terça-feira, 17 de maio de 2016

Céu inferno_062_2ª parte cap. V - Suicidas - Duplo Suicídio, por amor e por dever

Céu inferno_062_2ª parte cap. V - Suicidas - Duplo Suicídio, por amor e por dever

TEXTO PARA ESTUDO

É de um jornal de 13 de junho de 1862 a seguinte narrativa:

"A jovem Palmyre, modista, residindo com seus pais, era dotada de aparência encantadora e de caráter afável. Por isso, era, também, muito requestada a sua mão. Entre todos os pretendentes ela escolheu o Sr. B ..., que lhe retribuía essa preferência com a mais viva das paixões. Não obstante essa afeição, por deferência aos pais, Palmyre consentiu em desposar o Sr. D..., cuja posição social se afigurava mais vantajosa àqueles, do que a do seu rival. Os Srs. B... e D... eram amigos íntimos, e posto não houvesse entre eles quaisquer relações de interesse, jamais deixaram de se avistar. O amor recíproco de B... e Palmyre, que passou a ser a Sra. D..., de modo algum se atenuara, e como se esforçassem ambos por contê-lo, aumentava-se ele de intensidade na razão direta daquele esforço. Visando extingui-lo, B... tomou o partido de se casar, e desposou, de fato, uma jovem possuidora de eminentes predicados, fazendo o possível por amá-la.

"Cedo, contudo, percebeu que esse meio heroico lhe fora inútil à cura. Decorreram quatro anos sem que B... ou a Senhora D... faltassem aos seus deveres.

"O que padeceram, só eles o sabem, pois D. .., que estimava deveras o seu amigo, atraía-o sempre ao seu lar, insistindo para que nele ficasse quando tentava retirar-se.

"Aproximados um dia por circunstâncias fortuitas e independentes da própria vontade, os dois amantes deram-se ciência do mal que os torturava e acharam que a morte era, no caso, o único remédio que se lhes deparava. Assentaram que se suicidariam juntamente, no dia seguinte, em que o Sr. D... estaria ausente de casa mais prolongadamente. Feitos os últimos aprestos, escreveram longa e tocante missiva, explicando a causa da sua resolução: para não prevaricarem. Essa carta terminava pedindo que lhes perdoassem e, mais, para serem enterrados na mesma sepultura.

"De regresso a casa, o Sr. D... encontrou-os asfixiados. Respeitou-lhes os últimos desejos, e, assim, não consentiu fossem os corpos separados no cemitério."

Sendo esta ocorrência submetida à Sociedade de Paris, como assunto de estudo, um Espírito respondeu:

"Os dois amantes suicidas não vos podem responder ainda. Vejo-os imersos na perturbação e aterrorizados pela perspectiva da eternidade. As consequências morais da falta cometida lhes pesarão por migrações sucessivas, durante as quais suas almas separadas se buscarão incessantemente, sujeitas ao duplo suplício de se pressentirem e desejarem em vão.

"Completa a expiação, ficarão reunidos para sempre, no seio do amor eterno. Dentro de oito dias, na próxima sessão, podereis evocá-los. Eles aqui virão sem se avistarem, porque profundas trevas os separarão por muito tempo."

1. - Evocação da suicida. - Vedes o vosso amante, com o qual vos suicidastes? - R. Nada vejo, nem mesmo os Espíritos que comigo erram neste mundo. Que noite! Que noite! E que véu espesso me circunda a fronte!

2. - Que sensação experimentastes ao despertar no outro mundo? - R. Singular! Tinha frio e escaldava. Tinha gelo nas veias e fogo na fronte! Coisa estranha, conjunto inaudito! Fogo e gelo pareciam consumir-me! E eu julgava que ia sucumbir uma segunda vez!...

3. - Experimentais qualquer dor física? - R. Todo o meu sofrimento reside aqui, aqui ...

- Que quereis dizer por aqui, aqui? - R. Aqui, no meu cérebro; aqui, no meu coração...

É provável que, visível, o Espírito levasse a mão à cabeça e ao coração.

4. - Acreditais na perenidade dessa situação? - R. Oh! sempre! sempre! Ouço às vezes risos infernais, vozes horrendas que bradam: sempre assim!

5. Pois bem: podemos com segurança dizer-vos que nem sempre assim será. Pelo arrependimento obtereis o perdão. - R. Que dizeis? Não ouço.

6. - Repetimos que os vossos sofrimentos terão um termo, que os podereis abreviar pelo arrependimento, sendo-nos possível auxiliar-vos com a prece. - R. Não ouvi além de sons confusos, mais que uma palavra. Essa palavra é: - graça! Seria efetivamente graça o que pronunciastes? Falastes em graça, mas sem dúvida o fizestes à alma que por aqui passou junto de mim, pobre criança que chora e espera.

Nota - Uma senhora, presente à reunião, declarou que fizera fervorosa prece pela infeliz, o que sem dúvida a comoveu, e que de fato, mentalmente, havia implorado em seu favor a graça de Deus.

7. - Dissestes estar em trevas e nada ouvir? - R. É-me permitido ouvir algumas das vossas palavras, mas o que vejo é apenas um crepe negro, no qual de vez em quando se desenha um semblante que chora.

8. - Mas uma vez que ele aqui está sem o avistardes, nem sequer vos apercebeis da presença do vosso amante? - R. Ah! não me faleis dele. Devo esquecê-lo presentemente para que do crepe se extinga a imagem retratada.

9. - Que imagem é essa? - R. A de um homem que sofre, e cuja existência moral sobre a Terra aniquilei por muito tempo.

Nota - Da leitura dessa narrativa logo se depreende haver neste suicídio circunstâncias atenuantes, encarado como ato heroico provocado pelo cumprimento do dever. Mas reconhece-se, também, que, contrariamente ao julgado, longa e terrível deve ser a pena dos culpados por se terem voluntariamente refugiado na morte para evitar a luta. A intenção de não faltar aos deveres era, efetivamente, honrosa, e lhes será contada mais tarde, mas o verdadeiro mérito consistiria na resistência, tendo eles procedido como o desertor que se esquiva no momento do perigo.

A pena consistirá, como se vê, em se procurarem debalde e por muito tempo, quer no mundo espiritual, quer noutras encarnações terrestres; pena que ora é agravada pela perspectiva da sua eterna duração. Essa perspectiva, aliada ao castigo, faz que lhes seja defeso ouvirem palavras de esperança que porventura lhes dirijam. Aos que acharem esta pena longa e terrível, tanto mais quanto não deverá cessar senão depois de várias encarnações, diremos que tal duração não é absoluta, mas dependente da maneira pela qual suportarem as futuras provações. Além do que, eles podem ser auxiliados pela prece. E serão assim, como todos, os árbitros do seu destino. Não será isso, ainda assim, preferível à eterna condenação, sem esperança, a que ficam irrevogavelmente submetidos segundo a doutrina da Igreja, que os considera votados ao inferno e para sempre, a ponto de lhes recusar, com certeza por inúteis, as últimas preces?

QUESTÕES PARA ESTUDO

1. Por que eles não podem se ver no plano espiritual? Qual a consequência do suicídio para os dois?

2. Quais sensações (incluindo físicas) a mulher sentiu no seu despertar após o desencarne?

3. Os sofrimentos do casal terão um fim?

4. Por que, neste caso, o suicídio terá atenuantes em favor dos dois?

5. Qual será a pena deles?

6. E a duração da mesma?


CONCLUSÃO

1. Porque estão mergulhados na perturbação. As consequências do suicídio os punirão durante migrações sucessivas, onde suas almas separadas procurar-se-ão sem cessar, e sofrerão o duplo suplício, do pressentimento e do desejo. Cumprida a expiação, estarão reunidos para sempre no seio do eterno amor. Por enquanto, ainda não se verão: é como se uma noite profunda, por muito tempo, os esconderá um ao outro.

2. Ela sentia frio e queimava; o gelo corria em suas veias e o fogo estava em sua fronte. Uma mistura estranha. O gelo e o fogo pareciam constrangê-la. Pensou que iria sucumbir ainda uma segunda vez. Todo o seu sofrimento se encontrava no cérebro e no coração.

3. Sim, os sofrimentos dos dois terão um fim, que poderão apressar com o arrependimento e, nisso, os encarnados podem ajudar através da prece.

4. Neste caso, se está disposto a encontrar atenuantes a favor dos dois, considerando-o mesmo como um ato heroico, uma vez que foi provocado pelo sentimento do dever. Vê-se que foi julgado de outro modo, e que a pena dos culpados é longa e terrível por se refugiarem voluntariamente na morte, a fim de fugirem da luta; a intenção de não faltarem aos seus deveres, sem dúvida, é digna e isso lhes será levado em conta mais tarde, mas o verdadeiro mérito seria vencer o arrastamento, ao passo que fizeram como o desertor que se esquiva no momento do perigo.

5. A pena dos dois, como se vê, consistirá em se procurarem por muito tempo sem se reencontrarem, seja no mundo dos Espíritos, seja em outras reencarnações terrestres; ela está momentaneamente agravada pela ideia de que seu estado presente deverá durar para sempre; fazendo essa ideia parte do castigo, não lhes foi permitido ouvirem as palavras de esperança que lhes foram dirigidas.


6. Sua duração não é absoluta, e dependerá da maneira como suportarão as suas provas futuras, no que se pode ajudá-los pela prece; eles serão, como todos os Espíritos culpados, ao árbitros do seu próprio destino.

ESTUDO 66 O LIVRO DOS MÉDIUNS - SEGUNDA PARTE DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS – CAPITULO XVI - MÉDIUNS ESPECIAIS - Item 189 Variedades especiais para os efeitos físicos – Médiuns motores, para translação e suspensão.

O LIVRO DOS MÉDIUNS

(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)

Por
ALLAN KARDEC

Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.

SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPITULO XVI

MÉDIUNS ESPECIAIS 


Estudo 66 - Item 189 Variedades especiais para os efeitos físicos – Médiuns motores, para translação e suspensão.

Relembramos que a mediunidade apresenta infinitas variedades de expressão e que a divisão dos médiuns em médium de efeitos físicos e de efeitos inteligentes é aplicada para facilitar o nosso entendimento. Recordamos ainda, que a mediunidade de efeitos físicos se expressa através de médiuns considerados especiais, que são aptos a produzirem fenômenos que se traduzem por efeitos sensíveis aos órgãos dos sentidos, tais como, ruídos, movimentos, deslocamentos de corpos sólidos. Para que tais efeitos se processem, é necessária a intervenção de um ou mais médiuns especiais que por efeito de sua constituição, possibilitam maior emanação de fluido animalizado, mais ou menos fácil de combinar-se com o fluido universal, com os fluidos próprios do plano dos Espíritos, com os quais, por ação da vontade dão vida factícia ou momentânea a determinados objetos, produzindo os fenômenos citados anteriormente.

Mediunidade motora: a que produz movimentos dos corpos inertes. Sob sua ação os objetos se movem, se erguem, reviram dão saltos, giram com violência, oscilam e continuam a mover-se em todos os sentidos, sem contato. Às vezes o objeto retorna suavemente à posição inicial, outras vezes mantêm-se equilibrado no espaço sem nenhum ponto de apoio, eleva-se até o teto ou despenca violentamente e quebra-se, provando aos que presenciam a cena que não há ilusão. Recordemos o exemplo do sr Home que, para provar que não havia ilusão, enquanto suspenso fez marca de lápis no teto e pediu que pessoas passassem por baixo dele.

Mediunidade para translação e suspensão: os efeitos são exteriorizados por translação aérea, isto mudar de um lugar para outro, e a elevação de corpos inertes no espaço, sem ponto de apoio. Entre eles há os que podem elevar-se a si mesmos, Os primeiros são raros e os últimos raríssimos. Os livros Levitação e Levitação do corpo humano de Abert de Rochas aprofundam o assunto e o sr Home, acima citado, enquadra-se também nessa modalidade. Ver os itens de 75 s 80 de O Livro dos Médiuns.

Mediunidade para efeitos musicais: provoca a execução de composições em certos instrumentos de música sem contato com estes. Muito raros. As teclas se abaixam e tangem as cordas do piano, por exemplo, obedecendo-lhes a vontade. Transcrevemos texto de O Livro dos Médiuns, item 74 – 24: “(...) quando o Espírito movimenta as teclas com os dedos ele o faz realmente. Mas não é pela força muscular que ele faz a pressão. Ele anima a tecla, como faz com a mesa, e a tecla obedece à sua vontade e vibra a corda. Neste caso também ocorre um fato de difícil compreensão para vós. É que certos espíritos são ainda tão atrasados e de tal forma materiais, em comparação com os Espíritos elevados, que conservam as ilusões da vida terrena e julgam agir como quando estavam no corpo. Não percebem a verdadeira causa dos efeitos que produzem, como um pobre homem não compreende a teoria dos sons que pronuncia. Se perguntares como tocam piano, dirão que com os dedos, pois assim creem fazer. Produzem de maneira instintiva, sem o saberem, e não obstante pela sua vontade. Quando falam e se fazem ouvir é a mesma coisa.

Continuaremos estudando variedades especiais de médiuns para os efeitos físicos no próximo estudo.

Bibliografia:

KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap XVI - 2ª Parte

BIGHETTI, Leda Marques – Educação Mediúnica “Teoria e Prática” 1º volume: 1.ed Ribeirão Preto: BELE, 2005 – pág 160 e 161
             

Tereza Cristina D'Alessandro
Março / 2007


Centro Espírita Batuíra
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto - SP


#16 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO ITEM 5: O PONTO DE VISTA

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – XVI

CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

ITEM 5: O PONTO DE VISTA


Os raciocínios apresentados por Allan Kardec, neste estudo, são importantíssimos para o entendimento da importância da certeza da vida futura no viver do homem na Terra. Todo o ensino de Jesus, centrado no reino de Deus a ser desenvolvido no interior de cada um, só pode ser entendido com a existência da vida futura, além da morte, comprovada por Jesus nas suas aparições após a crucificação.

Esta realidade espiritual, a que Hermínio C. Miranda chamou de mensagem esquecida, “com tudo o que nela está implícito e explícito”, no seu livro “Cristianismo, A Mensagem Esquecida” precisa ser refletida, analisada para ser entendida e aceita, porque sem ela a vida na Terra seria sempre um vale de lágrimas e o homem um ser angustiado e sem rumo, por viver percebendo sempre apenas o presente, o que o leva a pensar somente em si, no que lhe traz prazer e felicidade. Os outros são os outros...

Todo aquele que vê somente a vida presente ou aquele que duvida da vida futura só pode colocar seus pensamentos, seus sonhos, seus objetivos nas coisas terrenas, nos seus valores, nos seus prazeres. Então, ser feliz se constitui no ter, no conquistar coisas que o valorizem a seu olhos e, quase sempre, aos olhos dos outros. Trabalha então com toda sua inteligência, todo seu potencial intelectual na obtenção desses valores. Coloca enfim sua felicidade em coisas exteriores a ele, permanecendo sempre insatisfeito, porque sempre há algo que não possui ou não usufrui.

Da mesma forma, qualquer perda, por menor que seja, lhe traz contrariedades e sofrimentos. Vive então, sempre ansioso, em estado de defesa, sempre alerta e desconfiado.

Não é feliz, tem apenas momentos fugazes de felicidade. Analisa todos os acontecimentos, as situações, as ações e reações dos outros, segundo sua visão de vida única e findável e assim, tudo fica muito grande, tudo adquire uma importância exagerada.

O médico não atendeu, prontamente, seu filho:” - Vou processá-lo.” A comida estava um tanto fria, xingamentos ou agressão silenciosa, saindo da mesa.

Geralmente são exigentes consigo e com os outros, não admitindo erros, enganos. Embora se considerem pessoas fortes, são frágeis nas adversidades, nas doenças, nas mortes de entes queridos... 

Como tudo muda com a aceitação consciente e racional da vida futura! Entende-se estar na Terra apenas por determinado tempo, procura-se perceber as coisas boas, belas e úteis que nela existem, que fazem bem, a si próprio e a todos. As contrariedades e as dificuldades são todas passageiras, devendo ser solucionadas ou aceitas, dando-lhes a importância que têm, valorizando sempre e mais as boas e úteis.

Vive-se na Terra por tão pouco tempo! A vida terrena passa tão depressa que não vale a pena perder tempo com coisas que exigem apenas entendimento para solucioná-las.

Precisa-se apenas do necessário para a sobrevivência, para o conforto, para o laser... Precisa-se muito da convivência com os outros, do prazer de amar e ser amado, do trabalho em conjunto, da amizade, da tolerância e da paciência alheia e quem exagera a importância das coisas materiais, não tem tempo para perceber e satisfazer as necessidades espirituais suas e dos outros. 

Com a vida futura, a morte desaparece, perde-se por algum tempo a presença material do ser amado, mas a vida continuando, sempre haverá o reencontro amoroso e feliz!

Os problemas, as dificuldades, os equívocos são vistos como conseqüências naturais do processo evolutivo de um mundo também em evolução, devendo, portanto, ser analisados e resolvidos sem criar novos e mais sérios problemas. São vistos e percebidos nas suas reais dimensões, sem exageros de importância, o que propicia condições de serem resolvidos com soluções adequadas e definitivas.
Há, pois, duas maneiras de se analisar o viver na terra, dois pontos de vista iniciais: o material e o espiritual e da escolha de um deles, depende a nossa paz interior.

Partindo-se do primeiro, a análise será sob a visão de algo muito pobre e pequeno, baseado na percepção de um mundo difícil, caótico, violento, injusto, desigual, no qual se nasce sem pedir e sem querer, sonha-se, luta-se para sobreviver, para conseguir determinadas coisas consideradas importantes para a felicidade, casa-se, têm-se filhos, aprende-se muito, envelhece-se e, se angustia sabendo que a morte vai chegar e tudo se findará.

Partindo-se do ponto de vista da vida futura, além da morte, tudo ganha um sentido diferente. Aqui estamos para desenvolver nosso potencial intelectual e moral, e devemos usar os recursos que a Terra nos oferece para sermos o mais feliz possível, respeitando também o direito dos demais de também serem felizes. Ainda mesmo quando não se tem certeza de como essa continuidade de vida se processa, ainda assim a vida na Terra demonstra ter um sentido, uma finalidade e, tudo passa a ter causas e efeitos, nada sendo aleatório. 

O aceitar-se a vida futura torna a pessoa mais responsável pelos seus atos, tanto em relação a si mesmo como em relação aos outros; estimula o homem a procurar viver melhor com seus semelhantes, a desempenhar suas funções de forma a contribuir para o bem estar de todos, pois percebe melhor a dependência que temos uns dos outros, para sentirmo-nos mais felizes. 


Leda de Almeida Rezende Ebner 
Setembro / 2002


Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)

O CENTRO ESPÍRITA BATUIRA esclarece que permanece divulgando os estudos elaborados pela Sra Leda de Almeida Rezende Ebner após o seu desencarne, com a devida AUTORIZAÇÃO da família e por ter recebido a DOAÇÃO DE DIREITOS AUTORIAIS, conforme registros em livros de Atas das reuniões de diretoria deste Centro.

ESTUDO EVANGÉLICO 50 - LIVRO PALAVRAS DE VIDA ETERNA - TEMA: "No Solo do Espírito"


Livro: Palavras de Vida Eterna

Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

ESTUDO 50



"No Solo do Espírito"


"E outra caiu em boa terra e deu fruto; um a cem, outro a
sessenta e outro a trinta."
 - Jesus
(MATEUS, 13:8)

Emmanuel se baseia na "Parábola do Semeador" para desenvolver o tema desta lição e transfere a imagem para o solo do Espírito, que representa a condição moral e intelectual de cada um, no qual encontramos todos os tipos de terrenos espirituais, ou seja, homens - espinheiros, homens - parasitas, homens - calhaus, homens – superficiais, homens - venenos, etc., mas, também, homens - searas, que trazem consigo o solo produtivo do caráter reto, que sabem acolher as sementes do conhecimento superior, produzindo as colheitas do bem para o próximo.

A Parábola do Semeador resume o caráter, o feitio moral de cada Espírito, ao mesmo tempo em que ensina como distingui-los pela maneira como recebem os ensinamentos espirituais.

Pelo modo de agir vemos aqueles que, diante dos ensinamentos de Jesus, são "beiras de caminho" os quais passam todas as idéias grandiosas sem gravar nenhuma delas, são "pedras" impenetráveis às novas idéias; são espinhos que sufocam o crescimento de todas as verdades, como plantas espinhosas que matam os vegetais que tentam crescer a sua volta.

A "semente" representa os ensinamentos de Jesus, que são sempre os mesmos ensinados em toda parte, desde que o homem se achou em condições de recebê-los.

Se as propostas de aperfeiçoamento não agem com a mesma eficácia em todos, é por causa da variedade e da desigualdade de Espíritos que existem na Terra, uns adiantados, outros atrasados; uns propensos ao bem, à caridade, à liberalidade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho, apegados aos bens terrenos.

Na parábola, o semeador não semeou apenas em terra propícia, mas, em diversos tipos de terreno. Simboliza a misericórdia de Deus oferecendo oportunidade a todos os seus filhos, pois, os ensinos de Jesus não foram dirigidos para um grupo específico, mas, para todos sem distinção, porque são universais.

Como temos liberdade para escolher, a frutificação ou não da semente não depende do Semeador, e sim de cada um de nós.

Emmanuel convida a que façamos um exame, através da meditação, e será fácil reconhecermos que espécie de terreno estamos sendo.


Maria Aparecida Ferreira Lovo
Setembro / 2005

MATEUS 13
8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.

Centro Espírita Batuira

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Ribeirão Preto (SP)

EVANGELHO ESSENCIAL 9 #9 - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS

EVANGELHO ESSENCIAL 9
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti

9 - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS

Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.
(S.MATEUS, cap. V, v. 4.)

Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (Id., v.9.)

Sabes que foi dito aos antigos: Não matarás e quem quer que mate merecerá condenação pelo juízo. - Eu, porém, te digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá ser condenado no juízo; que aquele que disser a seu irmão: Raca,

merecerá ser condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser:

És louco,

merecerá ser condenado ao fogo do inferno. (Id., vv. 21 e 22.)

Injúrias e Violências

Jesus faz da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena a violência, a cólera e até toda expressão descortês que alguém possa usar para com seus semelhantes.
* * *

Por que uma simples palavra pode ser tão grave que mereça severa reprovação? É que toda palavra ofensiva exprime um sentimento contrário à lei do amor e da caridade que deve estabelecer as relações entre os homens e manter entre eles a concórdia e a união; é que constitui um golpe desferido na benevolência recíproca e na fraternidade que alimenta o ódio e a animosidade; é que, depois da humildade para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão.
* * *

Enquanto aguarda os bens do Céu, tem o homem necessidade dos da Terra para viver. Apenas o que Jesus lhe recomenda é que não dê aos bens da Terra mais importância do que aos do Céu.
* * *

Até agora os bens da Terra são tomados pelos violentos, em prejuízo dos que são brandos e pacíficos; que a estes falta muitas vezes o necessário, ao passo que outros têm o supérfluo ou em excesso.
* * *

Quando a lei de amor e de caridade for a lei da humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados, nem esmagados pelo forte e pelo violento. Tal a condição da Terra, quando, de acordo com a lei do progresso e a promessa de Jesus, se houver transformado em um mundo feliz, pelo afastamento dos maus.
* * *

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

A afabilidade e a doçura
Espírito Lázaro –Paris, 1861

O mundo está cheio de pessoas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são doces, desde que nada as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, dourada quando falam pela frente, se transforma em dardo venenoso quando estão por detrás.
* * *

A essa classe pertencem os homens benignos fora de casa, mas que são tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do seu orgulho e do autoritarismo, como para compensar o constrangimento que fora de casa se submetem. Não ousando agir autoritariamente com os estranhos, que os colocariam no seu lugar, querem pelo menos ser temidos pelos que não podem resistir-lhes.
* * *

Não basta que os lábios falem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas , jamais se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse sabe que se, pelas aparências, consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana.

A paciência
Um Espírito Amigo- Havre, 1862

Sejam pacientes. A paciência também é uma caridade e deves praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há muito mais difícil e muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos dos nossos sofrimentos e para nos submeterem à prova a paciência.
* * *

A vida é difícil, mas se olharmos para os deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, haveremos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece mais leve quando olhamos para o alto do que quando se curva o rosto para a terra.
* * *

Coragem! O Cristo é o modelo. Mais sofreu ele do que qualquer um de vocês e nada tinha de que ser acusado, enquanto que vocês tem de expiar o passado e de se fortalecer para o futuro. Sejam pacientes, sejam cristãos. Essa palavra resume tudo.

Obediência e resignação
Espírito Lázaro – Paris, 1863

A doutrina de Jesus ensina sempre a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, embora os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade.
* * *

A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porque carregam o fardo das provações que a revolta insensata não suporta.
* * *

Cada época é marcada com a característica da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude de sua geração é a atividade intelectual; seu vicio é a indiferença moral.
* * *

A cólera
Um Espírito Protetor –Bordéus, 1863

O orgulho lhes leva a julgar-se mais do que são; a não aceitar uma comparação que lhes possa rebaixar; a se considerarem tão acima dos seus irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo lhes irrita e aborrece. E o que acontece então? - Entregam-se à cólera.
* * *

Procurem a origem desses acessos de loucura passageira que lhes igualam aos brutos, fazendo perder o sangue-frio e a razão; procurem e quase sempre encontrarão como base o orgulho ferido.
* * *

Até mesmo a impaciência, causadas pelas contrariedades muitas vezes infantis, decorre da importância atribuída á sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem curvar-se.
* * *

Em seu entusiasmo delirante, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque não lhe obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue frio, ou teria medo de si próprio, ou se reconheceria ridículo! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros.
* * *

Se pensasse que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde e compromete sua própria vida, reconheceria ser ele mesmo a sua primeira vítima.
* * *

A cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar a fazer-se muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se por dominá-la.
* * *

Espírito Hahnemann – Paris, 1863

Segundo a ideia muito falsa de que não é possível alterar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se alegra voluntariamente, ou que exigiriam muita perseverança para serem eliminados.
* * *

É assim que o indivíduo inclinado a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu temperamento, acusando a Deus pelos seus próprios defeitos.
* * *

O corpo não dá impulsos de cólera àquele que não os tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são próprios da natureza do Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade?
* * *

o homem só permanece vicioso porque quer permanecer vicioso; mas aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer.

COMENTÁRIO

BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS

Se estudarmos a vida de Jó iremos nos convencer da misericórdia e complacência de Deus. Jesus, nos convida a sermos brandos e pacíficos, pois que possuiremos a Terra. A afabilidade, a doçura, a paciência, a obediência e a resignação são as virtudes que nos cabe cultivar. Evidente que nos é difícil praticar tais virtudes quanto mais cultivá-las em definitivo. Mas é o que nós exigimos dos nossos irmãos de jornada para conosco e infeliz daquele que não se dispuser a nos oferecer tal tratamento. É comum, em nosso meio, alguns irmãos se dirigirem ao próximo e mesmo ao seu mais próximo, seus familiares, dizendo: você é indelicado, mal-educado, eu irei falar com seu superior, ou familiar mais influente e pedir mais respeito ,se não somos atendidos como queremos. Jesus, amor por excelência, deu-nos o exemplo prático de como deveríamos tratar nosso semelhante para alcançarmos o tratamento que gostaríamos para nós. Vemos no capítulo em estudo que Jesus nos dá a regra direitinho. Será possuidor da Terra aquele que for brando e pacífico, ou seja, será morador da Terra, pois com suas virtudes irá merecer o respeito e a deferência aos homens de bem na Terra. Não essa posse obsessiva de poder, de ter, mas aquela em que compartilhamos dos benefícios de seu produto, da fraternidade ao nosso próximo mais necessitado, e da observância da amorosidade para com aqueles menos favorecidos. E mesmo pela inobservância daquele para com sua posição, deixar o nosso orgulho de lado e sermos complacentes, assim como Deus é para conosco, dando-nos a oportunidade de sermos exemplos àqueles que sofrem, e termos mais brandura e paciência, pois se somos mais aquinhoados é porque quis Deus fossemos seus contemplados para espalhar da sua Misericórdia e complacência entre aqueles que ainda não aprenderam a observar-Lhe isto. Somos responsáveis pela riqueza que nos foi dada para sermos desprendidos, e compartilharmos entre os que necessitam, não de forma protecionista e gerando dependências, mas da forma como Deus ensinou a Jó, dando oportunidades de trabalho e remissão compreensiva de tudo que Ele nos dispõe. Devemos respeito a todos indistintamente, pois estamos de passagem pela Terra em oportunidade disposta a nós para evoluirmos e prestarmos testemunho da nossa compreensão e tolerância amorosa efetiva. Diz Jesus em suma, a ninguém é lícito julgar o próximo, ou fazer prevalecer seu conhecimento, e nem mesmo seus títulos, pois no mundo Espiritual não nos é dado ostentar nenhum destes. E mesmo o menor dos servidores aqui na Terra, poderá ser um espírito muito mais culto e evoluído do que nós em razão da nossa limitada capacidade de medir aqui. Lembremo-nos que somos todos irmãos em Deus, pois fomos criados por Ele para juntos conquistarmos os conhecimentos e evolução moral que nos capacite galgar um novo degrau na escala evolutiva, rumo à perfeição.

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 22 #Discurso II

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 22

Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

Discurso II

 (Allan Kardec, in “Viagem Espírita de 1862”)

O Espiritismo apresenta um fenômeno desconhecido na história da filosofia: a rapidez de sua propagação.

Nenhuma outra doutrina oferece exemplo semelhante. Quando se afere o progresso que vem sendo feito, ano após ano, pode-se, sem nenhuma presunção, prever a época em que ele será a crença universal.

A maioria dos países estrangeiros participam do movimento: Áustria, Polônia, Rússia, Itália, Espanha, Constantinopla, etc., contam numerosos adeptos e várias sociedades perfeitamente organizadas. Possuo uma relação onde estão arroladas mais de cem cidades, com grupos em funcionamento. Entre elas, Lyon e Bordeaux ocupam o primeiro lugar. Honremos, pois, essas duas cidades, que se impõem por sua população e sua cultura e onde tão alto e tão firmemente foi hasteada a bandeira do Espiritismo. Muitas outras ambicionam caminhar em suas pegadas.

A esse mesmo respeito palestrei com vários viajantes. Todos estão de acordo em dizer que, a cada ano, registram-se progressos na opinião pública. Os galhofeiros diminuem à vista d’olhos. Mas ao escárnio sucede a cólera.

Ontem riam-se, hoje zangam-se. De acordo com um velho provérbio, isso é de bom augúrio e leva os incrédulos a concluir que à questão deve estar implícito um motivo sério qualquer.

Um fato não menos característico é que tudo quanto os adversários do Espiritismo fizeram para entravar sua marcha, longe de detê-lo, ativou o seu progresso. E pode-se afirmar que, por toda parte, esse progresso está em relação aos ataques sofridos. A imprensa o enalteceu? Todos sabemos que, longe de estender-lhe as mãos, ela lhe tem deitado aos pés; e com isso não conseguiu senão fazê-lo avançar. O mesmo ocorre relativamente aos ataques que, em geral, lhe têm sido endereçados.

Há, pois, com referência ao Espiritismo, um fenômeno que se constitui em uma constante: é que, sem o recurso de qualquer um dos meios habitualmente empregados para alcançar o que se denomina um sucesso, e apesar dos entraves que lhe têm sido impostos, ele não cessa de ganhar terreno, todos os dias, como para dar um desmentido àqueles que predizem seu fim próximo. Será isso uma presunção, uma fanfarrice de nossa parte? Não, trata-se de um fato impossível de ser negado. Ele hauriu sua força em si mesmo, o que prova o poder incoercível dessa ideia. Aqueles a quem isso contraria, pois, farão melhor mudando de partido ou se resignando a deixar passagem franca ao que não podem deter. O caso é que o Espiritismo é uma ideia e quando uma ideia caminha, ela derruba todas as barreiras; não se pode detê-la nas fronteiras, como um pacote de mercadoria. Queimam-se livros, mas não se queimam ideias, e suas próprias cinzas, levadas pelo vento, fazem fecundar a terra onde ela deve frutificar.

Todavia não basta lançar uma ideia ao mundo para que ela crie raízes. Não, certamente! Não se cria à vontade opiniões ou hábitos; o mesmo ocorreu relativamente às invenções e descobertas; mesmo a mais útil se perde se não chega a seu tempo, se a necessidade que está destinada a satisfazer não existe ainda. O mesmo ocorre quanto às doutrinas filosóficas, políticas, religiosas e sociais; é preciso que os Espíritos estejam maduros para aceitá-las. Se chegam muito cedo permanecem em estado latente e, como os frutos plantados fora da estação, não vingam.

Se, pois, o Espiritismo encontra tão numerosas simpatias, é que o seu tempo está chegado, é que os Espíritos estão maduros para recebê-lo, é que ele responde a uma necessidade, a uma aspiração. Tendes disso a prova pelo número, hoje incontável, de pessoas que o acolhem sem estranheza, como algo de muito natural, a partir do momento que se lhes fala a respeito pela primeira vez. E confessam que tudo sempre lhes pareceu ser assim, mas que não eram capazes de definir suas ideias. Sente-se o vazio moral que a incredulidade e o materialismo criam em torno do homem; compreende-se que essas doutrinas cavam um abismo para a sociedade; que destroem os laços mais sólidos: os da fraternidade. E, depois, instintivamente, o homem tem horror ao nada, como a natureza tem horror ao vazio. Eis porque ele acolhe com alegria a prova de que o nada não existe.

Mas dir-se-á, não se lhe ensinou, todos os dias, que o nada não existe? Sem dúvida, isso lhe foi ensinado! Mas, então, como entender que a incredulidade e a indiferença tenham incessantemente crescido neste último século?

É que as provas oferecidas não satisfazem mais, hoje em dia, pois não respondem às necessidades de sua inteligência. O progresso científico e industrial tornou o homem positivo. Este quer se dar conta de tudo. Quer saber o porquê e o como de cada coisa. Compreender para crer se tornou uma necessidade imperiosa. Eis o motivo pelo qual a fé cega já não possui domínio sobre ele. E isso para uns é um mal, para outros um bem. Sem desejar discutir a questão, diremos apenas que assim é a lei da natureza. A humanidade coletivamente, como os indivíduos, tem sua infância e sua idade madura. Quando se encontra na maturidade, atira à distância seu cueiro e quer fazer uso de suas próprias forças, isto é, de sua inteligência. Fazê-la retroceder é tão impossível quanto obrigar um rio a retornar às suas fontes.

Atacar o mérito da fé cega, dir-se-á, é uma impiedade, pois que Deus quer que se aceite sua palavra sem exame.

A fé cega teve sua razão de ser, direi mesmo sua necessidade, mas em um certo período da história da humanidade. Se hoje ela não basta mais para fortalecer a crença, é porque está na natureza da humanidade que assim deve ser. Ora, quem fez as leis da natureza? Deus ou Satã? Se foi Deus, não haverá impiedade em seguir-se suas leis. Se, na atualidade, compreender para crer se tornou uma necessidade para a inteligência, como beber e comer é uma necessidade para o estômago, é que Deus quer que o homem faça uso de sua inteligência: de outro modo não tê-la-ia dado. Há pessoas que não experimentam essa necessidade, que se contentam em crer sem exame. Não as recriminamos e longe está de nós o pensamento de perturbá-las em sua tranquilidade. O Espiritismo, evidentemente, não se destina a elas: se têm tudo o de que necessitam, nada há a oferecer-lhes. Não se obriga a comer à força àqueles que declaram não ter fome. O Espiritismo está destinado àqueles para os quais o alimento intelectual que lhes é dado não basta e o número destas pessoas é tão grande que o tempo não sobra para nos ocuparmos com as outras. Por que, então, se queixam quando não lhes corremos ao encalço? O Espiritismo não procura ninguém, não se impõe a ninguém, limita-se a dizer: “Aqui me tendes, eis o que sou, eis o que trago. Os que julgam ter necessidade de mim, se aproximem, os demais permaneçam onde se encontram. Não é meu propósito perturbar-lhes a consciência nem injuriá-los. A única coisa que peço é a reciprocidade.

Por que, então, o materialismo tende a suplantar a fé? Acaso porque, até o presente, a fé não raciocina? Por que ela diz “Crede!”, enquanto o materialismo raciocina? Estes são sofismas, convenho; porém, boas ou más, são razões que, ao ver de muitos, levam vantagem sobre aqueles que nada oferecem. Acrescentai a isto que o materialismo satisfaz àqueles que se comprazem na vida material, que querem se distrair das consequências do futuro, que esperam, assim, escapar à responsabilidade de seus atos, tendo-se em vista que, em suma, ele é eminentemente favorável à satisfação de todos os apetites brutais. Na incerteza do futuro, o homem se diz: “Aproveitemos o presente. Que benefício me trazem os meus semelhantes? Por que me sacrificar por eles? São meus irmãos, diz-se. Mas de que me servem irmãos que eu perderei para sempre, que amanhã estarão mortos, como eu próprio? Que somos, afinal, uns para com os outros? Muito pouco se, uma vez mortos, nada resta de nós. De que servirá impor-me privações? Que compensação dela me poderá advir se tudo terminará comigo?”

Julgais possível fundar uma sociedade sobre as bases da fraternidade com semelhantes ideias? O egoísmo é a consequência natural de uma posição como essa. De acordo com o egoísmo, cada um tira o melhor para si, mas essa parte melhor é sempre o mais forte que leva. O fraco, por sua vez, raciocinará: “Sejamos egoístas, uma vez que os outros também o são. Pensemos apenas em nós, pois que os outros só pensam em si mesmos.”

Tal é, convenhamos, o mal que tende a invadir a sociedade moderna e esse mal, como um verme roedor, pode arruiná-la em seus fundamentos. Oh! qual não será a culpa dos que a levam por esse triste caminho, dos que se esforçam por rechaçar a crença, dos que preconizam o presente com prejuízo do futuro! Eles terão um terrível débito a resgatar, pelo uso que fizeram de sua inteligência!

E, enquanto isso, a incredulidade deixa em seu rastro um mar de inquietude. Se é cômodo ao homem entregar-se às ilusões, não pode furtar-se de pensar, vez por outra, no que lhe sucederá depois. A contragosto a ideia do nada o enregela. Quereria ter uma certeza e não a encontra; então flutua, hesita, duvida, e a incerteza o mortifica. Sente-se desgraçado em meio aos prazeres materiais que não podem preencher o abismo do nada que se abre a seus pés e onde, supõe, vai ser precipitado.

É nesse momento que chega o Espiritismo, como uma âncora salvadora, como um archote aceso nas trevas de sua alma. Vem tirá-lo da dúvida, vem preencher o horror do vazio, não com uma esperança vaga, porém com provas irrecusáveis, resultantes da observação dos fatos. Vem reanimar sua fé, não apenas dizendo: “Crede, pois isso vos ordeno!”, mas: “Vede, tocai, compreendei e crede!”. Ele não poderia, pois, chegar em momento mais oportuno, seja para deter o mal, antes que se torne incurável, seja para satisfazer às necessidades do homem, que já não crê sob palavra, que aspira racionalizar aquilo em que crê. O materialismo o seduzira por seus falsos raciocínios; aos seus sofismas era preciso opor raciocínios sólidos, apoiados em provas materiais. Para essa luta, a fé cega já se mostrava impotente. Eis por que digo que o Espiritismo veio a seu tempo.

O que falta ao homem é, pois, a fé no futuro! E a ideia que se lhe dá não satisfaz ao seu apetite pelo positivo. É por demais vaga, por demais abstrata. Os laços que o prendem ao presente não são bastante definidos. O Espiritismo, pelo contrário, nos apresenta a alma como um ser circunscrito, semelhante a nós, exceção feita ao envoltório material do qual se desprendeu, mas revestida de um outro envoltório, fluídico, o que é mais compreensível e leva a conceber melhor a individualidade. Mais do que isso, ele prova, pela experiência, as relações incessantes do mundo visível com o mundo invisível, que se tornam, assim, reciprocamente solidários. As relações da alma com o ambiente terreno não cessam com a vida; a alma em estado de Espírito constitui uma das engrenagens, uma das forças vivas da natureza, já não é um ser inútil, que não pensa e não tem senão uma íntima ação durante a eternidade. É sempre, e por toda parte, um agente ativo da vontade de Deus para a execução de suas obras. Assim, conforme a Doutrina Espírita, tudo se concatena, tudo se encadeia no Universo, e nesse grande movimento, admiravelmente harmonioso, as afeições sobrevivem. Longe de se extinguirem, elas se fortificam e se depuram.

Ainda que não houvesse aqui senão um sistema, ele teria sobre os outros a vantagem de ser mais sedutor, embora sem oferecer certeza. Todavia é o próprio mundo invisível que se vem revelar a nós, provar que está, não em regiões do espaço inacessíveis mesmo ao pensamento, mas aqui, ao nosso lado, em torno de nós, e que vivemos em meio dele, como um povo de cegos em meio a um outro, capaz de ver. Isso pode perturbar certas ideias, convenhamos.

Mas diante de um fato, queiramos ou não, temos de nos inclinar. Poder-se-á negar tudo isso, poder-se-á querer provar que não pode ser assim. A provas palpáveis, seria o caso de opor provas mais palpáveis ainda. Todavia o que se oferece?

Apenas a negação!

O Espiritismo apoia-se sobre fatos. Os fatos, de acordo com o raciocínio e uma lógica rigorosos, dão ao Espiritismo o caráter de positivismo que convém à nossa época. O materialismo veio minar toda a crença, solapar os alicerces, substituir a moral pela razão de ser e jogar por terra os próprios fundamentos da sociedade, proclamando o reino do egoísmo. Então os homens sérios se perguntaram para onde um tal estado de coisas nos conduziria e viram um abismo. Eis que o Espiritismo veio preenchê-lo, dizendo ao materialismo: Não irás muito longe, pois aqui estão os fatos que provam a falsidade de teus raciocínios.

O materialismo ameaçava fazer a sociedade mergulhar em trevas, afirmando aos homens: O presente é tudo, o futuro não existe.

O Espiritismo corrige a distorção afirmando: O presente é bem pouco, mas o futuro é tudo. E isto ele o prova.

Um adversário escreveu, de certa feita, em um jornal, que o Espiritismo é cheio de seduções. Ele não podia, involuntariamente, dirigir-lhe um elogio maior, ao mesmo tempo condenando-se de maneira mais peremptória. Dizer que uma coisa é sedutora é, na verdade, dizer que ela satisfaz. Ora, eis aqui o grande segredo da propagação do Espiritismo. Por que não lhe opõem algo de mais sedutor, para suplantá-lo? Se tal não se faz é porque não se tem nada de melhor a oferecer. Por que ele agrada? É muito fácil explicar.

Ele agrada:

Porque satisfaz à aspiração instintiva do homem em relação ao futuro;

Porque apresenta o futuro sob um aspecto que a razão pode admitir;

Porque a certeza da vida futura faz com que o homem enfrente com paciência as misérias da vida presente;

Porque, com a doutrina da pluralidade das existências, essas misérias revelam uma razão de ser, tornam-se explicáveis e, ao invés de ser atribuídas à Providência, em forma de acusação, passam a ser justificáveis, compreensíveis e aceitas sem revolta;

Porque é um motivo de felicidade saber que os seres que amamos não estão perdidos para sempre, que os encontraremos e que estão constantemente junto de nós;

Porque as orientações dadas pelos Espíritos são de molde a tornar os homens melhores em suas relações recíprocas; estes e, além destes, outros motivos que só os espíritas podem compreender.

Em contrapartida, que sedução oferece o materialismo? O nada! Nele todo o consolo que apresenta para as misérias da vida.


Com tais elementos, o futuro do Espiritismo não pode ser duvidoso e, todavia, se devemos nos surpreender com alguma coisa, será com o fato de que tenha franqueado um caminho tão rápido através dos preconceitos. Como e por que meios alcançará a transformação da humanidade é o que nos resta examinar.