EDUCAÇÃO
17 A
ocorrência de fatos relacionados à mediunidade na infância é um tema interessante.
Visões, obsessão, desenvolvimento da
mediunidade serão abordados nesta seção.
O entrevistado é o Dr. Vitor Ronaldo Costa, nascido em
Natal (RN),
Casado, pai de quatro filhos e avô de vários
netos. Formou-se em Medicina e exerceu a clínica médica homeopática em Porto
Alegre (RS) e em Brasília (DF), onde fixou residência e se aposentou da
profissão.
Desenvolve múltiplas atividades no campo da
divulgação espírita. É autor de várias obras doutrinárias, palestrante reconhecido
e colaborador de inúmeros periódicos espíritas. Atua há cerca de trinta anos em
reuniões mediúnicas desobsessivas praticadas em hospitais espíritas, participa
de voluntário assistencial e desenvolve pesquisas nos vastos campos da
mediunidade e da obsessão espiritual, procurando conciliar os propósitos da medicina
clássica com os aspectos científicos do Espiritismo.
O que significa a fase
infantil para o espírito reencarnante?
Vitor - Esta pergunta, pela sua complexidade e alcance,
mereceria uma abordagem extensa sob vários ângulos, com a finalidade de melhor
elaborarmos reflexões. No entanto, por exigüidade de espaço, tentaremos resumir
o que pensamos a respeito. Inicialmente diríamos que a infância representa um
processo lento e progressivo de adaptação da alma humana à cada realidade
reencarnatória. Como se imagina, o mergulho na carne, de certa forma, tolhe
temporariamente as amplas possibilidades do espírito imortal. O esquecimento
das vidas pretéritas, aí incluídos os relacionamentos anteriores, o aprendizado
intelectivo, as experiências na pobreza ou na riqueza, a prática deliberada do
bem e do mal, tudo, permanece temporariamente encoberto pelo véu do
esquecimento, não obstante as tendências instintivas se manifestarem desde
cedo, como a denunciar a existência de todo um patrimônio mento-afetivo
resguardado no psiquismo de profundidade, pronto a emergir e a se manifestar no
decorrer da existência. O período de infância equivale a um tempo de repouso
para o espírito. A própria imaturidade do sistema nervoso propicia um despertar
gradativo das potencialidades anímicas. A inteligência e o senso de moralidade,
como atributos do espírito, ganham amplitude à medida que o aparelho encefálico
amadurece e se submete ao influxo dos fatores educativos e experiências
emocionais.
Apesar da Humanidade atual ainda resguardar
inúmeras imperfeições, temos na conta de medida providencial da Divindade, a
existência do período de infância a impor ao espírito um certo obstáculo à
plena manifestação de sua potencialidade negativa.
E seria um verdadeiro tormento se assim não
acontecesse, pois o próprio esforço educacional proporcionado pelos pais,
professores e religiosos, perderia a sua razão de Ser. Além disso, não se pode
olvidar que na infância o Ser reencarnado mostra-se dependente de apoio,
carinho, atenção e amor, o que o torna, sem dúvida, bem mais dócil e receptivo
ao processo instrutivo. É um momento significativo e especial da existência,
período a ser aproveitado da melhor maneira pelos adultos encarregados da
transmissão dos valores morais a serem incutidos na mente infantil adequada e
da educação formal dispensada pela escola e demais segmentos responsáveis da sociedade,
resultará em graves prejuízos para a alma reencarnada, já que na fase infantil,
as experiências existenciais exercerão forte influência, boa ou má, no
comportamento futuro do indivíduo. No nosso modo de ver, a reencarnação é um
desafio evolutivo, visto que, ninguém retorna ao Mundo para involuir ou
permanecer estacionado na senda do progresso espiritual. A oportunidade
reencarnatória sempre visa o avanço, a melhoria do Ser, a supressão paulatina das
más tendências e o desenvolvimento pleno das virtudes intrínsecas.
O período infantil torna os espíritos maleáveis
e acessíveis aos aconselhamentos, aos bons exemplos e às informações culturais
saudáveis e enriquecidas de conteúdos instrutivos. A estruturação da
personalidade depende essencialmente das experiências contabilizadas nessa fase
da vida.
Desde que o relacionamento familiar se processe
em clima de harmonia, civilidade e, que o processo educativo se estruture em
bases edificantes é possível esperar que a criança reprima as más tendências e
se desenvolva adequadamente, em especial, se a instrução pedagógica estiver
coadjuvada por uma boa formação religiosa.
As crianças têm mais
facilidade de ver e de se comunicar com os espíritos desencarnados?
Vitor - Sim. Eis uma questão de grande importância,
pois a possibilidade de crianças contatarem o mundo invisível é muito mais
provável do que se pode imaginar. Como se sabe, a mediunidade é um apanágio dos
humanos, faz-se presente em todos, em graus variados. Os médiuns ostensivos são
aqueles que contatam diretamente os espíritos por meio de faculdades conhecidas
da maioria, entre elas, a vidência, a mediunidade auditiva, a psicografia e a
psicofonia, para citar as mais comuns. No adulto, a mediunidade decorre de uma
predisposição orgânica específica para determinada faculdade.
Todavia, a criança apresenta certa
predisposição psicofisiológica muito especial, porquanto condizente com a fase inicial
do processo encarnatório. Diríamos tratar-se da condição responsável pelo
desencadeamento dos mecanismos mediúnicos sutis, nem sempre suspeitados pelos
genitores. Tal fenômeno se deve ao fato de o processo reencarnatório só se
achar concluído em torno dos sete anos de idade, momento em que as expansões
perispirítuais aderem em definitivo a todo o cosmo celular orgânico, especialmente
às células nervosas amadurecidas nesta faixa etária.
Assim, até que a reencarnação se consolide, ocorre
uma espécie de semidesdobramento, o perispírito encontra-se levemente
desacoplado do campo físico, condição capaz de ampliar a capacidade perceptiva
e de criar verdadeiras brechas de conexão com a dimensão astral. Isto explica
os casos de vidência mediúnica tão identificados no decorrer da etapa infantil.
Como os pais podem
identificar sintomas de mediunidade em seus filhos ainda pequenos,
diferenciando-os do comportamento normal infantil?
Vitor - Na prática, pais e educadores fazem referências
aos diálogos “imaginários” que se desenrolam ao longo dessa faixa etária.
Porém, o desconhecimento das filigramas mediúnicas comuns à infância colabora
para que o critério da imaginação prevaleça sobre o mediúnico, falseando um
pouco a realidade dos fatos. Algumas crianças são capazes de conversar horas
com seus amiguinhos invisíveis, diálogos tão espontâneos quanto criativos, como
se de fato estivessem interagindo com encarnados.
Geralmente tais fenômenos não trazem
repercussões negativas, pois a mediunidade natural desabrochada
espontaneamente, costuma se caracterizar pelo processo de vidência, tornando-se
ocorrência comum, despida de prejuízos para o psiquismo infantil.
É prudente desenvolver a
faculdade mediúnica em crianças?
Vitor - O bom senso recomenda não incentivar o
desenvolvimento de mediunidade em crianças, a exemplo da psicofonia e
psicografia, pois haveria a possibilidade de acontecer uma sobrecarga do
sistema nervoso, situação capaz de levá-la a um processo de exaustão.
Além disso, poderiam acontecer repercussões
negativas sobre o campo mental em decorrência de possíveis obsessões
espirituais, tal qual acontece com alguns médiuns adultos.
Se na fase adulta, o médium ostensivo, às
vezes, enfrenta dificuldades para manter o seu próprio equilíbrio, imaginem uma
criança ainda desprovida de conhecimento doutrinário e maturidade suficiente
para encarar com responsabilidade tão significativo mandato.
Todavia, a faculdade de vidência que naturalmente
se observa nas crianças não requer maiores cuidados, pois costuma desaparecer
após os sete anos de idade sem deixar seqüelas orgânicas ou psíquicas.
Então existe mesmo a
possibilidade de ocorrência de processos obsessivos na infância? Como
tratá-los?
Vitor - A obsessão é uma enfermidade espiritual que
compromete as criaturas a despeito do sexo, idade, condição social etc. O
espírito em sua trajetória evolutiva armazena em sua memória integral, tanto as
realizações louváveis quanto os desatinos cometidos em outras reencarnações. O
mal praticado contra os semelhantes contribui para enfraquecer a própria
estrutura perispiritual, tornando-a mais vulnerável ao assédio obsessivo. Além
disso, o prejuízo imposto aos outros costuma fomentar inimizades duradouras que
se arrastam por séculos, desde que, os espíritos envolvidos em contendas lamentáveis
não despertem para o perdão mútuo. É assim que florescem os ódios viscerais
consumados em forma de perseguições espirituais mútuas e aparentemente
intermináveis.
O ódio e o sentimento abastardado de vingança
desconhecem limites éticos, daí o motivo das obsessões desferidas contra
crianças incapazes de esboçarem um gesto de autodefesa.
Em nossas reuniões mediúnicas assistenciais já
identificamos casos de assédios dirigidos contra embriões no útero materno,
tornando inviável o processo gestatório em decorrência dos abortos obsessivos.
São eventos não diagnosticados pela Medicina e que permanecem sem o tratamento adequado.
Quantas crianças acometidas de síndromes convulsivas constituem-se em
verdadeiros desafios para os neurologistas incapazes de identificarem a causa
real do processo.
Pois bem, após serem investigadas à luz do
Espiritismo prático, mostram-se vítimas de terríveis artimanhas obsessivas
articuladas pelos vingativos algozes desencarnados. Em certa ocasião recebemos
lá no hospital espírita onde prestávamos concurso, uma criança acometida de
crises repetidas de agitação psicomotora. Atirava-se ao chão, esperneava e
gritava sem que nenhuma medida terapêutica a acalmasse.
Sugerimos então, uma investigação espiritual do
tipo desobsessiva, iniciativa que se mostrou acertada e posteriormente coroada
de pleno sucesso.
Tratava-se de severo quadro obsessivo.
Após o terceiro atendimento, o espírito vingativo
rendeu-se aos reclamos evangélicos e consentiu em afastar-se para receber
orientação e tratamento em hospital do astral. Alguns dias depois a criança
mostrava-se bem mais calma e cooperativa. Logo, fica demonstrada a importância
dos trabalhos desobsessivos habitualmente praticados nas Casas Espíritas.
Cremos que dentro em breve, os tarefeiros da saúde sentir-se-ão curiosos em
conhecer os detalhes relacionados com os chamados tratamentos espirituais.
Quando isso acontecer, novos horizontes científicos serão descortinados e todos
reconhecerão a importância dos aspectos morais da vida na consagração da saúde
integral.
A escola espírita pode
contribuir para o aperfeiçoamento do ensino em busca da educação integral?
Victor - Não há dúvida. A escola espírita é aquela que
além de patrocinar a formação curricular básica, acrescenta os preceitos
fundamentados na realidade da vida imortal; é aquela que desperta nas
consciências infantis a importância de se cultivar os bons hábitos, o respeito
ao próximo e o sentimento de fraternidade, da mesma forma como se procede nas
aulas de evangelização patrocinadas pelas instituições espíritas. É papel da
escola espírita desmistificar os dogmas religiosos que encobrem até hoje as
verdades espirituais, ensinando os fundamentos da reencarnação e da lei de
causa e efeito. A criança ilustrada à luz dos conhecimentos consoladores
torna-se fator multiplicador de uma cultura de paz e atua na sociedade como
instrumento modelador de um mundo melhor. A pedagogia espírita colabora para
afirmar nos corações infantis a certeza de que a evolução espiritual depende
unicamente do respeito incondicional às leis de justiça, amor e caridade. De
acordo com os postulados espíritas o mais poderoso é aquele que
cultiva a mansuetude e rejeita a violência; o mais inteligente é aquele que reconhece a supremacia da bondade Divina e recusa o
cultivo do ódio e da vingança, e, o mais feliz é aquele que sabe
compartilhar com os semelhantes em detrimento do egoísmo que avilta e
infelicita a alma. A escola espírita propõe, enfim, a máxima “fora da caridade não há salvação”, afirmando que o caminho para a união dos povos é aquele exemplificado
de maneira simples pelo Mestre Nazareno, O meigo governador planetário.
Fonte: Resenha Espírita, nº1,2 e 3
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA
ESPÍRITA MENSAL
ANO
XXX Nº351
Janeiro
2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
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