EDUCAÇÃO
Elaine Curti Ramazzini
Muito se tem
falado sobre a influência da televisão no desenvolvimento sócio-emocional das crianças.
Também cada vez mais cedo as crianças fazem uso do computador, com grande
estímulo dos familiares. Também não se pode negar que o desenvolvimento
tecnológico tem oferecido esses instrumentos como opções de aprendizado e
lazer.
De tempo em
tempo aparece alguma notícia alertando quanto ao cuidado que se deve ter ao permitir
que crianças tenham acesso a estas facilidades, todas consideram que não há
como proibir sem causar desconforto e fazer a criança sentir-se diferente das
demais crianças.
Do ponto de
vista da Psicologia, a família pode ser definida como um “sistema de laços emocionais”,
diretamente responsável pela formação da estrutura psíquica de cada indivíduo.
É através das
figuras parentais (mãe e pai) ou de seus substitutos que se verifica a transmissão
à criança de padrões diretamente relacionados com o modus vivendi (comunicação,
afeto, disciplina). É através dessas relações que vai nascendo na criança a
percepção de si mesma e dos outros, assim como a maneira e a capacidade de
interagir no mundo social.
Tornamo-nos
humanos através das interações, na infância, com as primeiras pessoas que amamos
(o “outro significante”, como bem define Peter I. Berger). É na família que
cada Ser adquire as bases do comportamento, da identidade sexual, das noções de
direitos e deveres e ainda dos modos pelos quais lida com afetos e emoções
(amor, ódio, desprendimento, egoísmo...).
Outra função
básica da família é a de preencher as necessidades amorosas e de ajuda mútua entre
adultos. Daí a importância do casamento, da união, que por mais dificuldades
apresente na vida em comum dos cônjuges nunca pessoa alguma conseguiu descobrir
melhor substituto para ele.
Não podemos
falar de família, numa perspectiva psicológica, se não falarmos de mitos
familiares. A idéia que se faz de mito familiar advém do fato de que mito é uma
história concebida por um povo, que não possui lógica ou regra, constituindo,
por assim dizer, aquilo que as pessoas trazem consigo e que se perpetua de
geração em geração.
Tais mitos
consistem na formação de idéias que se atribuem à família e que nada mais são do
que uma percepção enviesada de como ela é, como se organiza e como funciona.
Tais concepções ganham deformações maiores, pois se apresentam conjugadas com
uma série de mecanismos de defesa.
Muitos mitos
surgiram a respeito de problemas aparentes, numa versão um tanto quanto mágica
e sobre quem — algum membro da família — é portador de algum problema.
Exemplificando:
considerar que o problema de uma família é um filho rebelde ou doente ou, ainda,
um pai ausente, constitui uma versão bem superficial das dificuldades
emocionais da família, que enfoca a problemática toda num determinado membro,
escondendo conflitos sérios que se localizam no próprio contexto familiar.
Quando, numa
família, há o chamado “filho-problema”, torna-se ele o responsável pelos dramas
que ocorrem no lar, envolvendo todos os membros da constelação familiar. Assim,
o resto da família vive uma sensação ilusória de que, na medida em que o
elemento doente melhore, o problema de todos, conseqüentemente, se resolve, e
que não exigirá que os demais se esforcem para administrar os conflitos em
casa. Com isso, a família precisa manter vivo o “bode expiatório”, imaginando
que, ao livrar-se dele, liberta-se também dos conteúdos indesejáveis de si
própria que nele projeta. Assim, portanto, embora a ansiedade seja
compartilhada por toda a família, de modo geral, com freqüência esse membro
passa a incorporar o problema como se fosse somente seu, poupando os demais
participantes da família da incômoda tarefa de administrar os próprios
conteúdos.
Muitas vezes,
também, ocorrem outros mecanismos de defesa, como a negação, por exemplo,
observada em pais que, não aceitando a idéia de terem gerado um filho com deficiências
físicas ou intelectuais, “enganam-se” tentando ocultar essas características,
ao invés de proporcionar-lhe um atendimento adequado.
No que se
relaciona à escolha e ao contrato de casamento, são várias as motivações que
levam as pessoas a se unirem.
Segundo a
Psicologia, a escolha de um parceiro ou de uma parceira diz respeito ao desenvolvimento
de certos valores que se lhes foram inculcados ao longo do tempo. Ocorre, no entanto,
que nem um nem outro cônjuge possui características idênticas. Tais
características, que dizem respeito, muitas vezes, às experiências de cada um,
e à escala de valores que cada qual desenvolveu ao longo de sua vida particular,
pode não ser a mesma para os dois membros do casal. E isto provoca, via de
regra, muitos desajustes entre marido e mulher, gerando sérios conflitos no
âmbito familiar.
Também na
relação conjugal, os seres desenvolvem e vivem em torno de mitos que dizem respeito
ao viés da cultura e dos valores muitas vezes ultrapassados. Arnold A. Lazarus,
psicoterapeuta de casal, esclarece que muitos casais se separam porque buscaram
atender a certos mitos conjugais, como, por exemplo: “o matrimônio pode
realizar todos os nossos sonhos”; ou “os bons maridos consertam tudo em casa e
as boas esposas fazem a limpeza”; ou “ter um filho, melhora o mau matrimônio”;
ou “os que amam de verdade, adivinham os pensamentos e sentimentos do outro”;
ou “a competição entre marido e esposa estimula o casamento” e assim por
diante...
Há casos de
cônjuges que procuram no outro aspectos que não desenvolveram em si mesmos. Por
exemplo, uma mulher que não se sente muito “brilhante” em termos de inteligência,
exalta a argúcia ou o brilhantismo do marido, como se somente ele os possuísse.
Essa maneira de proceder diz respeito à necessidade que possui de sentir-se engrandecida
através da figura do companheiro, emprestando dele a inteligência de que se sente
desprovida.
Essa
determinação de que os problemas estão localizados apenas no outro viabiliza-se
graças ao mecanismo de projeção, onde idéias e sentimentos do indivíduo são
atribuídos objetivamente a pessoas e objetos.
Assim, um
homem que tenha muita dificuldade em manifestar raiva pode casar-se com uma mulher
“raivosa”, que consegue expressar tal sentimento em seu lugar. Ela então
expressa pelos dois aquele sentimento.
Tal carga
dupla, representada por um aspecto vivido por um dos elementos do casal e aparentemente
ausente no outro, acaba pesando na experiência de ambos. Há uma ansiedade que
faz com que seja importante conservar esses aspectos, mais no companheiro ou na
companheira.
No ato da
escolha, de uma forma ou de outra, um captou que poderia auxiliar seu par a continuar
o aperfeiçoamento na própria personalidade e que sozinho não conseguiria.
De maneira
geral, esse movimento de complementação se dá no sentido do crescimento, mas
pode também constituir um pacto destrutivo que contribui para adoecer ambos os
cônjuges na relação que fica cada vez mais desgastada.
É claro que os
filhos podem também sofrer as projeções de aspectos das personalidades dos pais.
Freqüentemente, carregam eles aspectos mal resolvidos de todos como se fossem problemas
pessoais seus. Permanecendo, pois, nesta situação, exercem uma função reguladora
no seio familiar, na medida em que aliviam de tal carga o resto da família.
Uma criança
pode ser utilizada desde o nascimento como extensão dos problemas dos pais,
recebendo papéis que se ajustam às fantasias deles, mas não à personalidade e necessidades
dessa criança. Isto acabará por certo dificultando em muito o desenvolvimento de
sua personalidade, tornando-a desajustada, não só em relação ao contexto
familiar, mas no desempenho dos papéis sociais de forma geral.
Estudos
relativos ao desenvolvimento psicológico infantil mostram que o bem-estar mental
da criança depende em grande parte de sua segurança afetiva, isto é, de quanto
ela se percebe amada e do quanto as pessoas ao seu redor podem ajudá-la, quando
e se ela necessitar de amparo e proteção. A sensibilidade, a receptividade do
adulto diante dessas expectativas infantis estão diretamente relacionadas com
as experiências que esse adulto teve durante a sua infância. E de supor-se que
quem foi bem cuidado e sentiu-se amado pelos pais tenha maior facilidade de
dedicar-se de maneira eficiente aos filhos.
No entanto,
nem toda criança infeliz e mal-amada está destinada a ser mau pai ou péssima mãe.
Se o indivíduo refletir sobre seus sofrimentos, entendê-los e reelaborá-los de maneira
positiva, estará mais apto a não passar adiante suas experiências menos
felizes.
A distância
entre as gerações e a interferência da televisão, que funciona como babá para a
criança e como calmante para o adulto, agrava ainda mais os problemas em casa.
Observa-se que, no mundo moderno, encontrar um tempo para sentar e conversar
com o filho, ou com os pais, não é fácil. Deste modo, compartilhar experiências,
falar sobre sentimentos e trocar idéias são privilégios de poucas famílias.
Neste contexto, a comunicação se mantém precária e limitada aos aspectos
superficiais do quotidiano.
Vale frisar
que não se trata de medir a harmonia de uma família pelo tempo em que seus membros
estão juntos, mas de verificar a qualidade dessa vivência em comum.
Acompanhando a
evolução da família através dos tempos, observa-se que houve uma subversão da
história anterior. Fundada no pátrio poder, em que o homem era o centro
econômico e dele provinha o sustento da casa, dos filhos, cabia tão-somente à
companheira a transmissão dos valores que seriam reproduzidos sem alterar o
quadro.
Ingressando,
porém, a mulher no mercado de trabalho, passa ela a repartir o poder, a
intervir nas decisões sob uma visão nova, feminina.
Isto,
literalmente, transforma todas as relações afetivas, desorganiza uma ordem
estabelecida há muito tempo. Inicia-se um “processo de reacomodação”, como
dizem alguns psicólogos, processo de reacomodação este que atinge cada um dos
integrantes do núcleo familiar.
Antes alijada,
a mulher, agora, sabe das dificuldades fora de casa e vivencia a disputa no mercado
de trabalho. Da mesma forma, o homem se sente compelido a intervir na educação
dos filhos, tornando-se também um transmissor de ideologia.
A família, com
todas estas transformações, tem buscado tornar-se mais nutridora, oferecendo ao
bebê condições de transformar-se num homem maduro. Para tanto, pais e mães têm procurado
cada vez mais terapeutas e conselheiros para que estes profissionais os auxiliem
na resolução dos conflitos e desajustes verificados na esfera doméstica.
A Psicologia
tem, pois, contribuído de maneira profícua no sentido de ajudar os membros da constelação
familiar a reconfigurarem melhor a sua condição existencial. Sinalizando-lhes a
importância de aprender a lidar com os “nãos” da vida e com verdades possíveis,
abre-se-lhes um leque de opções para que cada um trabalhe seus próprios
limites, dentro de um contexto mais amplo — o familiar — respeitando a própria
individualidade, apanágio do Ser em constante transformação. Procura ainda
auxiliar a cada um em particular e a todos de forma geral, fazendo-os
reconhecer que os comportamentos são influenciados e influenciam outros e que
as alegrias e tristezas que compõem o repertório pessoal das experiências será
acionado no momento em que as criaturas se relacionarem com outras pessoas e
decidirem constituir uma nova família.
Com a visão
esclarecedora acerca dos mecanismos comportamentais, a Psicologia dilata para o
homem a sua percepção de “ser no mundo com os outros”, como bem assinalou o
filósofo existencialista Martin Heidegger. Ao descortinar à criatura
possibilidades no sentido de que ela encete e promova o seu autoconhecimento, favorece-lhe
o crescimento interior e sensibiliza-a para o cultivo de uma vida mais sadia e
harmoniosa no seio familiar. O Espiritismo, por seu turno, esclarece que os Espíritos
são herdeiros de si próprios e que a tarefa dos pais é a de orientar os filhos,
dando-lhes apoio e sustentação para que, quando adultos, consigam se
auto-apoiar e caminhar confiantes em busca da perfeição. Exigir de seus tutelados
mais do que podem dar é não compreender-lhes o estágio evolutivo em que se
encontram na presente reencarnação e esquecer-se de que as experiências pelas
quais devem passar serão aquelas mesmas necessárias ao seu aprendizado na
condição de Espírito eterno, com vistas à ascensão espiritual a que todos estamos
fadados.
Atualizando a
lição de Jesus, descortina na família esclarecida espiritualmente a Humanidade
feliz de um futuro repleto de alegrias e benesses imorredouras.
Sustentando-a
nos ensinamentos do Cristo e no seu Código de reta conduta, pontua a todos e a
cada um em especial a necessidade de preservar o reduto familiar, sob a égide
do Amor Maior, onde deverá ser construído o altar da compreensão recíproca e do
respeito mútuo a fim de que o reino de Deus se instale por definitivo no
coração da criatura.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
Canevacci, M.
Dialética da família. 2a. ed., S.Paulo, Ed.Brasiliense, 1982.
Dias, M.L. O
que é psicoterapia familiar. S.Paulo, Ed.Brasiliense, Coleção Primeiros Passos,
1990.
Vivendo em
família. 4a. ed., S.Paulo, Ed.Moderna, Coleção Po1 1992.
Franco, D. P.
(Pelo espírito Joanna de Ângelis). Estudos espíritas. Rio de Janeiro, Federação
Espírita Brasileira, 1982
Lazarus, A. A.
Mitos conjugais. Campinas, Editorial Psy, 1992.
Montoro, G. F.
“A família, pensando bem...”. Revista Ícaro, Edição Mulher, N agosto de 1994,
p. 98 e 100.
“Psicologia
tenta explicar mudanças na família”. Seção Lar, Doce Lar?, Shopping News, São
Paulo, 06.03.1994, p. 11.
FONTE
A FAMÍLIA, O ESPÍRITO E O TEMPO, por Autores Diversos, ed. USE
O MUNDO MAIOR E A EDUCAÇÃO
“O
ministério das mães é, indiscutivelmente, o mais alto, na experiência terrestre,
mesmo porque a própria manifestação do Cristo no mundo depende quase que
inteiramente da colaboração da mulher personificada, em toda a sua nobreza e
esplendor espiritual, no coração da Nossa Mãe Santíssima.”
Emmanuel
“Examina da
torre de tua compreensão, os quadros aflitivos da senda e reconhecerás que o
mundo e os semelhantes constituem a nossa casa e a nossa família, pedindo a
bênção do auxílio e o bálsamo da piedade.”
Agar
“A
aquisição das mais elevadas qualidades terrenas é o legítimo acesso aos dons
celestiais.”
André Luiz
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA
ESPÍRITA MENSAL
ANO
XXX Nº351
Janeiro
2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)