O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO XXIX
CAPÍTULO IV: NINGUÉM PODE VER O REINO
DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO
ITENS 5, 7 a 9: RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO
” E havia um homem, dentre os fariseus, por nome
Nicodemos, senador dos judeus.
Este, uma noite, veio buscar a Jesus, e disse-lhe:
Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer
estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu e lhe
disse: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o reino de Deus, senão
aquele que renascer de novo.
Nicodemos lhe disse: Como pode um homem nascer,
sendo velho?
Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e
nascer outra vez?
Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo
que quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O
que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te
maravilhes de eu te dizer que importa-vos nascer de novo. O Espírito sopra onde
quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai.
Assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
Perguntou Nicodemos: como se pode fazer isto?
Respondeu Jesus: Tu és mestre em Israel e não sabes
estas coisas? em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e
damos testemunho do que vimos, e vós, com tudo isso, não recebeis o nosso
testemunho. Se quando eu vos falo das coisas terrenas, ainda assim não me
credes, como creríeis, se e vos falasse das celestiais? (João, III: 1-12)
Recordemos, inicialmente, quem eram os fariseus,
palavra vinda do hebraico parasch, que significa divisão, separação.
Das interpretações diversas dos trechos das
escrituras, surgiram seitas, das quais a mais importante no tempo de Jesus era
a dos fariseus, surgida nos anos 180 a 200 A.C.
Tinha como chefe Hilel, doutor judeu nascido na
Babilônia, fundador de uma célebre escola, onde se ensinava que a fé só era
dada pelas escrituras. Conservaram o poder até a queda de Jerusalém, no ano 70
da era cristã, quando os judeus se dispersaram.
No tempo de Jesus, eram "observadores servis
das práticas exteriores do culto e das cerimônias, tomados de ardoroso
proselitismo, inimigo das inovações, afetavam grande severidade de princípios.
Mas, sob as aparências de uma devoção meticulosa, escondiam costumes
dissolutos, muito orgulho e sobretudo, excessivo desejo de dominação." "Tinham
apenas exterioridades e ostentação de virtudes, mas com isso exerciam grande
influência sobre o povo, passando para este como santos personagens."
(Introdução de Kardec ao livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, item II)
Sentiram-se, pois, atacados por Jesus, que ensinava
e vivia exatamente o contrário.
Nos Evangelhos, vemos dois fariseus que se
sensibilizaram com os novos ensinos: Nicodemos e Gamaliel que defenderam os
apóstolos que haviam sido presos, os quais foram libertados (Atos, 5:33 e
seguintes). De Gamaliel temos mais notícias no livro Paulo e Estevão, de
Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, tentando amenizar a
severidade dos membros do Sinédrio no julgamento de Estevão, visitando a Casa
do Caminho, declarando-se amigo de Simão Pedro, advogando a causa dos
continuadores de Jesus nos capítulos VI, VII da primeira parte e declarando-se
cristão para Saulo no capítulo II da Segunda parte.
Nicodemos, talvez por ser pessoa "principal
entre os judeus", doutor da lei, rico, procurou Jesus, interessado no que
dele ouvira falar, no escuro da noite, para não ser visto.
Conhecedor da Lei, trata Jesus como Mestre,
considera-o enviado por Deus, pelos seus "milagres" e demonstra
interesse em conhecer os ensinos de Jesus. Ele e Gamaliel, fariseus, não tinham
as características dos fariseus.
Nesta passagem da vida de Jesus, vemos, uma vez
mais, que seus ensinos devem sempre ser interpretados sob a tônica da vida
eterna, que não fazia parte das preocupações farisaicas, mais envolvidos em
cultos e comportamentos exteriores.
Quando Jesus lhe diz que "ninguém pode entrar
no reino de Deus se não nascer de novo", expondo tão claramente a lei da
reencarnação, sua resposta- pergunta demonstra sua ignorância da continuidade
da vida após a morte, a ausência de reflexões em torno da imortalidade
espiritual: "Como pode um homem nascer sendo velho?" Ele via a pessoa
material e não a espiritual.
Jesus lhe diz que somente entrará no reino de Deus
"aquele que nascer da água e do espírito. O que é nascido da carne é
carne, o que é nascido do espírito é espírito."
O Mestre faz aqui uma clara distinção entre corpo
carnal e espírito. O corpo renasce pela água, isto é a vida orgânica se origina
na água, elemento material. O espírito surge do elemento espiritual e
desenvolvendo-se através de corpos materiais, em mundos materiais, segundo a
lei da reencarnação, vai adquirindo as qualificações de perfeição para a qual
está destinado. O corpo é de natureza material, a alma é de natureza
espiritual. Escreve Kardec que essa referência de Jesus: nascer de novo da água
e do espírito, significa renascer com o corpo e a alma. Por isso ele
acrescentou: “Não te maravilhes de eu te dizer que importa-vos nascer de
novo."
O "espírito sopra onde quer, e ouves a sua
voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai." Kardec escreve que
se pode entender essa frase como uma referência a Deus, mas pode-se entender
também como referindo-se à alma, espírito encarnado, do qual sabemos que é
criação divina, mas não sabemos como, nem quando foi criado. Se fosse criado
junto com o corpo físico, então conheceríamos seu começo.
O espírito, sendo imortal e perfectível, tem de renascer tantas vezes
quantas forem necessárias para atingir seu destino: ser perfeito, como afirmou Jesus:
"Sede perfeitos"
Evidentemente que, enquanto está o espírito fazendo sua evolução no
decorrer dos milênios, precisa de alvos menores a serem perseguidos, alvos
estes que, na medida em que forem sendo atingidos, estimulem e favoreçam o
esforço na continuação dessa caminhada para alvo maior.
Mas essa conversa com Nicodemos confirma a lei da reencarnação, idéia
que já existia entre muitos homens na Terra, muito tempo antes de Jesus.
Leda de Almeida Rezende Ebner
Outubro 2003
Centro Espírita Batuira
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Rua Rodrigues Alves,588
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O CENTRO ESPÍRITA BATUIRA esclarece que permanece divulgando os estudos
elaborados pela Sra Leda de Almeida Rezende Ebner após o seu desencarne, com a
devida AUTORIZAÇÃO da família e por ter recebido a DOAÇÃO DE DIREITOS
AUTORIAIS, conforme registros em livros de Atas das reuniões de diretoria deste
Centro.
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