(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
CAPITULO II
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E MESAS GIRANTES
Chamam-se manifestações físicas as que se traduzem por efeitos sensíveis, como os ruídos, o movimento e deslocamento de corpos sólidos.
As manifestações físicas têm por propósito chamar nossa atenção sobre alguma coisa, e de nos convencer da presença de uma potência superior ao homem. Uma vez atingido esse propósito, as manifestações cessam, porque não são mais necessárias.
As Mesas Girantes
Explica Allan Kardec no desenvolvimento deste capítulo que, dentre as manifestações físicas, um dos fenômenos de efeito mais simples e um dos primeiros a serem observados, consiste no movimento circular de uma mesa. Este efeito se produz sobre todos os objetos igualmente, mas sobre a mesa é o mais cômodo, daí o nome de mesas girantes prevalecer na designação desta espécie de fenômeno.
Acrescenta que essas manifestações são conhecidas de todos os tempos e não poderia ser diferente, pois são fenômenos naturais.
Este fenômeno entreteve, durante algum tempo, a curiosidade dos salões que, depois de se cansarem, passaram a outras distrações. Para pessoas sérias e observadoras, entretanto, propiciaram campo para uma revolução no campo das idéias ao se analisar as consequências resultantes desses fenômenos.
Quando, em 1854, o Professor Rivail ouviu referências às mesas girantes, entendeu, inicialmente, que o movimento inexplicável seria efeito do magnetismo animal, do qual tinha grande conhecimento, mas, ao continuar suas observações e acompanhar os fenômenos das mesas girantes, percebeu tratar-se de fatos gerados por uma causa não identificada que merecia estudos aprofundados.
Ao presenciar o fenômeno das mesas girantes, declarou: "Entrevi, debaixo da aparente futilidade e da espécie de diversão que faziam com aqueles fenômenos, algo de sério e como que a revelação de uma nova lei que prometi a mim mesmo investigar a fundo." 1
O fenômeno das mesas girantes constituiu assim, o ponto de partida da Doutrina Espírita e por isso deve estudado com a clareza necessária.
Allan Kardec afirma que para a produção do fenômeno é necessária a participação de uma ou de muitas pessoas dotadas de aptidão especial e designadas pelo nome de médiuns.
O número de participantes é indiferente. A forma da mesa, o material de que é feita, a presença de metais, os dias , as horas, a luz, a obscuridade, etc., também são indiferentes, porém a única prescrição realmente obrigatória é a do recolhimento, do silêncio absoluto e sobretudo paciência quando o efeito demora.
Assim preparada a experiência, quando o efeito começa a se manifestar, escuta-se, geralmente, um pequeno estalido na mesa; sente-se um estremecimento que é o prelúdio do movimento; ela parece fazer um esforço para se desamarrar, depois o movimento de rotação se acentua e se acelera a tal ponto que os assistentes se esforçam para segui-lo.
Uma vez estabelecido o movimento, pode-se mesmo afastar-se que a mesa continua a mover-se, sem contato, em várias direções.
Em outras circunstâncias, a mesa se eleva e se endireita, tanto sobre um pé, quanto sobre um outro, depois retoma suavemente a posição natural. De outras, se balança para a frente e para trás e de um lado para o outro, imitando o balanço de um navio.
Outras vezes, enfim, ela se desloca inteiramente do solo, e se mantém em equilíbrio no espaço, sem ponto de apoio, elevando-se por vezes mesmo até o teto, de maneira que se possa passar por baixo; depois ela desce lentamente balançando-se como faria uma folha de papel, ou cai violentamente e se quebra, o que prova de maneira evidente que não é uma ilusão de ótica, mas para isso necessita uma potência mediúnica considerável.
Mais tarde iriam aparecer, também na Europa, as variantes do sistema das mesas girantes. Surgiriam as sessões com o "copinho deslizante" dentro de um círculo formado pelas letras do alfabeto.
Os circunstantes colocavam a ponta do dedo indicador na borda do fundo do copo emborcado sobre a mesa. Dentro de algum tempo, mais ou menos longo, o copo começava a mover-se e ia apontando as letras, uma a uma, soletrando, assim, as palavras, mas, há muitos séculos, já se empregava um método parecido de comunicação com o Invisível: trata-se das "pranchetas" muito usadas na antiga China.
O processo era semelhante. Em vez do copo, usava-se uma pequena tábua dotada de três pés que continha um indicador.
O aparelho move-se dentro de um círculo formado por letras do alfabeto, incluindo também os algarismos de 0 a 9 e as palavras sim e não. A prancheta foi reinventada em 1853, na França, e tomou o nome de "ouija".
Na realidade, o "ouija" é uma mesa de pequenas proporções.
Além desses aparelhos rudimentares, outros foram imaginados e empregados, visando a comunicação com as inteligências invisíveis que, através desse processo, vêm, há muitos e muitos anos, tentando comunicar-se com o mundo dos vivos.
É necessário mencionar também, a "corbeille" ou "carrapeta", uma cestinha de vime usada para servir o vinho em garrafa. Fixa-se um lápis na extremidade da cestinha, cuja ponta pode apoiar-se e deslizar sobre uma ardósia.
Os circunstantes colocam o dedo indicador sobre a borda da "carrapeta", a qual, após algum tempo, se movimenta escrevendo palavras e frases inteiras.
O "ouija" foi aperfeiçoado, constando de uma tábua plana de madeira, com o formato aproximado de um coração. Na extremidade mais estreita há um dispositivo para fixar-se um lápis. Duas roldanas móveis servem de apoio à parte posterior mais larga.
A interpretação de Allan Kardec
Foi nessas reuniões que Kardec começou os seus estudos sérios de espiritismo, "mais pelas observações que pelas revelações".
Aplicou à nova ciência, como sempre fizera o método da experimentação. Jamais utilizou teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava e deduzia as consequências. Através dos efeitos procurava chegar às causas pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, só admitindo uma conclusão como válida quando esta conseguia resolver todas as dificuldades da questão.
Afirmou: "Compreendi, logo à primeira vista, a importância da pesquisa que iria fazer. Vislumbrei naqueles fenômenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, tão confuso e tão controvertido, a solução daquilo que eu havia buscado toda a minha vida.
Era, em suma, uma revolução total nas idéias e nas crenças existentes. Era preciso, pois, agir com circunspeção, não levianamente. Ser positivo, não idealista, para não me deixar levar por ilusões." 1
Logo Allan Kardec percebeu que os Espíritos nada mais eram do que as almas dos homens, não possuindo nem a plena sabedoria, nem a ciência integral: "Agi com os Espíritos, como teria feito com homens. Foram para mim, do menor ao maior deles, veículos de informação e não reveladores predestinados" - declarou Kardec. 1
Fenômenos de pancadas no interior da madeira
No estudo deste capítulo II, Allan Kardec também faz referências ao fenômeno das pancadas no interior da madeira, mas o mesmo será estudado, a seguir, no capítulo III.
Conclusão
O fenômeno das mesas girantes constitui assim, um período de manifestações do Mundo espiritual, com caráter preparatório, instrutivo, visando o despertamento dos homens para a realidade transcendente do Espírito. O Professor Rivail, em seus profundos estudos, realizou notável obra de investigação, trazendo à luz a Nova Revelação, o Consolador prometido por Jesus, que veio para esclarecer e consolar os homens na Terra.
BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. II - 2ª Parte
KARDEC, Allan - Obras Póstumas: 2.ed. São Paulo: LAKE, 1997 - Pág. 217 a 222
WANTUIL, Zeus - As Mesas Girantes e o Espiritismo: Rio: FEB,1959
Tereza Cristina D'Alessandro
Junho / 2003