EVANGELHO ESSENCIAL 17
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
17-
SEDE PERFEITOS
Ama aos teus
inimigos; faças o bem aos que te odeiam e ore pelos que te perseguem e
caluniam. - Porque, se somente amares os que te amam que recompensa terás
disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudares os teus
irmãos, que fazes com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? -
Sejam perfeitos, como perfeito é o Pai celestial. (S. MATEUS, cap. V, vv. 44,
46 a 48.)
Caracteres
da perfeição
Deus possui a
perfeição infinita em todas as coisas e esta proposição:
"Sejam perfeitos
como perfeito é o Pai celestial" tomada ao pé da letra, pressupõe a
possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura pudesse ser tão
perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível.
Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa delicada diferença,
pelo que se limitou a apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem
por alcançar.
* * *
Aquelas palavras
devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a que a Humanidade é capaz
de atingir e que mais a aproxima da Divindade.
* * *
Em que consiste essa
perfeição? Jesus o diz: "Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem
aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem". Mostra desse modo
que a essência da perfeição é a caridade no seu mais amplo significado, porque
implica a prática de todas as outras virtudes.
* * *
Não podendo o amor do
próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à
caridade, aquele amor é sempre sinal de maior ou menor superioridade moral,
donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi
por isso que Jesus, depois de haver dado à seus discípulos as regras da
caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: "Sejam perfeitos, como
perfeito é o Pai celestial."
* * *
O homem
de bem
O verdadeiro homem de
bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior
pureza. Ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, perguntando se
violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se
desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer
queixa dele; enfim, se fez ao outro tudo o que desejaria lhe fizessem.
* * *
O homem de bem
deposita fé em Deus, na Sua bondade, justiça e sabedoria. Sabe que sem a Sua
permissão nada acontece e se submete à Sua vontade em todas as coisas. Tem fé
no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens terrenos.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, as dores, e as decepções são provas ou
expiações e as aceita sem murmurar. Possuído do sentimento de caridade e de
amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar pagamento algum; retribui o
mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus
interesses à justiça. Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos
serviços que presta, no fazer felizes os outros, nas lágrimas que enxuga, nas
consolações que distribui aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos
outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros, antes
do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os lucros e as
perdas decorrentes de toda ação generosa. O homem de bem é bom, humano e
benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em
todos os homens vê irmãos seus. Respeita nos outros todas as convicções
sinceras e não reprova os que como ele não pensam. Em todas as circunstâncias,
toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outro com
palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e desprezo a sensibilidade de
alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda
que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não
merece a clemência do Senhor. Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de
vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios
se lembra, por saber que perdoado será, conforme houver perdoado. É indulgente
para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e
tem presente esta máxima do Cristo:
“Atire-lhe a primeira
pedra aquele que se encontrar sem pecado”. Nunca se alegra em procurar os
defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los.
Se a isso se vê
obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Estuda suas próprias
imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços
emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de
melhor do que na véspera. Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus
talentos, à custa de outro; aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar o
que seja proveitoso aos outros. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas
vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um
depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe
pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões. Se a ordem social
colocou sob sua responsabilidade outros homens, trata-os com bondade e
benevolência, porque são iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes
levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto
lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram. O
subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se
empenha em cumpri-los conscienciosamente. Finalmente, o homem de bem respeita
todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer
que sejam respeitados os seus. Não ficam enumeradas todas as qualidades que
distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir estas, no
caminho se encontra para as demais.
* * *
Os bons
espíritas
O Espiritismo não
institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a
prática da moral do Cristo, dando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam
ou vacilam.
* * *
Os espíritas
imperfeitos são aqueles que ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos
em crença, por que recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam
as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das
desconfianças. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro
passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.
* * *
Aquele que pode ser
qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se encontra em grau superior de
adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a
matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina
lhe fazem vibrar o caráter que nos outros se conserva paralisado. Em suma: é
tocado no coração, tornando inabalável a sua fé. Um é igual ao músico que
alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons.
* * *
Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para dominar suas inclinações más.
Parábola
do semeador
Naquele mesmo dia,
tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar e falou para a multidão,
por parábolas: Aquele que semeia saiu a semear; - e, semeando, uma parte da
semente caiu ao longo do caminho e os pássaros do céu vieram e a comeram. -
Outra parte caiu em lugares pedregosos onde não havia muita terra; as sementes
logo brotaram, porque carecia de profundidade a terra onde haviam caído. - Mas,
levantando-se, o sol as queimou e, como não tinham raízes, secaram. - Outra
parte caiu entre espinheiros e estes, crescendo, as abafaram. Outra,
finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por
um, outras sessenta e outras trinta. - Ouça quem tem ouvidos de ouvir. (S.
MATEUS, cap. XIII, vv. 1 a 9.) Escute a parábola do semeador. –
Quem quer que escuta
a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que
lhe fora semeado no coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do
caminho. - Aquele que recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a
palavra e a recebe com alegria no primeiro momento. - Mas, não tendo nele
raízes, dura apenas algum tempo. Em sobrevindo tribulações e perseguições por
causa da palavra, tira ele daí motivo de escândalo e de queda. - Aquele que
recebe a semente entre espinheiros é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo,
os cuidados deste século e a ilusão das riquezas abafam aquela palavra e a
tornam infrutífera. - Aquele porém, que recebe a semente em boa terra é o que
escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos, dando cem
ou sessenta, ou trinta por um. (S. MATEUS, cap. XIII. vv. 18 a 23.)
A parábola do
semeador exprime os matizes existentes na maneira de serem utilizados os
ensinos do Evangelho. Quantas pessoas existem para as quais não passa ele de
letra morta e que, como a semente caída sobre pedregulhos, nenhum fruto dá!
* * *
Não menos justa
aplicação encontramos em diferentes categorias de espíritas. Não se acham
simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma
consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos?
* * *
Os que apenas se preocupam
com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se
interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem
ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem
muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não
a si próprios?
Aqueles, finalmente,
para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá
frutos?
* * *
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
O Dever
Espírito Lázaro –
Paris, 1863
O dever é a obrigação
moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e em seguida, para com os
outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas menores
particularidades, como nos atos mais elevados.
Quero falar apenas do
dever moral e não do dever que as profissões impõem.
* * *
Na ordem dos
sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo
com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias
e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica
entregue ao seu livre-arbítrio. O peso da consciência, guardião da integridade
interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante
dos argumentos enganosos da paixão. Fielmente observado, o dever do coração
eleva o homem; porém, como determiná-lo com exatidão? Onde começa? Onde
termina?
* * *
O dever principia,
para cada um, exatamente no ponto em que ameaça a felicidade ou a tranquilidade
do seu próximo; acaba no limite que não deseja ninguém transponha com relação a
si.
* * *
A igualdade em face
da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos,
instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de
seus efeitos.
* * *
O dever é o resumo
prático de todas as considerações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as
angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas
complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações.
* * *
O homem que cumpre o
seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a
si mesmo.
* * *
O homem tem de amar o
dever, não porque o preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não
pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu
desenvolvimento.
* * *
O dever cresce e
irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da
Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta
de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita rascunhos imperfeitos, porque
quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos.
* * *
A
virtude
Espíritos
François-Nicolas-Madeleine -Paris, 1863.
A virtude, no mais
alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o
homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto são qualidades do
homem virtuoso.
Infelizmente, quase
sempre, as acompanham pequenas enfermidades morais que as enfeiam e atenuam.
* * *
Não é virtuoso aquele
que faz ostentação da sua virtude, por que lhe falta a qualidade principal: a
modéstia, e tem o vício que mais se opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente
digna desse nome, não gosta de ostentar-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta
na obscuridade e foge à admiração das massas.
* * *
Não imites o homem
que se apresenta como modelo e alardeia, ele próprio, suas qualidades a todos
os ouvidos tolerantes. A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma
imensidade de pequenas desonestidades e de odiosas covardias. Em princípio, o
homem que se exalta, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por
esse simples fato, todo mérito real que possa ter.
* * *
Que dizer daquele
cujo único valor consiste em parecer o que não é?
Compreende-se que o
homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas,
desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em
amor-próprio.
* * *
Mais vale pouca
virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as
humanidades sucessivamente se perderam; pela humildade é que um dia elas se
redimirão.
* * *
Os
superiores e os inferiores
Espíritos
François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
A autoridade, tanto
quanto a riqueza, é uma delegação de que se terá de prestar contas àquele que
se encontre dela investido. Não julgues que seja ela conferida para te
proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos
poderosos da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus lhes prova
constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira
quando lhe agrade. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades,
seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando esta
pode ser tirada sem seu consentimento.
* * *
Deus confere a
autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando
considera conveniente.
* * *
Quem quer que seja
depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor
sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve esquecer que
tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus
subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a
que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do
mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao
bem.
* * *
Todo homem tem na
Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada
para o bem; desviá-la em seu princípio é falir ao seu desempenho.
* * *
Assim como pergunta
ao rico, também Deus questionará daquele que disponha de alguma autoridade:
"Que uso fizeste dessa autoridade?
Que males evitaste?
Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses
escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua
cobiça; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e
ajudasses a subir ao meu seio."
* * *
O superior, que se
ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam
submetidos, porque sabe que as diferenças sociais não prevalecem às vistas de
Deus.
* * *
Ensina o Espiritismo
que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão
dá-las mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado,
quando sobre eles exercia autoridade.
* * *
Mas, se o superior
tem deveres a cumprir, o inferior, por sua vez, também os tem e não menos
importantes. Se for espírita, sua consciência ainda mais lhe dirá que não pode
considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de
dar cumprimento aos dele, porque sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal
com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outros. Se a sua posição
acarreta sofrimentos, reconhecerá que os mereceu, porque, provavelmente, abusou
outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe experimentar a seu turno o que
fizera sofressem os outros. Se é obrigado a suportar essa posição, por não
encontrar outra melhor, o Espiritismo ensina a resignar-se, constituindo isso
uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe
orienta a conduta e o induz a proceder como gostaria que seus subordinados
procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso
se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda
negligência no trabalho redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem
deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento
do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho
reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar.
* * *
O homem
no mundo
Um Espírito Protetor.
(Bordéus, 1863.)
Um sentimento de
piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor
e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purifiquem os corações; não
consintam que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevem o seu
espírito àqueles por quem chamam, a fim de que encontrando-lhes as necessárias
disposições, possam lançar fartamente a semente que é preciso germinar em suas
almas e dê frutos de caridade e justiça.
* * *
Não julguem que,
exortando-lhes incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivam
uma vida mística, que lhes conserve fora das leis da sociedade onde vives. Não;
vivam com os homens da sua época, como devem viver os homens. Sacrifiquem as
necessidades, mesmo as frivolidades do dia, mas sacrifiquem com um sentimento
de pureza que as possa santificar.
* * *
És chamado a estar em
contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não
choques a nenhum daqueles com quem estiver. Sejam joviais, ditosos, mas seja a
sua jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a sua ventura a do
herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua
herança.
* * *
Não consiste a
virtude em assumirem severo e entristecido aspecto, em repelirem as alegrias
que as suas condições humanas lhes permitem.
* * *
Basta refiras todos
os atos da sua vida ao Criador que lhe deu; basta que, quando começar ou acabar
uma obra, eleves o pensamento ao Criador e lhe peça, numa elevação de alma, ou
a sua proteção para que obtenha êxito, ou a sua bênção para ela, se a
concluíste. Em tudo o que fizerem, remonta à Fonte de todas as coisas, para que
nenhuma de suas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de
Deus.
* * *
A perfeição está
toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas, os deveres da
caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior.
* * *
Nenhuma caridade
teria a praticar o homem que vivesse isolado.
Unicamente no contato
com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de
praticá-la. Aquele que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio
de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta.
* * *
Não imagines que,
para viveres em comunicação constante conosco, para viveres sob as vistas do
Senhor, seja preciso te tortures e cubras de cinzas.
* * *
Sejas feliz, segundo
as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na tua felicidade entre um
pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou tornar triste o semblante dos
que te amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os
abençoa.
* * *
Cuidar
do corpo e do espírito
Jorge, Espírito
Protetor. (Paris, l863.)
Consistirá em
maltratar o corpo a perfeição moral? começarei por demonstrar a necessidade de
cuidar-se do corpo que, segundo as alternativas de saúde e de enfermidade,
influi de modo muito importante sobre a alma, já que se encontra prisioneira da
carne.
* * *
Para que a alma viva,
se expanda e chegue a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar
são, disposto, forte.
* * *
A relação existente
entre o corpo e a alma esta por se encontrarem em dependência mútua, importando
cuidar de ambos. Ama, a tua alma, porém, cuide igualmente de seu corpo,
instrumento daquela.
* * *
Desatender as
necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não
castigue o corpo pelas faltas que o teu livre-arbítrio induziu a cometer e
pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo mal dirigido pelos acidentes
que causa.
* * *
Será mais perfeito
se, martirizando o corpo, não se tornar menos egoísta, nem menos orgulhoso e
mais caritativo para com o teu próximo? Não, a perfeição não está nisso: está
toda nas reformas porque fizeres passar o teu Espírito. Dobre-o, submete-o,
humilha-o, mortifica-o: esse é o meio de o tornar dócil à vontade de Deus e o
único de alcançares a perfeição.
COMENTÁRIO
SEDE PERFEITOS
Poderemos nos
considerar perfeitos algum dia? Deus é perfeito, segundo o nosso entendimento
de perfeição, e considerando isso estaríamos limitando a perfeição do criador
ao nosso entendimento, e aí estaríamos cerceando toda a possibilidade de Ele
ter maior perfeição do que a nossa, para que pudéssemos também sermos
perfeitos. É certo que nunca atingiremos a perfeição absoluta, caso em que
poderíamos ser elevados à categoria de Deus. E ai haveria tantos deuses quantos
os que atingissem a perfeição. Bem, seria um caos, pois mesmo sendo perfeito
cada um seria um deus e então estaríamos às voltas com tantos senhores e tantas
ordens que os que se tardassem um pouco ao avanço não conseguiriam nunca
atingir a perfeição absoluta. Mas isto está ficando muito complexo, e então
cada um no seu íntimo deverá ter a sua resposta a essa questão, será que
poderíamos estar no lugar de Deus ao menos por algum tempo. Vejamos o que
fizemos que nos permite esta certeza de podermos nos ocupar das questões
divinas.
Amar ao próximo como
a nós mesmos é o paradigma. Precisaria que tivéssemos a coragem para assumir
esta postura. E acima de tudo, nem é necessário sejamos perfeitos, mas que nos
esforcemos por melhorar essa questão do próximo. Necessário seria que nos
perguntássemos ao fim de cada dia: será que ofendi a alguém? Prejudiquei algum
irmão em seu trabalho? Feri a alguém em seu respeito e dignidade? Tratei como
quisera fosse tratado? O verdadeiro homem de bem é aquele que se esforça em
melhorar, em praticar a lei de amor, de caridade, de justiça.
Não usa da autoridade
que lhe conferem os títulos, nem a ascendência intelectual adquiridas a custo
próprio na matéria, mas faz disso um meio de que todos possam ser tratados com
igualdade. Aceita as vicissitudes da vida como provas de que irá se beneficiar
tornando-se mais forte, mais sereno, mais indulgente, pois compreende que os
outros ao seu turno também tem suas dificuldades próprias e muitas vezes não
tem o conhecimento suficiente para suportar. Sendo Espírita então, razão maior
para saber que tudo é passageiro, inclusive nossa estada aqui na Terra, e que
nos devemos uns aos outros e é preciso sejamos indulgentes para com o nosso
irmão de jornada. Por que a Doutrina nos ensina que a verdadeira pátria é a
espiritual, onde nos encontramos livres de todas as nossas necessidades
próprias da vida de encarnados. Que a vida material é uma passagem necessária
ao nosso progresso espiritual, através de ações mais coerentes com os
ensinamentos de Jesus. Para que possamos dominar a matéria e obtermos uma visão
mais clara do futuro. Para que possam vibrar em nosso íntimo as fibras que em
outros ainda permanecem dormentes.
Sermos efetivamente
ativos na pratica do bem e no amor ao próximo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário