ESTUDANDO O CRISTIANISMO 4
XV O RETORNO DO EGITO
Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho, a José no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá: e, por divina advertência, prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno. 45
44- Mt. 2 19 a 23 1
45- Isaías 11,1 cerca de 700 anos a.C.
Estes versículos levam-nos a algumas reflexões. A primeira é com relação às advertências Divinas feitas a José.
José, inicialmente, recebeu a advertência do Anjo para que tomasse o menino e sua mãe e rumasse para as terras do Egito. Assim, o fez. Após a morte de Herodes, novas advertências Divinas foram feitas a José: a primeira, informando-lhe da morte de Herodes e que eles podiam retornar às terras de Israel. A segunda, em decorrência dos últimos acontecimentos em Jerusalém e a possível preocupação de José, em proteger Jesus de novos incidentes, foi que tomasse o Menino e Maria e fosse para Galiléia. O que gostaríamos de salientar é a importância destes fatos na vida de Jesus e de sua família terrena, Maria e José. Claro está para nós que aqueles fatos podem ter influenciado José em sua tomada de decisão , mas a advertência Divina teve papel fundamental na decisão dele; por obediência, conhecimento e merecimento do casal. Tudo isto demonstra a constante influência da espiritualidade superior em nossas vidas e concita-nos a termos bons propósitos, semelhantes aos de Maria e José, para mantermos uma estreita sintonia com os mentores espirituais do Mundo Maior, no intuito de melhor avaliar nossas atitudes perante as advertências que recebemos em nosso dia-a-dia e o procedimento que deveremos tomar a partir delas, pois quando Jesus nos disse que não nos deixaria órfãos, é sinal de que Ele está conosco em todos os instantes de nossas vidas da menor às maiores decisões que deveremos tomar.
A segunda reflexão é sobre a permanência de Jesus no Egito. Baseando-se na hipótese de Jesus ter nascido entre os meses de setembro e outubro (Item 12.4), podemos fazer algumas inferências sobre o período em que Ele permaneceu no Egito.
Se aceitamos a hipótese de Jesus ter nascido no ano 749 da fundação de Roma e que oss prováveis meses são setembro ou outubro e que Herodes, o grande, morreu em 750 do mês de Nisan, março/abril, porque Arquelau, seu filho e sucessor, após a sua morte e antes de ser outorgado rei por césar, ordenou a matança no Templo durante a Páscoa judaica e como nos relata o evangelista Mateus que José foi avisado no Egito que Herodes tinha morrido e que podia tomar o menino e sua mãe e retornar, indagamos: se o aviso ocorreu imediatamente após a morte de Herodes, o retorno pode ter acontecido no próprio mês de Nisan e Jesus teria entre 6 a 8 meses que é o que julgamos mais provável, pois o evangelista nos lembra que José ficou sabendo que Arquelau reinava em lugar de seu pai Herodes, e temendo o retorno à Judéia, dirigiu-se a Nazaré.
A partir dessas informações presumimos que é bem provável que no retorno de Jesus, Maria e José, eles tenham encontrado com viajantes que voltavam da festa em Jerusalém e foram informados que Arquelau tinha herdado, por testamento, o reinado de seu pai e que ele, depois que celebrou, (...) segundo o costume do país, o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava viva o rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou sobre o trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade do seu reinado. E a todos recebeu com muita bondade e testemunhou-lhes sua gratidão, por nada ter diminuído de seu afeto por ele, com a recordação da severidade com que seu pai os havia tratado; afirmou-lhes que lhes daria provas do seu reconhecimento, disse-lhes que não tomaria ainda o nome de rei, até que Augusto tivesse confirmado o testamento de seu pai e que ele tinha recusado, por essa mesma razão, receber o diadema de todo o exército lhe havia oferecido em Jericó. Mas logo que o tivesse recebido de Augusto, que somente tinha o poder de dar-lho, ele mostraria por suas ações, que tinham razão de amá-lo e esforçar-se-ia por torná-los mais felizes do que haviam sido durante o reinado de seu pai. Mas que em seguida ordenou, contrariando tudo que havia prometido dias antes, uma grande matança de judeus durante as festividades da Páscoa. Este fato, com certeza, trouxe às cabeças de José e Maria a amarga lembrança de um outro semelhante, ocorrido meses antes - a matança dos inocentes ordenada por Herodes, seu pai - obrigando-os a irem às escondidas refugiar-se no Egito.
A partir desses acontecimentos, acreditamos que José, temendo novas matanças, tenha preferido uma cidade mais tranqüila e rumou-se para Nazaré, na Galiléia, para que Jesus pudesse crescer em paz.
Uma outra hipótese que também pode ser levantada é que o retorno de Jesus, Maria e José tenha ocorrido após a volta de Arquelau, de Roma, o que deve ter acontecido bem depois da festa de Petencostes, pois segunda anotações de Flávio Josefo em suas "Antigüidades Judaicas" as revoltas que se sucederam na Judéia, tendo como protagonistas Sabino, intendente de Augusto na Síria, ocorrendo nas proximidades da festa dos Petencostes e durando um tempo relativamente longo, quando Arquelau estava ainda em Roma, com finalidade de validar o testamento de seu pai. Sendo assim, Jesus já estaria com 2 anos, aproximadamente. Esta hipótese não nos é muito provável, pois com a decisão de César em manter o testamento de Herodes, tendo como única mudança a nomeação de Arquelau como Etnarca e não como rei e Herodes Agripa como Tetrarca da Galéia, não fazia muita diferença em ficar na Judéia ou na Galiléia, a não ser que todos soubessem de antemão que Herodes tivesse uma administração menos violenta do que o irmão Arquelau.
Com relação ao versículo 23 do capítulo 2 de Mateus quando ele relata E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno, pesquisas dão contas de não haver referências da existência de nenhuma cidade ou vilarejo na Palestina por nome de Nazaré registrada no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em documentos históricos de Israel e que a referência de Nazaré como cidade só apareceu efetivamente no século IV, quando a religião do Cristo já se destacava dentre as demais. Diante disso, julgamos pertinente a análise feita pelo Rev. A. R. Bucklando, M. A ., Arcediago de Norfolk, no seu Dicionário Bíblico Universal quando afirma que a palavra hebraica, vertida para nazareno, é netser, que significa renovo e é idêntica à palavra usada em Is. 11.1 do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo.
Desta maneira, todas as vezes que chamaram a Jesus o Nazareno, estavam pronunciando, com conhecimento ou sem o saber, um dos nomes do anunciado Messias. Todos os habitantes da Galiléia, onde se achava situada a cidade de Nazaré, eram olhados com desprezo pelo povo da Judéia por causa da singularidade das suas maneiras e de suas falas, talvez, por isso, o termo nazareno, freqüentemente aplicado a Jesus, em certas ocasiões tenha sido pronunciado com desdém, mais que depois foi adotado e glorificado por seus discípulos. Portanto, o opróbrio de Nazaré, a que se refere um homem, que era Galileu (Jo. 1.46), pode ter-se originado na má reputação pela falta de religiosidade e pelo relaxamento de costumes e este epíteto de Nazareno tenha sido aplicado com desprezo aos seguidores de Jesus em At. 24.5. O nome nazareno ainda existe em árabe, como uma simples designação dos cristãos.
Antes de prosseguirmos, porém, julgamos importante chamar a atenção para que não se confunda nazireu com nazareno. Nazireu era aquela pessoa, de um ou outro sexo, que na lei de Moisés se obrigava por votos a abster-se de vinho e de todas as bebidas alcoólicas, a deixar crescer o cabelo, e não entrar em qualquer casa em que houvesse gente morta, e a não assistir funeral. Se, acidentalmente, alguém morresse na presença de um nazireu, recomeçava este a sua consagração de nazireado. Geralmente, o voto era por certo período de tempo, mas algumas vezes por toda a vida.
A consagração de um nazireu era uma disposição, que notavelmente se assemelhava à do sumo sacerdote (Lv 21.10 a 12). O voto nazireu era feito com o fim de cultivar a soberania da vontade e vencer as baixas inclinações da natureza humana, tendo isso a significação de um sacrifício a Deus.
4 A PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS
Os parágrafos anteriores nos deram informações suficientes sobre a encarnação de Jesus em nosso orbe e o porquê da sua escolha em nascer no berço do povo judeu. No entanto, acreditamos ser de grande relevância conhecermos a situação geográfica da Palestina na época do nascimento de Jesus e alguns aspectos da vida religiosa daquele povo escolhido. Para nossa elucidação recorremos as preciosas informações que o estudioso H. Lesêtre nos traz no seu Guia através do Evangelho, tradução adaptada da segunda edição holandesa pelos Padres Drs. P.J. Cools e Adr.Drubbel, atentemos para esse estudo.
4.1 - A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA
NOME E LIMITES.
O nome Palestina vem da palavra hebraica Peleschet, país dos Pelischtim ou Filisteus. Os Filisteus, os temidos inimigos dos antigos Hebreus, habitavam a costa ocidental do país de Canaan. Do antigo país dos Filisteus o nome Palestina passou mais tarde à região inteira, que do tempo de Cristo estava habitada pelos Israelitas.
A Palestina confinava no sul com a Iduméia e os desertos, que se estendiam até o Egito, ao leste com os ermos da Arábia e da Ituréia; ao norte com a Síria e a Fenícia a qual desce como uma cunha ao longo da costa; ao oeste com o Mar Mediterrâneo. Assim delimitado, o país, do norte ao sul, mede cerca de 200 quilômetros. A superfície é de 25.124 km quadrados.
4.2 - CONFIGURAÇÃO DO TERRENO
A Palestina é um país montanhoso, formado por pequenas serras, que são a prolongação do Líbano e do Antilíbano . Os cumes mais altos atingem 938 metros no monte Ebal, na Samaria; 790 metros em Jerusalém, e 1027 metros um pouco ao norte de Hebron. Muitas grutas estão formadas no terreno calcário e argiloso.
Um vale profundo, em que flui o Jordão, divide o país pelo meio do norte ao sul. O Jordão tem sua origem aos pés do Hermon, uma alta montanha do Antilíbano, de 2760 metros de altura, atravessa primeiro o pequeno lago de Meron, depois o grande lago ou mar de Tiberíades, que mede 21quilômetros de comprimento e 10,5 de largura, e é situado a 208 metros abaixo do nível do mar, e desemboca, após um percurso muito sinuoso, no Mar Morto. Este mar tem 76 quilômetros de comprimento, com uma largura de 15,7 quilômetros e o seu nível está a 387 metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo. Algumas torrentes lançam-se, à direita e à esquerda, no Mar Morto e no Jordão; uma dezena de regatos insignificantes deságuam, de outra banda, no Mediterrâneo. A Palestina não tem planícies importantes senão no Vale do Jordão, e no oeste, as grandes planícies de Ésdrelon, ao norte do Monte Carmelo, e de Saron, à beira do Mar.
4.3 CLIMA
A Palestina tem dois climas bastante diferentes. Na parte montanhosa, o inverno vai de novembro até março. O gelo e a neve são bastante raros; no mês de fevereiro, o mês mais frio, a temperatura média é de 8º C; em agosto, o mês mais quente, a temperatura média é de 25º C. Nas regiões mais baixas, especialmente na planície baixa e encaixada do Jordão, o inverno é muito suave; mas de abril a outubro, o calor é enervante. Não cai chuva na Palestina senão desde fins de outubro até fins de abril; chuvas abundantes e contínuas há só em dezembro e janeiro; nos demais seis meses o céu está quase de contínuo sem nuvens. As noites são habitualmente frescas (Mc. 14.67; Jo. 18.18,25) e o orvalho é muito abundante.
Com semelhante clima e uma cultura ativa, o terreno produzia abundância de cereais, frutos e vinha. A colheita de cevada fazia-se nas planícies na Segunda metade de abril; a do trigo, no princípio de maio (Mt. 12.1; Mc. 2.23; Lc. 6.1). A terra era tão fértil que, se não tomasse cuidado, os espinhos e os abrolhos logo brotavam (Mt. 13.7; Mc. 4.7, Lc. 8.7). A maior parte das árvores da Palestina, oliveiras, ciprestes, terebintos, etc, ficam verdes o ano inteiro e oferecem uma sombra constante.
4.4 - DIVISÃO TERRITORIAL
Na época de Jesus a Palestina compreendia cinco províncias distintas: ao oeste do Jordão a Judéia, a Samaria e a Galiléia; ao leste, a Peréia e a Decápole. A Judéia, a Galiléia e a Peréia só constituíam o domínio judio propriamente dito.
Sigmar Gama
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