quinta-feira, 8 de março de 2012

Sobre a evolução das religiões, ou como Kardec chegou ao Espiritismo


(1ª Parte)

AIGLON FASOLO
aiglon@nemora.com.br
 Londrina, Paraná (Brasil)

Os persas - Na Pérsia aparecem claramente, pela primeira vez na história, alguns fatos característicos. Primeiro, funda-se uma religião. Segundo, é fundada por um homem. E, por último, é fundada sobre uma idéia.
Já se haviam produzido no mundo fatos semelhantes, claro.
A tentativa de Aknaton, no Egito, na 18ª dinastia, é um exemplo.
Porém, Aknaton fracassou; e realmente sua idéia parecia mais política que religiosa, como era comum no Egito. Na Pérsia, no entanto, é onde encontramos pela primeira vez, com toda a precisão, uma nova religião trazida por um homem, Zoroastro, e uma idéia, a idéia do bem e do mal como princípio essencial desta religião.
As religiões do Egito e da Mesopotâmia não haviam sido realmente fundadas; haviam crescido gradualmente: os deuses estavam ali, ao redor dos homens, não se sabia desde quando, e não se tinha mais que aceitá-los. Como fundar uma religião? Todos os homens em todos os países conhecidos tinham seus deuses. Os deuses de outros países também podiam ser acessados, era normal. Era comum dizer-se quando em país estranho ao se cumprimentar uma pessoa: “e teu deus será meu deus”.
Porém, chega Zoroastro e diz: “Não, não existe a não ser um Deus, e seu adversário. Outros deuses não são mais que espíritos subordinados, não deuses. Este Deus, Ormuz (Ahura Mazda, em persa), se revelou a mim, Zoroastro. Este Deus dá ao homem livrearbítrio e o coloca perante uma escolha: o mundo está cheio de mentiras, de espíritos maus que o tentam; o homem deve seguir a Ormuz e à verdade”.
Qual a base dessa escolha? O princípio do bem. Os deuses egípcios e mesopotâmios, em constante luta entre si, praticavam uma justiça muito peculiar, de favorecimento a uns em detrimento de outros. A justiça não fazia parte importante de suas doutrinas.
O pensamento de Zoroastro
- Com Zoroastro as coisas serão diferentes. Ele proclama que Ormuz é o bem, só deseja o bem do homem, e luta contra o mal. Esta idéia é o coração da nova religião, e o mundo inteiro será reorganizado ao redor dessa idéia.
E o homem não se deterá só aí. Aparecerão novos fundadores de religiões, que porão em vigência novas idéias. Jesus fundará uma religião baseada na idéia do amor, Buda, na idéia do sofrimento, Maomé, em um plano menos evoluído, na idéia da unidade de Deus.
Dali em diante, a luta entre as idéias claras e razoáveis: o amor, o bem, a piedade, a caridade, contra as mitologias do mundo primitivo, é o que encherá toda a história da humanidade.
Zoroastro, de acordo com Clemen, um dos maiores estudiosos da matéria, teria vivido aproximadamente 1.000 anos antes de Cristo. Seus ensinamentos foram perpetuados nos primeiros capítulos do Zendavesta, a bíblia do Zoroastrismo. Esses capítulos, chamados Gatha, são o equivalente ao Pentateuco judeu. Outros capítulos foram sendo acrescidos posteriormente.
O que diz Zoroastro? Dois princípios são a origem das coisas: O Bem e o Mal. O bem é Deus, Ormuz, o mal é o que os Gatha chamam de “O mentiroso”, Arimã, a mentira. Ormuz fez o mundo bom, Arimã porém introduziu o mal no mundo.
Vejam alguns excertos do Gatha:
“Agora quero proclamar, ante aqueles que queiram ouvir, estas coisas que todo homem sábio deve recordar, ao cantar hinos de louvor a Ormuz, e fazer orações ao bom pensamento e à felicidade que vem com as luzes celestes e só pode ser vista por aquele que pensa com sabedoria.”
A eterna luta entre o bem e o mal – Eis outros excertos:
“Escutai com vossos ouvidos tudo o que é o bem; cada homem deve decidir por si mesmo, antes da consumação final, qual será sua escolha. Porque os dois espíritos primordiais, que estarão à sua frente, serão o Bem e o Mal. Os justos terão escolhido entre os dois, e terão escolhido bem. Porém, os insensatos não terão sabido escolher. E quando esses dois espíritos voltarem a se encontrar, na origem, estabelecerão a vida e a não-vida. E ao fim de todas as coisas, a má existência será para o que seguiu a mentira. O melhor pensamento será para aqueles que seguiram o caminho do bem”.
“O espírito santíssimo escolhe o bem, e o imitam aqueles que querem agradar a Ormuz, por meio de boas ações. Os demônios escolheram mal entre eles, pois a loucura os dominou enquanto deliberavam, e se decidiram pelo mau pensamento. Então se utilizaram da violência para debilitar o mundo dos homens.
“Oh! mortais, se obedecerdes aos mandamentos de Ormuz, que ordena a felicidade e o sofrimento, o castigo longo dos mentirosos e maus, a bênção dos bons, tereis a felicidade eterna!”
Ormuz tem seis ministros, que são realmente suas seis funções: o bom pensamento, a melhor virtude, o reino desejado, o abandono generoso (a caridade), a saúde e a imortalidade.
Ormuz é o verdadeiro Deus porque antes de tudo tem a superioridade moral e metafísica de ser o bem, e também porque no fim dos tempos o mal será definitivamente vencido.
O Mal somente se impõe pela mentira; os espíritos que escolheram o mal, o fizeram por terem perdido a cabeça, e ao final, quando o mal for definitivamente vencido todos terão a divina recompensa.
O maniqueísmo, fundado por Manés, foi uma das religiões que se basearam no princípio da luta do bem contra o mal, que foi criada pelo zoroastrismo mas repudiada pelos seguidores de Zoroastro, por igualar a força dos dois, anátema para os seguidores de Zoroastro. Um conhecido seguidor de Manés foi Agostinho de Hipona, Santo Agostinho, em sua juventude.
(No próximo artigo falaremos sobre a Cabala judaico-cristã.)

O IMORTAL
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Ano 53 Nº 624 Fevereiro de 2006
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