segunda-feira, 23 de setembro de 2013

MEDIUNIDADE E OBSESSÃO NA INFÂNCIA

EDUCAÇÃO

17 A ocorrência de fatos relacionados à mediunidade na infância é um tema interessante.
Visões, obsessão, desenvolvimento da mediunidade serão abordados nesta seção.
O entrevistado é o Dr. Vitor Ronaldo Costa, nascido em Natal (RN),
Casado, pai de quatro filhos e avô de vários netos. Formou-se em Medicina e exerceu a clínica médica homeopática em Porto Alegre (RS) e em Brasília (DF), onde fixou residência e se aposentou da profissão.
Desenvolve múltiplas atividades no campo da divulgação espírita. É autor de várias obras doutrinárias, palestrante reconhecido e colaborador de inúmeros periódicos espíritas. Atua há cerca de trinta anos em reuniões mediúnicas desobsessivas praticadas em hospitais espíritas, participa de voluntário assistencial e desenvolve pesquisas nos vastos campos da mediunidade e da obsessão espiritual, procurando conciliar os propósitos da medicina clássica com os aspectos científicos do Espiritismo.

O que significa a fase infantil para o espírito reencarnante?


Vitor - Esta pergunta, pela sua complexidade e alcance, mereceria uma abordagem extensa sob vários ângulos, com a finalidade de melhor elaborarmos reflexões. No entanto, por exigüidade de espaço, tentaremos resumir o que pensamos a respeito. Inicialmente diríamos que a infância representa um processo lento e progressivo de adaptação da alma humana à cada realidade reencarnatória. Como se imagina, o mergulho na carne, de certa forma, tolhe temporariamente as amplas possibilidades do espírito imortal. O esquecimento das vidas pretéritas, aí incluídos os relacionamentos anteriores, o aprendizado intelectivo, as experiências na pobreza ou na riqueza, a prática deliberada do bem e do mal, tudo, permanece temporariamente encoberto pelo véu do esquecimento, não obstante as tendências instintivas se manifestarem desde cedo, como a denunciar a existência de todo um patrimônio mento-afetivo resguardado no psiquismo de profundidade, pronto a emergir e a se manifestar no decorrer da existência. O período de infância equivale a um tempo de repouso para o espírito. A própria imaturidade do sistema nervoso propicia um despertar gradativo das potencialidades anímicas. A inteligência e o senso de moralidade, como atributos do espírito, ganham amplitude à medida que o aparelho encefálico amadurece e se submete ao influxo dos fatores educativos e experiências emocionais.
Apesar da Humanidade atual ainda resguardar inúmeras imperfeições, temos na conta de medida providencial da Divindade, a existência do período de infância a impor ao espírito um certo obstáculo à plena manifestação de sua potencialidade negativa.
E seria um verdadeiro tormento se assim não acontecesse, pois o próprio esforço educacional proporcionado pelos pais, professores e religiosos, perderia a sua razão de Ser. Além disso, não se pode olvidar que na infância o Ser reencarnado mostra-se dependente de apoio, carinho, atenção e amor, o que o torna, sem dúvida, bem mais dócil e receptivo ao processo instrutivo. É um momento significativo e especial da existência, período a ser aproveitado da melhor maneira pelos adultos encarregados da transmissão dos valores morais a serem incutidos na mente infantil adequada e da educação formal dispensada pela escola e demais segmentos responsáveis da sociedade, resultará em graves prejuízos para a alma reencarnada, já que na fase infantil, as experiências existenciais exercerão forte influência, boa ou má, no comportamento futuro do indivíduo. No nosso modo de ver, a reencarnação é um desafio evolutivo, visto que, ninguém retorna ao Mundo para involuir ou permanecer estacionado na senda do progresso espiritual. A oportunidade reencarnatória sempre visa o avanço, a melhoria do Ser, a supressão paulatina das más tendências e o desenvolvimento pleno das virtudes intrínsecas.
O período infantil torna os espíritos maleáveis e acessíveis aos aconselhamentos, aos bons exemplos e às informações culturais saudáveis e enriquecidas de conteúdos instrutivos. A estruturação da personalidade depende essencialmente das experiências contabilizadas nessa fase da vida.
Desde que o relacionamento familiar se processe em clima de harmonia, civilidade e, que o processo educativo se estruture em bases edificantes é possível esperar que a criança reprima as más tendências e se desenvolva adequadamente, em especial, se a instrução pedagógica estiver coadjuvada por uma boa formação religiosa.

As crianças têm mais facilidade de ver e de se comunicar com os espíritos desencarnados?

Vitor - Sim. Eis uma questão de grande importância, pois a possibilidade de crianças contatarem o mundo invisível é muito mais provável do que se pode imaginar. Como se sabe, a mediunidade é um apanágio dos humanos, faz-se presente em todos, em graus variados. Os médiuns ostensivos são aqueles que contatam diretamente os espíritos por meio de faculdades conhecidas da maioria, entre elas, a vidência, a mediunidade auditiva, a psicografia e a psicofonia, para citar as mais comuns. No adulto, a mediunidade decorre de uma predisposição orgânica específica para determinada faculdade.
Todavia, a criança apresenta certa predisposição psicofisiológica muito especial, porquanto condizente com a fase inicial do processo encarnatório. Diríamos tratar-se da condição responsável pelo desencadeamento dos mecanismos mediúnicos sutis, nem sempre suspeitados pelos genitores. Tal fenômeno se deve ao fato de o processo reencarnatório só se achar concluído em torno dos sete anos de idade, momento em que as expansões perispirítuais aderem em definitivo a todo o cosmo celular orgânico, especialmente às células nervosas amadurecidas nesta faixa etária.
Assim, até que a reencarnação se consolide, ocorre uma espécie de semidesdobramento, o perispírito encontra-se levemente desacoplado do campo físico, condição capaz de ampliar a capacidade perceptiva e de criar verdadeiras brechas de conexão com a dimensão astral. Isto explica os casos de vidência mediúnica tão identificados no decorrer da etapa infantil.

Como os pais podem identificar sintomas de mediunidade em seus filhos ainda pequenos, diferenciando-os do comportamento normal infantil?

Vitor - Na prática, pais e educadores fazem referências aos diálogos “imaginários” que se desenrolam ao longo dessa faixa etária. Porém, o desconhecimento das filigramas mediúnicas comuns à infância colabora para que o critério da imaginação prevaleça sobre o mediúnico, falseando um pouco a realidade dos fatos. Algumas crianças são capazes de conversar horas com seus amiguinhos invisíveis, diálogos tão espontâneos quanto criativos, como se de fato estivessem interagindo com encarnados.
Geralmente tais fenômenos não trazem repercussões negativas, pois a mediunidade natural desabrochada espontaneamente, costuma se caracterizar pelo processo de vidência, tornando-se ocorrência comum, despida de prejuízos para o psiquismo infantil.

É prudente desenvolver a faculdade mediúnica em crianças?

Vitor - O bom senso recomenda não incentivar o desenvolvimento de mediunidade em crianças, a exemplo da psicofonia e psicografia, pois haveria a possibilidade de acontecer uma sobrecarga do sistema nervoso, situação capaz de levá-la a um processo de exaustão.
Além disso, poderiam acontecer repercussões negativas sobre o campo mental em decorrência de possíveis obsessões espirituais, tal qual acontece com alguns médiuns adultos.
Se na fase adulta, o médium ostensivo, às vezes, enfrenta dificuldades para manter o seu próprio equilíbrio, imaginem uma criança ainda desprovida de conhecimento doutrinário e maturidade suficiente para encarar com responsabilidade tão significativo mandato.
Todavia, a faculdade de vidência que naturalmente se observa nas crianças não requer maiores cuidados, pois costuma desaparecer após os sete anos de idade sem deixar seqüelas orgânicas ou psíquicas.

Então existe mesmo a possibilidade de ocorrência de processos obsessivos na infância? Como tratá-los?

Vitor - A obsessão é uma enfermidade espiritual que compromete as criaturas a despeito do sexo, idade, condição social etc. O espírito em sua trajetória evolutiva armazena em sua memória integral, tanto as realizações louváveis quanto os desatinos cometidos em outras reencarnações. O mal praticado contra os semelhantes contribui para enfraquecer a própria estrutura perispiritual, tornando-a mais vulnerável ao assédio obsessivo. Além disso, o prejuízo imposto aos outros costuma fomentar inimizades duradouras que se arrastam por séculos, desde que, os espíritos envolvidos em contendas lamentáveis não despertem para o perdão mútuo. É assim que florescem os ódios viscerais consumados em forma de perseguições espirituais mútuas e aparentemente intermináveis.
O ódio e o sentimento abastardado de vingança desconhecem limites éticos, daí o motivo das obsessões desferidas contra crianças incapazes de esboçarem um gesto de autodefesa.
Em nossas reuniões mediúnicas assistenciais já identificamos casos de assédios dirigidos contra embriões no útero materno, tornando inviável o processo gestatório em decorrência dos abortos obsessivos. São eventos não diagnosticados pela Medicina e que permanecem sem o tratamento adequado. Quantas crianças acometidas de síndromes convulsivas constituem-se em verdadeiros desafios para os neurologistas incapazes de identificarem a causa real do processo.
Pois bem, após serem investigadas à luz do Espiritismo prático, mostram-se vítimas de terríveis artimanhas obsessivas articuladas pelos vingativos algozes desencarnados. Em certa ocasião recebemos lá no hospital espírita onde prestávamos concurso, uma criança acometida de crises repetidas de agitação psicomotora. Atirava-se ao chão, esperneava e gritava sem que nenhuma medida terapêutica a acalmasse.
Sugerimos então, uma investigação espiritual do tipo desobsessiva, iniciativa que se mostrou acertada e posteriormente coroada de pleno sucesso.
Tratava-se de severo quadro obsessivo.
Após o terceiro atendimento, o espírito vingativo rendeu-se aos reclamos evangélicos e consentiu em afastar-se para receber orientação e tratamento em hospital do astral. Alguns dias depois a criança mostrava-se bem mais calma e cooperativa. Logo, fica demonstrada a importância dos trabalhos desobsessivos habitualmente praticados nas Casas Espíritas. Cremos que dentro em breve, os tarefeiros da saúde sentir-se-ão curiosos em conhecer os detalhes relacionados com os chamados tratamentos espirituais. Quando isso acontecer, novos horizontes científicos serão descortinados e todos reconhecerão a importância dos aspectos morais da vida na consagração da saúde integral.

A escola espírita pode contribuir para o aperfeiçoamento do ensino em busca da educação integral?

Victor - Não há dúvida. A escola espírita é aquela que além de patrocinar a formação curricular básica, acrescenta os preceitos fundamentados na realidade da vida imortal; é aquela que desperta nas consciências infantis a importância de se cultivar os bons hábitos, o respeito ao próximo e o sentimento de fraternidade, da mesma forma como se procede nas aulas de evangelização patrocinadas pelas instituições espíritas. É papel da escola espírita desmistificar os dogmas religiosos que encobrem até hoje as verdades espirituais, ensinando os fundamentos da reencarnação e da lei de causa e efeito. A criança ilustrada à luz dos conhecimentos consoladores torna-se fator multiplicador de uma cultura de paz e atua na sociedade como instrumento modelador de um mundo melhor. A pedagogia espírita colabora para afirmar nos corações infantis a certeza de que a evolução espiritual depende unicamente do respeito incondicional às leis de justiça, amor e caridade. De acordo com os postulados espíritas o mais poderoso é aquele que cultiva a mansuetude e rejeita a violência; o mais inteligente é aquele que reconhece a supremacia da bondade Divina e recusa o cultivo do ódio e da vingança, e, o mais feliz é aquele que sabe compartilhar com os semelhantes em detrimento do egoísmo que avilta e infelicita a alma. A escola espírita propõe, enfim, a máxima “fora da caridade não há salvação”, afirmando que o caminho para a união dos povos é aquele exemplificado de maneira simples pelo Mestre Nazareno, O meigo governador planetário.


Fonte: Resenha Espírita, nº1,2 e 3


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
Janeiro 2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
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