*EVANGELHO ESSENCIAL 15*
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
*15 -
FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO*
Quando o filho do
homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no
trono de sua glória; - reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos
outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, - e colocará as ovelhas à
sua direita e os bodes à sua esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua
direita: vinde, benditos de meu Pai, tomem posse do reino que lhes foi
preparado desde o princípio do mundo; - porque, tive fome e me destes de comer;
tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; - estive nu e
me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e
te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? - Quando foi que te vimos
sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te
soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em
verdade lhes digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos
dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes. Dirá em seguida aos que
estiverem à sua esquerda: Afastem-se de mim, malditos; vão para o fogo eterno,
que foi preparado para o diabo e seus anjos; - porque, tive fome e não me deste
de comer, tive sede e não me deste de beber; precisei de teto e não me
agasalhaste; estive sem roupa e não me vestiste; estive doente e no cárcere e
não me visitaste. Também eles responderão: Senhor, quando foi que te vimos com
fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem
roupa, doente ou preso e não te assistimos? - Ele então lhes responderá: Em
verdade lhes digo: todas as vezes que faltaste com a assistência a um destes
mais pequenos, deixaste de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o
suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 31 a
46.)
Então, levantando-se,
disse-lhe um doutor da lei para o tentar: Mestre, que preciso fazer para
possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei?
Que é o que lês nela? - Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o
coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito,
e a teu próximo como a ti mesmo. - Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem;
faças isso e viverás. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a
Jesus: Quem é o meu próximo? - Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que
descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram,
cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. – Aconteceu em seguida
que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. –Um
levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente
adiante. - Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele
homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. - Aproximou-se dele, deitou-lhe
óleo e vinho nas feridas e as enfaixou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a
uma hospedaria e cuidou dele. - No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao
hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a
mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desses três te parece ter sido o
próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? - O doutor respondeu: Aquele
que usou de misericórdia para com ele. - Então vai, diz Jesus, e faz o mesmo.
(S. LUCAS, cap. X, vv. 25 a 37.)
*O de
que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano.*
Toda a moral de Jesus
se resume na caridade e na humildade, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e
ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, ele aponta essas duas virtudes como
sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados os pobres de
espírito, os humildes, porque deles é o reino dos céus;
* * *
Humildade e caridade,
eis o que não cessa Jesus de recomendar e de dá o exemplo. Orgulho e egoísmo, o
que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na
claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
* * *
No quadro que Jesus
traçou do juízo final, como em muitas outras coisas, deve-se separar o que é
apenas linguagem figurada, alegoria.
Para homens, como os
a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente
espirituais, tinha de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a
impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se
afastar muito das ideias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao futuro
a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não
podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do
quadro, há uma ideia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da
infelicidade que espera o mau.
* * *
Jesus não considera a
caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como condição
única. Se outras houvessem a serem preenchidas, ele as teria indicado.
*O
mandamento maior*
Mas, os fariseus,
tendo sabido que ele calara a boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que
era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: -Mestre, qual o
grande mandamento da lei?
- Jesus lhe
respondeu: Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma,
de todo o teu espírito. - Esse o maior e o primeiro mandamento. - E aqui está o
segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. -
Toda a lei e os profetas se encontram contidos nesses dois mandamentos. (S.
MATEUS, cap. XXII, vv. 34 a 40.)
Caridade e humildade,
tal a via única da salvação. Egoísmo e orgulho, a da perdição. Este ensinamento
se encontra formulado nestas precisas palavras: "Amarás a Deus de toda a
tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas estão
contidos nesses dois mandamentos." E, para que não haja equívoco sobre
a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: E aqui está o segundo
mandamento que é semelhante ao primeiro, isto é, “que não se pode
verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a
Deus”. Logo, tudo o que se faça contra o próximo é o mesmo que fazê-lo contra
Deus. Não podendo amar a Deus, sem praticar a caridade para com o próximo,
todos os deveres do homem se resumem neste ensinamento moral: *FORA DA
CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.*
* * *
*Necessidade
da caridade, segundo S. Paulo*
Ainda quando eu
falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não
tiver caridade, serei como o bronze que soa e um sino que toca; -ainda quando
tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse
perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse a fé possível, até o
ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. - E, quando
houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado
meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me
serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é
invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é
desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa
alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com
a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três
virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais
excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a
7 e 13.)
De tal modo
compreendeu Paulo, o apóstolo, essa grande verdade, que disse: Quando mesmo
eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que
penetrasse em todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao
ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas
três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca
assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao
alcance de todos: do ignorante, do sábio, do rico, do pobre, e independe de
qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a
não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do
coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
* * *
*Fora
da Igreja não há salvação. Fora da verdade não há salvação*
Enquanto a máxima - Fora
da caridade não há salvação – se apoia num princípio universal e abre a
todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade, o dogma - Fora da
Igreja, não há salvação – exclusivo e absoluto – se apoia, não na fé
fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões,
porém numa fé especial, em dogmas particulares. Longe de unir os filhos
de Deus, separa-os; em vez de estimulá-los ao amor de seus irmãos, alimenta e
aprova a irritação entre sectários dos diferentes cultos que reciprocamente se
consideram malditos na eternidade, embora sejam parentes e amigos esses
sectários. Desprezando a grande lei de igualdade perante o túmulo, ele os
afasta uns dos outros, até no cemitério.
* * *
A máxima - Fora da
caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e
da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e,
qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos
e oram uns pelos outros. Com o dogma - Fora da Igreja não há salvação,
reprovam-se energicamente e se perseguem reciprocamente, vivendo como inimigos;
o pai não pede pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde
que mutuamente se consideram condenados sem remissão. É um dogma essencialmente
contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.
* * *
Fora da verdade não
há salvação equivaleria ao Fora
da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porque nenhuma
seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode
vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhecimentos
incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias?
* * *
A verdade absoluta é
patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade
terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela
somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu
adiantamento.
* * *
Se Deus houvera feito
da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria
proferido uma sentença de banimento geral, ao passo que a caridade, mesmo na
sua mais ampla significação, podem todos praticá-la. O Espiritismo, de acordo
com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer
crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: *Fora do
Espiritismo não há salvação*; e, como não pretende ensinar ainda toda a
verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta
máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.
*INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS*
*Fora da
caridade não há salvação*
*Paulo,
o apóstolo –Paris,1860*
Meus filhos, na
máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos
dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra dessa bandeira eles
viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado encontrarão graças
diante do Senhor.
* * *
Nada exprime com mais
exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como
essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua
origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais
puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se desviará.
* * *
Dediquem-se, assim,
meus amigos, a compreender o sentido profundo e as consequências, a
descobrir-lhe, por si mesmos, todas as suas aplicações.
* * *
Submetam todas as
suas ações ao controle da caridade e a consciência lhes responderá. Não só ela
evitará que pratiquem o mal, como também fará que pratiquem o bem, porque uma
virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa.
* * *
Para fazer-se o bem,
é preciso sempre a ação da vontade; para não praticar o mal, bastam
frequentemente a inércia e a indiferença.
* * *
Meus amigos,
agradeçam a Deus haver permitido que pudessem desfrutar da luz do Espiritismo.
Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-lhes a
compreender os ensinos do Cristo, ela os faz melhores cristãos. Esforcem-se
para que os seus irmãos, observando-os, sejam induzidos a reconhecer que
verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que
todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja a
crença a que pertençam.
*COMENTÁRIO*
*FORA
DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO*
De todo o ensinamento
que Jesus nos deixou precisamos dar a este muita atenção. E todos nós ficamos
alardeando a nossa caridade, a nossa atividade junto às pessoas carentes,
Espíritos como nós em jornada de aprendizado e evolução. Sabemos todos que não
somos a perfeição. Sabemos que estamos nesta Terra para aprendizagem, e assim
como alunos nas escolas, possuímos além dos pontos falhos, virtudes a serem
adquiridas. Podemos estar aprendendo, mas temos também o que oferecer em
aprendizado. E a pobreza não é falha, mas antes prova a que nos submetemos,
para teste de nosso aprendizado, ou para dobrar nosso orgulho. Assim como na
escola não cabe ao professor preconizar o futuro do aluno, mas dar a ele todo o
possível para que seja bem sucedido, pelo menos não negando o conhecimento, e
cobrando dele o estudo sério, não cabe a nós seres humanos julgar as pessoas,
espíritos encarnados, nas suas dificuldades, mas oferecer-lhes o que de melhor
temos. Possibilitando-lhes enfrentar as dificuldades com sustendo material,
espiritual, e acima de tudo, com muito AMOR.
Sim, amor, para damos
às pessoas em todos os momentos, especialmente em situação adversa na matéria,
e até mesmo quando impossibilitadas de enfrentar os seus obstáculos, seja pela
fraqueza material, seja pela fraqueza de Espírito, se não tivermos amor, nada
mais nada menos estaremos fazendo do que transferir aquilo que não é nossa
propriedade mas, devemos nos lembrar que na Terra somos todos usufrutuários da
natureza. E tudo o de que encontramos aqui, deixaremos ao partir, e como tudo
aqui é conquista do Espírito, nada será transferível por herança. E, todos
temos algum exemplo, pessoas de nosso meio que depois de desencarnados os seus
pais, perderam toda a fortuna, pois não lhes cabendo direito da conquista,
então perdem-na. Assim, devemos como na passagem evangélica muito conhecida
acima, nos preocupar com a partilha dos nossos recursos, sermos solidários.
Fazermos o benefício sem alarde e mesmo sem interesse outro que não o de poder
servir. Tudo o que fizermos a um dos que necessitam, estaremos fazendo a nós
mesmos, pois já pararam para pensar que somos viajores da eternidade e que
precisamos experimentar de todos os obstáculos possíveis para que nos tornemos
mais dóceis, mais indulgentes, mais fraternos? Caridade e humildade, único
caminho para a alegria e felicidade permanente, egoísmo e orgulho, o caminho
mais curto para a dor e sofrimento. Reflitamos muito sobre esta questão, pois
seremos avaliados pelas nossas obras e assim como procedermos ao nosso próximo,
seremos recebidos pelos mesmos. Ou seja, se com amor e carinho, e acima de tudo
solidários, influxos de carinho e amor nos envolverão pelas preces em
agradecimento aos seus benfeitores, do contrário, poderemos colher pensamentos
e atitudes vingativos, a indiferença e o frio da solidão.
Quanto mais fazemos
aos que nos rodeiam felizes, mais sentimos felicidade e paz íntimas.
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