*EVANGELHO ESSENCIAL 16/1*
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
*16 - NÃO
SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON*
Ninguém pode servir a
dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se afeiçoará a um e
desprezará o outro. Não podes servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (S.
LUCAS, cap. XVI, v. 13.)
Então, aproximou-se
dele um jovem e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para alcançar a vida
eterna? - Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é. Se queres
entrar na vida, guarde os mandamentos. - Que mandamentos? Perguntou-lhe o jovem.
Disse Jesus: Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não darás
testemunho falso. - Honra a teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti
mesmo. O moço lhe respondeu:
Tenho guardado todos
esses mandamentos desde que cheguei à mocidade. Que é o que ainda me falta?
-Disse Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dê aos pobres
e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me. Ouvindo essas palavras, o moço
se foi todo tristonho, porque possuía muitos bens. – Jesus disse então a seus
discípulos: Digo-lhes que é muito difícil um rico entrar no reino dos céus. -
Ainda uma vez lhes digo: É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma
agulha, do que entrar um rico no reino dos céus (1). (S. MATEUS, cap. XIX, vv.
16 a 24. - S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 18 a 25. - S. MARCOS, cap. X, vv. 17 a
25.)
*Parábola
dos talentos*
O Senhor age como um
homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores
e lhes entregou seus bens.
- Depois de dar cinco
talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade,
partiu imediatamente. - Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou
com aquele dinheiro e ganhou cinco outros. - O que recebera dois ganhou, do
mesmo modo, outros tantos. Mas o que recebera um cavou um buraco na terra e aí
escondeu o dinheiro de seu amo. - Passado longo tempo, o amo daqueles
servidores voltou e os chamou para prestar contas.
- Veio o que recebera
cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me
cinco talentos, aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. –Respondeu o
amo: Servidor bom e fiel, pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei
muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. - O que recebera dois
talentos apresentou-se a seu turno e disse: Senhor, entregaste-me dois talentos;
aqui estão, além desses, dois outros que ganhei. - O amo lhe respondeu: Bom e
fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras;
compartilha da alegria do teu senhor. - Veio em seguida o que recebeu apenas um
talento e disse:
Senhor, sei que és
homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por
isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o
que te pertence. – O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se
sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, devias pôr o meu
dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com
juros o que me pertence. -Tirem- lhe o talento que está com ele e deem-no ao
que tem dez talentos; - porque, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão
cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça
ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá
prantos e ranger de dentes. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 14 a 30.)
*Utilidade
providencial da riqueza.*
*Provas
da riqueza e da miséria*
Se a riqueza
constituísse obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se
poderia concluir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e
não segundo o espírito. Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um
instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, ideia contrária à razão. Pelos
arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que
exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria.
* * *
A riqueza é o supremo
excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que
prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem
que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a
sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e
faz-se insensível, egoísta e vão.
* * *
Mas, se a riqueza
torna difícil a jornada, não a torna impossível e não impede de ser um meio de
salvação para o que sabe usá-la , como certos venenos podem restituir a saúde,
se empregados com esta finalidade e discernimento.
* * *
Quando Jesus disse ao
moço que o perguntava sobre os meios de atingir a vida eterna: "Desfaze-te
de todos os teus bens e segue-me" não pretendeu estabelecer como princípio
absoluto que cada um deva desfazer-se do que possui e que a salvação só a esse
preço se consegue; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é um
obstáculo à salvação. Aquele moço considerava cumpridas suas obrigações porque observara
certos mandamentos e, no entanto, recusava-se à ideia de abandonar os bens de
que era dono. Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de
adquiri-la com sacrifício. O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva,
destinada a esclarecer o fundo do seu pensamento. Ele podia ser um homem
perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não
maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe.
Mas, não tinha a
verdadeira caridade; sua virtude não chegava até à renúncia em favor do
próximo. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio:
"Fora da caridade não há salvação".
* * *
Se a riqueza é causa
de muitos males, se acentua tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos
crimes, não é a ela que devemos culpar, mas ao homem, que dela abusa, como de
todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna nocivo o que lhe poderia ser de
maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo
terrestre. Se a riqueza somente males produzisse, Deus não a colocaria na
Terra.
Compete ao homem
fazê-la produzir o bem. Se não é uma causa direta de progresso moral, é
poderoso elemento de progresso intelectual.
* * *
O homem tem por
missão trabalhar pela melhoria material do planeta.
Cabe-lhe
desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a
sua extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce
incessantemente, necessário se faz aumentar a produção. Se a produção de um
país é insuficiente, será necessário buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações
entre os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar,
necessário sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas
mais rápidas as comunicações.
Para trabalhos que
são obra dos séculos, teve o homem de retirar os materiais até do interior da
terra; procurou na Ciência os meios de os executar com maior segurança e
rapidez. Mas, para fazê-lo, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a
riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses trabalhos impõem
lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que ele concentra, primeiro,
na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as
grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela
não haveria mais grandes trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem
pesquisas.
* * *
*Desigualdade
das riquezas*
A desigualdade das
riquezas é um dos problemas que inutilmente se procuram resolver, desde que se
considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por
que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito
simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e trabalhadores para
adquirir, nem sérios e previdentes para conservar.
* * *
A riqueza, repartida
com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; supondo-se
efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela
diversidade dos caracteres e das aptidões; supondo-a possível e durável, tendo
cada um somente com que viver, o resultado seria a destruição de todos os
grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da
Humanidade; admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o impulso
que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se
Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade
suficiente, de acordo com as necessidades.
* * *
Pergunta-se: por que
Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos?
Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o
livre-arbítrio, quis Ele que o homem chegasse, por experiência própria, a
distinguir o bem do mal e que a prática do bem resultasse de seus esforços e da
sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem
o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais.
A riqueza é um meio
de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de
ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva,
por isso incessantemente a desloca.
* * *
Cada um tem de
possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer
dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo
tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém
trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um
a possui por sua vez.
* * *
Assim, um que não a
tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez
não a tenha amanhã.
* * *
Há ricos e pobres,
porque sendo Deus justo, como é, a cada um determina trabalhar por sua vez.
* * *
A pobreza é, para os
que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os
outros, a prova da caridade e da abnegação.
* * *
É exato que, se o
homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição
dos bens da Terra; se não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao
contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se
equilibra com justiça. Carece o pobre de motivo para acusar a Providência, como
para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se abusam,
não será com decretos ou leis luxuosas que se remediará o mal. As leis podem, momentaneamente,
mudar o exterior, mas não conseguem mudar o coração;
* * *
A origem do mal
reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os
homens se regerem pela lei da caridade.
* * *
*segue*
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