação do
Mestre Jesus:
“Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois
é nisto que consistem a lei e os profetas.” (Mateus, 7:12.)
“Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos
tratassem.” (Lucas, 6:31.)
Fonte: REFORMADOR, nº 2119
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX
Nº 352
Fevereiro
2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário