quinta-feira, 9 de julho de 2015

ESTUDANDO O CRISTIANISMO 5

4.5 A VIDA RELIGIOSA NOS TEMPOS DE JESUS

4.5.4 - A ORAÇÃO

De manhã e a tarde os Judeus liam por modo de oração três passagens da Lei, que eram uma exortação para ficarem fiéis a Deus. A mesma oração, aliás, rezava-se na sinagoga, por alguns  até em público nas ruas quando era o tempo da oração. ( Mt. 6.5). Rezavam em pé, de cabeça coberta. Havia ademais uma outra oração, chamada As Dezoito, por motivo das dezoito fórmulas de que se compunha. Essa oração, que todos deviam rezar três vezes ao dia, foi estabelecida no seu teor atual depois dos anos 70: mas é provável que alguma coisa semelhante existisse no tempo de Jesus, o qual porém recomendava rezar às ocultas e sem muito palavreado (Mt. 6.6,7). Rezavam antes e depois das refeições ( Mt. 20.26,27; Mc. 14.22,23,26; Lc. 22.17,19). Os doutores ensinavam orações particulares aos seus discípulos; o Precursor e o divino Salvador seguiram esses costumes ( Lc. 11. 1-4; Mt. 6.9 13).

4.5.5 - JEJUNS E ESMOLAS

Além do jejum do dia da expiação prescrito pela Lei, costumavam os Judeus nos tempos evangélicos, praticar ainda outros jejuns, para comemorar diversas calamidades do passado, como a destruição do templo de Jerusalém pelos Babilônicos. Também os Sanhedrins  locais podiam ordenar jejuns, para obter chuva, para afastar algum desastre, etc. Enfim, havia os zelosos que jejuavam duas vezes por semana, nas 2as. e 5as. Feiras ( Lc. 18.12). Os discípulos de João seguiam fielmente essa prática. ( Mt. 9.15; Mc. 2.18; Lc. 5.33). O jejum durava de uma tarde à outra, até que se percebessem no céu três estrelas medianas. 

Acompanhavam-no de sinais de tristeza e de austeridade, que Jesus reprovava ( Mt. 6.16,17). Os Judeus davam esmolas regularmente, mas só ao seu próximo, q.d. aos Judeus (Lc. 10.29,31,32). Alguns preenchiam esse dever com muita ostentação ( Mt. 6. 2-4). Fora do que se recolhia nas sinagogas, reservava-se para os indigentes em cada campo um ângulo em que se não fazia a colheita; era-lhes outorgado também o respingar e o rabiscar. Enfim assistia a todos o direito de tomar nas searas e nas vinhas o que consumiam no lugar mesmo ( Mt. 12.1; 21.19; Mc. 11.13).

4.5.6  PURIFICAÇÕES

A questão da pureza ou impureza legal era uma preocupação de capital importância entre os Judeus. 
Contraía-se a impureza pelo uso das coisas impuras de animais proibidos, pelo contato de coisas impuras como cadáveres, ossos, sepulcros, objetos contaminados por pessoas ou coisas impuras, pela entrada na casa de um pagão (Jo. 18.28-29); por algumas doenças ou certos estados fisiológicos. As prescrições das leis constituíam simultaneamente precauções higiênicas e uma lição perpétua de moral. As ocasiões de impureza legal sendo múltiplas, era mister recorrer freqüentemente a purificações: banhos completos (Jo. 13.10), lavatórios das mãos  Mc. 7.1-4, Lc. 11.38-39), dos pés (Lc. 7.44; Jo 13.4-10), lavagens de vestidos e de toda classe de utensílios  (Mt. 23.25), filtrações de líquidos em que poderia haver insetos mortos (Mt. 23.24), havia mesmo casos em que era preciso oferecer sacrifícios de purificação no templo. Essas exigências da Lei e mais ainda as prescrições arbitrárias dos doutores produziram uma separação completa entre os Judeus e os pagãos. Mesmo os Apóstolos só a custo chegaram a alargar suas idéias a esse respeito. (At. 10.11-16)

4.5.7 -  CIRCUNCISÃO

A circuncisão era o rito de incorporação ao povo de Israel. Entre os Judeus administrava-se esse rito a todo filho homem no oitavo dia do seu nascimento e nessa ocasião impunha-se-lhe o seu nome (Lc. 2.21). A circuncisão fazia-se na sinagoga ou em casa. Estava preparada uma cadeira para o profeta Elias que era reputado presenciar a Circuncisão, como aliás era crença popular estar ele perto de todos os Israelitas, que estivessem em aperto (Mt. 27.47; Mc. 15.35,36). Ligava-se tal importância a Circuncisão, que se administrava mesmo em dia de sábado. Os primeiros cristãos convertidos do judaísmo consideravam a Circuncisão como indispensável, e foi preciso uma intervenção solene para lhes fazer compreender que esse uso não obrigava mais debaixo da Nova Lei. (At. 10.28; 11.3; 15.1-29). Os Judeus gloriavam-se da Circuncisão, porque por ela tornavam-se filhos de Abraão. Consideravam essa qualidade como  um penhor de salvação (Mt. 3.9; Lc. 3.8; Jo. 8.37-42).

4.5.8. - DIREÇÃO RELIGIOSA

4.5.8.1. - ESCRIBAS OU DOUTORES DA LEI

Entre os Judeus o conhecimento mais profundo da religião com suas múltiplas prescrições, não era um apanágio dos sacerdotes. Qualquer Israelita, que tinha aptidões para isso, podia dedicar-se a esse estudo e tornar-se esperto nessa ciência. Foi assim que se formou a classe especial dos escribas ou peritos na ciência das Escrituras (Mt. 2.4; 8.19; Mc. 1.22; Lc. 5.21; Jo.8.3), chamados também doutores da Lei. (Mt. 22.35 e  23.5-7;  Lc. 5.17; 7.30; 10.25, etc.). O título que se lhes dava era rabbi ou rabboni, isto é, mestre (Mt.23.7,8;  Mc. 9.4; 10.51; Jo. 1.38;20.16). Os doutores pretendiam que se lhes prestassem as maiores honras e gostavam mesmo distinguir-se por seu modo de vestir (Mt. Mc.12.38,39; Lc. 20.46). Apesar de ser o operário digno do seu salário e por isso ter também o doutor o direito de viver da sua ciência (Mt. 10.10; Lc. 10.7), os escribas não brilhavam sempre por desinteresse (Mt. 12.40; Lc. 16.14; 20.47). Havia doutores não só na Judéia, mas também na Galiléia (Lc. 5.17) e entre os Judeus da dispersão.

4.5.8.1.1 - PAPEL DOS ESCRIBAS

O s escribas eram de fato os diretores espirituais da nação. Tomando por base a Sagrada Escritura, completavam o direito escrito dos Livros Sagrados pelo direito costumeiro, chamado Halaca, e explanavam as narrações e as doutrinas morais na Haggada . O seu ofício consistia em explanar a teoria da Lei, em manter a  sua execução prática, sobretudo nos tribunais e enfim instruir os seus discípulos. É por isso que Jesus dizia que estavam sentados na cadeira de Moisés (Mt. 23.2). Davam as suas preleções numa sala ou ao léu. Em Jerusalém reuniam seus discípulos debaixo dos pórticos do Templo ou em alguma sala dos edifícios. As interpretações que davam eram freqüentemente arbitrárias, fantásticas, estreitas e até, às vezes, repugnantes. Disso Jesus deu diversos exemplos. Em vez de raciocinar conforme as regras do bom senso, outra coisa geralmente não faziam senão apelar às sentenças dos predecessores (Mt. 15.1-3; Mc. 7.3,4,7),ou fundavam as suas decisões em distinções ridículas (Mt. 23.16-18). Aliás estavam longe de concordar entre si. No tempo de Herodes havia dois doutores famosos, Schammai e Hillel, totalmente opostos entre si em muitíssimas questões; bastava que um afirmasse para que o outro quase infalivelmente negasse. O Talmude, em que foram recolhidas por ordem as doutrinas dos principais escribas, não é por assim dizer senão um conjunto de contos e de discussões pueris, no meio das quais só aqui ou acolá encontra-se alguma idéia prestável. Um ensino haurido a tais fontes, havia de por si degenerar freqüentemente em idéias violentas (Mt. 23.16); e para caracterizar o ensino jurídico e moral deles, acusava-os de onerar os outros de encargos insuportáveis, que eles mesmos nem com o dedo tocavam; de ter tomado a chave da ciência, mas de não entrarem eles mesmos e embargarem a entrada aos outros (Lc. 11.46,52).

4.5.8.2 - OS FARISEUS

A maior parte dos escribas pertencia a uma seita, que se formara aos poucos entre os Judeus, depois da sua volta do cativeiro. Era a seita dos Fariseus, isto é, separados, assim chamados em conseqüência do seu empenho de se afastar  de todos e de tudo que, no seu conceito rigoroso, pudesse contaminar a sua pureza legal. Esmeravam-se  na observância de Lei, cujas prescrições dissecavam em minúcias incríveis. Verdade é que entre eles havia homens realmente religiosos e sinceros, mas a maioria só tinha uma piedade afetada, superficial e hipócrita. (Mt. 5.20; 23.1-39; Lc. 11. 37-54). No Evangelho encontramo-los em toda a parte ao enlace de Nosso Senhor para espiá-Lo, pôr-lhe perguntas capciosas, persegui-Lo, porque desmascarava-lhes a falsa piedade, ocupava um espaço demasiadamente grande na estima popular e não correspondia absolutamente ao conceito que se tinham formado do Messias esperado. Patriotas ardentes toleravam só forçosamente o jugo dos romanos. Viam de maus olhos qualquer relação com os estrangeiros, com os publicanos e com os pecadores. O seu ardor aparente e seu zelo granjeavam-lhes a admiração do povo. E enquanto eles desprezavam o povo como ignorante (Jo. 7.49), este os considerava como os Judeus por excelência. A sua estreiteza de espírito, a sua obstinação e a sua inveja faziam deles os piores adversários do Salvador.

4.5.8.3 - OS ESSÊNIOS

Destes não fala o Evangelho. Formavam uma seita que estava espalhada por toda a Palestina. Viviam em comunidade, abstinham-se do matrimônio, do juramento e dos sacrifícios sangrentos e excediam ainda mais que os Fariseus na observância do sábado, nas purificações e nas precauções contra qualquer impureza legal. Eram considerados como rigoristas, que levavam ao extremo a doutrina e suas usanças.( hábito antigo, tradicional). Porém tudo o que se sabe deles fica mais ou menos sujeito a dúvidas, porque documentos acerca deles, dignos de crédito absoluto, faltam
4.5.8.4 - OS SADUCEUS

Derivam o seu nome de um sacerdote, chamado Saddoc. Recrutavam-se sobretudo entre a aristocracia. O Sumo Sacerdote e os principais funcionários da nação eram Saduceus. Esses sectários quase não acreditavam na Providência; negavam a imortalidade da alma, a ressurreição do corpo (Mt. 22.23; Mc. 12.18; Lc. 20.27), a existência dos anjos e dos demônios. Desprezavam profundamente aos Fariseus, zombavam das suas discussões e do seu formalismo meticuloso. As duas seitas tiveram outrora rixas sangrentas. Depois porém ambos preferiram ficar à distância, salvo de se rejubilarem das humilhações infligidas aos adversários Satisfeitos com suas riquezas e com a estima que gozavam sob o governo romano, os Saduceus não desejavam mudanças sociais. Não lhes interessava um Messias que viesse derrubar a ordem estabelecida; em conseqüência estavam dispostos a sacrificá-lo antes que perder a amizade dos Romanos (Jo. 48,50). Foram eles que, durante a Paixão, manifestaram com maior cinismo o seu devotamento pelo imperador (Jo. 19.12-15)

4.5.8.5 - OS HERODIANOS

Estes eram os partidários de Herodes. Seu empenho era restabelecer em toda a Palestina o poder dessa família. Por tal motivo não simpatizavam com os Saduceus que favoreciam os Romanos, nem com os Fariseus que esperavam conquistar a independência pelo Messias vindouro. Contudo conluiam com estes últimos em se tratando de tender ciladas a Nosso Senhor (Mt. 22.16; Mc. 3.6;).

4.5.8.6  OS PUBLICANOS

Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavaleiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como arrendatários gerais e arrematadores de taxas do antigo regíme da França e que ainda existem nalgumas regiões.  Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: Ávido como um publicano, rico como um publicano, com referência a riqueza de mau quilate. De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Daí nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por ser considerada contrária à lei. Constituiu-se, mesmo, um partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por princípio o não pagamento do imposto. Os judeus, pois, abominavam a este e, como conseqüência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre as quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.

Sigmar Gama

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