sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

NL03-12 - LIVRO NO MUNDO MAIOR - ESTRANHA ENFERMIDADE

nl03_12 LIVRO NO MUNDO MAIOR_Estranha enfermidade

Neste capítulo, André Luiz acompanha Calderaro a presença de um irmão que se encontra no leito, vítima de uma doença mental.

AO TEXTO

"Logo após, o Assistente recomendou-me examinar a esfera mental do visitado.
Auscultei-lhe o íntimo, ficando aterrado com as inquietudes que lhe povoavam o ser. O cérebro apresentava anomalias estranhas. Toda a face inferior mostrava manchas sombrias. Os distúrbios eram visíveis. Calderaro apresentara-me Fabrício, classificando-o como esquizofrênico; mas não estaríamos, ali, perante um caso de neurastenia cérebro-cardíaca?

O instrutor ouviu-me pacientemente e observou: 

- Diagnostico exato, no aspecto em que nosso amigo se apresenta hoje. A esquizofrenia, contudo, originando-se de sutis perturbações do organismo perispirítico, traduz-se no vaso físico por surpreendente conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas. No momento, temos aqui a doença de Krishader com todos as características especiais.

Lancei mais profundamente a sonda de minha observação sobre os quadros interiores do enfermo e percebi-lhe imagens torturantes na tela da memória.

Ensimesmado, Fabrício não se dava conta do que ocorria no plano externo. Braços imóveis, olhos parados, mantinha-se distante das sugestões ambientes; no íntimo, todavia, a zona mental semelhava-se a fornalha ardente.

A imaginação superexcitada detinha-se a ouvir o passado... Recordava-lhe a figura de um velhinho agonizante.Escutava-lhe as palavras da última hora do corpo, a recomendar-lhe aos cuidados três jovens presentes também ali, na paisagem de suas reminiscências. O moribundo devia ser-lhe o genitor, e os rapazes, irmãos. Conversavam, entre si, lacrimosos. De repente, modificam-se-lhe as lembranças. O ancião e os jovens pareciam revoltados contra ele, acusando-o. Nomeavam-no com descaridosas designações..

O doente ouvia as vozes internas, ansioso, amargurado. Desejava desfazer-se do pretérito, pagaria pelo esquecimento qualquer preço, ansiava de fugir a si próprio, mas em vão: sempre as mesmas recordações atrozes vergastando-lhe a consciência.

Verificava-lhe eu os estragos orgânicos, resultantes do uso intensivo de analgésicos. Aquele homem deveria estar duelando consigo mesmo, desde muitos anos.
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A esposa regressou ao interior da casa enxugando os olhos, enquanto Calderaro me esclarecia comovido:

- Está no limiar da loucura, e ainda não enveredou francamente pelo terreno da alienação mental, graças à dedicação de velha parenta desencarnada que o assiste, vigilante.
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Ante o neurastênico, mais calmo agora, narrou com serenidade:

- Nosso irmão enfermo teve a infelicidade de apropriar-se indébitamente de grande herança de pois de haver prometido ao genitor moribundo velar pelos irmãos mais novos, na presença destes; ao se sentir, porém dentro da situação, desamparou os manos e expulsou-os do lar, valendo-se de rábulas bem remunerados, desses que, sem escrúpulos, vivem de inquinar os textos legais. 

Por mais enérgicas e convincentes as reclamações arrazoadas, por mais comovedores os apelos à amizade fraterna, manteve-se ele em clamorosa surdez, arrojando os irmãos à penúria e à dificuldade de toda a sorte. Dois deles morreram num sanatório em catres da indigência, minados pela tuberculose que os surpreendeu em excessivas tarefas noturnas; e o outro desencarnou em míseras condições de infortúnio, relegado ao abandono, antes dos trintas anos, presa de profunda avitaminose, consequente da subalimentação a que fora compelido. Tudo isso nosso desditoso amigo conseguiu fazer, escapando à justiça terrena; entretanto, não pôde eliminar dos escaninhos da consciência os resquícios do mal praticado; os remanescentes do crime são guardados em sua organização mental como carvões em paisagem denegrida, após incêndio devorador; e esses carvões convertem-se em brasas vivas, sempre que excitados pelo sopro das recordações.
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O tempo cansou-lhe o aparelhos fisiológico e consumiu-lhe a maioria das ilusões; pouco a pouco, encontrou-se a si mesmo; na viagem de volta ao próprio eu, viu-se, porém a sós com as lembranças de que não conseguira escoimar-se
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Impossível era concentrar-se no próprio ser, sem ouvir o pai e os irmãos, acusando-o, exprobrando-lhe a vileza....

Nesse estado espiritual, interessou-se tardiamente pelo destio dos irmãos. As informações colhidas não lhe deixavam margem ao pagamento imediato, haviam todos partido, precedendo-o na grande jornada ao túmulo . Desde então, verificando a impraticabilidade de rápida retificação do tortuoso destino, o infeliz fixou-se nas zonas mais baixas do ser....

Sentindo-se incriminado no tribunal da própria consciência, começou a ver perseguidores em toda a parte. Adquiriu, assim, fobias lamentáveis. Para ele, todos os pratos estão envenenado. Desconfia de quase todos os familiares e não tolera as antigas relações.
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Calando-se o Assistente, ousei interrogar:

- Mas há esperança de reequilíbrio para breve?

 - Absolutamente não - respondeu o interpelado, de maneira significativa -; no caso dele funcionariam em vão as terapêuticas em uso. O espírito delinquente pode receber os mais variados gêneros de colaboração, mas será imperiosamente o médico de si mesmo. A Justiça Divina exerce invariável ação, embora os homens não a identifiquem no mecanismo de suas relações ordinárias. Os criminosos podem, por muito tempo, escapar ao corretivo da organização judiciária do mundo; no entanto, mais cedo ou mais tarde, vaguearão, perante os seus irmãos em humanidade, em baixo terreno espiritual, representado no quadro de aflições punitivas. Para os familiares e amigos, Fabricio é um esquizofrênico, incapaz de resistir às aplicações do choque inslínico em virtude do coração frágil e cansado; todavia, para nós é um companheiro acidentado na ambição inferior, curtindo amargos resultados de seus propósitos de dominar egoísticamente na vida.

Interrompendo-se o orientador, dei guarida a interrogações naturais no campo íntimo.

Se o doente não oferecia perspectivas de melhoras substanciais, qual o objetivo de nossa assistência? porque demoramos à frente de um caso insolúvel, qual aquele, pela impossibilidade de próximo reencontro entre o criminoso e suas vítimas?

Caderaro não me deixou sem resposta.

- Estamos aqui - elucidou, atencioso - a fim de proporcionar-lhe morte digna. 

Não chegará a enlouquecer em definitivo. Com o nosso concurso fraterno, desencarnará antes do eclipse total da razão.
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- Fabrício desposou uma criatura, por todos os títulos credora do amparo celestial, e essa mulher quase sublime deu-lhe três filhos, aos quais ele se consagrou nobremente, preparando-os para elevado ministério social. São eles, presentemente, dois professores e um médico dedicados ao ideal superior de servir ao bem coletivo. ......... Pelo serviço que prestou à esposa e aos filhos, recebe do Alto o socorro de agora, de maneira a transferir residência, por imposição da morte, preparado para o futuro reajustamento. As preces da companheira e dos filhos garantem-lhe uma <> próxima, para a qual vamos organizando as suas energias e habituando pari passu a família a permanecer em missão ativa no bem sem a presença material dele.
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Considerando, no entanto, o decesso, em breve dias, como prosseguirá o processo de resgate do nosso amigo?

- A liquidação já começou - redarguiu o instrutor, sereno.
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Nesse mesmo instante, o enfermo acionou a campainha à cabeceira. A esposa atendeu, à pressa. Encontrou-o melhor e sorriu, feliz.

O velho, mais tranquilo, rogou:

- Inês, posso ver o Fabricinho?
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Após detido exame, Calderaro apontou para a criança e esclareceu:

- Este menino é o ex-pai de Fabrício, que volta ao convício do filho deliquente pelas portas benditas da reencarnação. É o único neto do enfermo e, mais tarde, assumirá a direção dos patrimônios materiais da família, bens que inicialmente lhes pertenciam.

A Lei jamais dorme.

QUESTÕES PROPOSTA PARA ESTUDO 

1 - Como e onde se origina um conjunto de moléstica variáveis e indeterminadas, que sofremos e na qual se originou a esquizofrenia de Fabrício?


2 - Como Fabrício manifestou seu sentimento de culpa?


3 - O que originou a enfermidade de Fabrício? 


4 - O que fez com que Fabricio fosse socorrido pela espiritualidade e que lhe garantiu uma "boa morte"?


5 - Como iniciou o resgate de Fabricio com a Lei que jamais morre?

Conclusão:

No capítulo presente, André Luiz nos narra o caso de um paciente em estado de grave perturbação mental, angustiado pelas lembranças de um passado de erro, em que a ambição pela conquista de bens materiais o levou a trair a confiança de seus familiares.

Fabrício, o paciente assistido pelos benfeitores,  no  passado,  por  ocasião  da desencarnação de seu velho pai, recebeu deste a tarefa de zelar por seus  três irmãos mais novos, que dele dependiam.  Ao contrário do que ditava a boa conduta moral, Fabrício aproveitou-se da situação e espoliou seus irmãos, tirando-lhes tudo e os arremessando à penúria material.

Sem  recursos,  todos  tiveram  que  se  entregar  a  uma  luta  sacrificante  pela sobrevivência, acarretando-lhes graves enfermidades físicas que os levariam  à precoce desencarnação.  Agora, enfraquecido seu organismo físico, o recalcitrante foi dominado pelas recordações de seu reprovável comportamento,  em  que  a presença acusatória do pai e dos irmãos não lhe sai da memória, causando-lhe séria distonia mental.

                           
                          Questões propostas para estudo 

1 - Como e onde se origina um conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas,  que sofremos e na qual se originou a esquizofrenia de Fabrício?

 Segundo o assistente Calderaro,  que dirigia o trabalho de socorro espiritual,  as recordações do procedimento em desacordo com as Leis Naturais fizeram o paciente experimentar torturantes remorsos e preocupações, intoxicando os centros vitais com a emissão de energias corruptoras.  Em conseqüência, seu perispírito foi atingido por essas perturbações, repassando o dano sofrido, como sempre acontece, ao organismo físico, por intermédio desse conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas.  

 2 - Como Fabrício manifestou seu sentimento de culpa?

 Na "viagem de volta ao seu próprio eu", Fabrício viu-se a sós com suas lembranças. 

Buscava a prece, mas era surpreendido por advertências no sentido de imediata correção da falta cometida.  Procurou reparar o erro, mas foi informado que todos os irmãos  já haviam desencarnado.  Por fim, somente lhe restou manifestar seu sentimento de culpa ao neto, seu pai que retornava pela misericórdia da reencarnação, rogando-lhe que orasse a Deus por ele, para que fosse perdoado pelos desatinos do passado.
  
3 - O que originou a enfermidade de Fabrício? 

 As lesões causadas a seu perispírito, que viriam se somatizar  em  seu  organismo físico, originaram-se de sua auto-condenação.  A sua consciência, imputando-lhe culpa pelo comportamento desumano para com os seus, funcionou como fonte geradora da desorganização perispiritual que causaram a enfermidade física.

 4 - O que fez com que Fabrício fosse socorrido pela espiritualidade e que lhe garantiu uma "boa morte"?

 O socorro espiritual deveu-se ao merecimento da família e,  também,  do  próprio enfermo, que, apesar dos erros do passado, foi um dedicado marido e pai. Para evitar que sua enfermidade viesse causar perturbação à família e ainda mais sofrimento a Fabrício,  foi  que  a  espiritualidade  superior  decidiu  intervir,  preparando-o  para  a desencarnação, através da organização de suas energias e a família, para prosseguir em sua romagem sem a presença dele.

 5 - Como iniciou o resgate de Fabrício com a Lei que jamais morre?

 O resgate de Fabrício iniciou-se com o retorno ao ambiente familiar de seu pai, cuja confiança  traiu,  agora  como  seu  único  neto.  Nessa  condição,  retomará  os  bens patrimoniais que um dia lhe pertenceram e dos quais Fabrício se apropriou de maneira nada honesta.  Prossegue  com  a  enfermidade  que  veio  lhe  trazer  a  dor  reparação, ocasionando a sua desencarnação e que, como se viu, teve origem em seus próprios erros.

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